Ter tempo para viver, ser pessoa, ser amigo, ser associativista, não é, nos dias de hoje, cheios de incerteza e inquietude, de agitação e de sonhos estagnados, caminho tranquilo, afigurando-se bastante complexo.
Faço fisioterapia, depois de um dia no gabinete onde tento ser útil à Comunidade. E procuro "descansar" de vários anos sucessivos, aprofundando conhecimentos, em cursos universitários.
Tenho reuniões da Aldraba, de cuja direcção sou vice-presidente, para lá daquelas em que discutimos e decidimos, no colectivo, o funcionamento da associação, dita do espaço e património popular. Nos últimos dias, lançámos a revista nº 11, na Casa do Alentejo, seguida do jantar dos sete anos da fundação estatutária. Esta semana eu e o presidente da direcção tivemos uma frutuosa conversa com o presidente da Sociedade Musical Ordem e Progresso, para a realização de iniciativas conjuntas, em prol do património, da memória, da cultura. Também estive no Mirantense, celebrando o início das comemorações dos seus 77 anos, aqui em representação da CML. E sobrou uma tarde (ontem) para participar num delicioso convívio, com a fisioterapeuta e alguns pacientes, com uma feijoada proporcionada na sede do Grupo de Cicloturismo Estrelas da Amadora.
Não deixei de participar nas manifestações do 25 de Abril e do 1º de Maio, enquanto momentos de afirmação do rumo desejado para uma existência de paz, construtiva, contudo também de indignação, pelos anseios frustrados.
Continuarei por aqui, no Mundo e no blogue, mas sempre reactivo. Contra os que nos Governos nos roubam o direito a termos vida digna, a sermos felizes. Mas também em oposição aos diversos parasitas, que se julgam sem deveres, e com direito a danificar património, como a estátua de Neptuno do chafariz da Praça da Armada, do século XIX, que uma bolada certeira partiu dedos e derrubou o tridente, que era símbolo identitário do bairro, ao ponto de lhe chamarem popularmente Zé do Garfo. Esses vândalos destroem estendais, vidros, prejudicam o merecido descanso de quem ganha a vida honestamente e põem em perigo automobilistas, sujeitos a atropelá-los, quando as bolas vão parar (inúmeras vezes) à estrada. Mas não se julgue que estou contra pobres criancinhas, trata-se de jovens adultos que não querem trabalhar, anti sociais, consumidores de estupefacientes, cuja vizinhança, envelhecida teme,com medo de represálias. E assim se vive, na escravidão imposta pela Troika, com medo dos ratos de sargeta...que povo este, tão demissionário dos seus deveres civilizacionais contra a barbárie.
Inimigos de Abril não são apenas os capitalistas e os capatazes da cadeira do (aparente) poder. É também este povo abstencionista, inculto, egoísta, invejoso, alarve. Cuja revolta é sempre direccionada em relação ao parceiro mais próximo - vizinho ou colega de trabalho.
Ainda ontem escutei a um velho, na Amadora, que aquela cadeia de supermercados sobejamente publicitada, a propósito do desvario de umas promoções miserabilistas, tinha feito uma grande acção de cariz social, enquanto outros o contestavam, pondo a tónica na afronta ao primeiro de Maio, por quem tantos sofreram e deram a vida, em tempo de opressão. Além de provavelmente terem escoado produtos em fim de validade... Resposta inequívoca do traste: "Eu também vou morrer e já passei fome!O que é que interessa o1º de Maio?"
Não há dúvida, este povo é o seu maior carrasco, seja nos momentos em que elege políticos de muito má qualidade, ou quando, por qualquer conveniência e manha, ou até em nome de um qualquer coitadinhismo, aceita ser protagonista de vergonhoso labreguismo, trucidário desrespeito pelos direitos dos outros, falta de solidariedade manifesta, em arrogante demonstração anti-cívica e contrária aos mais elementares alicerces do edifício da convivência e da respiração do progresso.
Portugal, enquanto possuir tão ditosos filhos, francamente úteis aos poderosos, não passará de um sítio mal frequentado, com sol, céu azul e boa comida, se não chover...ninho de inimigos de Abril, onde os resistentes têm pela frente muitas tarefas, para que não murche definitivamente o cravo da esperança.
Tolerância zero à cretinice, à hipocrisia, à malfeitoria disfarçada de ignorância. Zero!
Tolerância zero à cretinice, à hipocrisia, à malfeitoria disfarçada de ignorância. Zero!
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)
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