"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, maio 21, 2012

A ESSÊNCIA DE UM PRODIGIOSO SEMEADOR: CELEBRANDO JOSÉ FIGUEIRAS, NA APRESENTAÇÃO DA ANTOLOGIA POÉTICA “POR FEITIÇO, POR MAGIA”



Completam-se agora dois anos sobre a minha primeira participação nas Jornadas de Cultura Popular, graças à Professora Laurinda Figueiras e ao senhor Nicolau Veríssimo, amigos dilectos a quem agradeço a excelência dos momentos que tenho vivido no Minho desde então.
O facto de ser, como eles, Associativista, ter formação em Antropologia e ser Poeta, proporcionou o encontro com a obra de José Figueiras e o seu percurso de homem empenhado na preservação da Tradição, dos costumes, práticas e rituais, como na salvaguarda da memória, da oralidade, do património e da identidade. O fascínio que sentimos, pela grandeza do seu testemunho, está patente naquilo que escrevemos neste livro tão desejado. Hoje, José Figueiras renasce, para celebrarmos o merecido destaque do Poeta da Alma de Viana.
Inicialmente, o projecto revisitava o Cidadão, o Etnógrafo, o Associativista, o Poeta, o seu Legado, as Evocações e as Omissões. Todavia, a revelação de uma substancial produção poética fez-nos optar por este primeiro volume, em que damos a conhecer o Lírico. O retrato completo, esperemos que assim possa acontecer, sem impasses nem contratempos, concretizar-se-á no próximo ano, havendo ainda muito trabalho pela frente. A pesquisa, contudo, vai avançada…
Realizámos entrevistas a familiares, vizinhos, amigos, admiradores. Recolhemos inúmeros artigos, em diversos periódicos locais. Da Biblioteca Municipal à redacção do “Notícias de Viana”, o espólio inventariado, à espera de análise é riquíssimo. Com a preciosa colaboração das netas Carolina e Sofia, o magnífico entusiasmo de Nicolau Veríssimo, a lembrança luminosa do filho Henrique, cuja concertina nos transporta até à raiz do ser, com o sangue dos Figueiras no ADN e a espantosa energia e tranquila sabedoria de Laurinda, a quem todos devemos esta maravilhosa prenda para a cultura minhota, no centenário do nascimento de um excepcional José, de coração grande e sonhos intemporais.

Entre Lisboa e algumas férias em Viana, por email e telefone, corrigiram-se imprecisões, superaram-se lacunas, acrescentaram-se dados e o livro foi ganhando corpo.
No meu olhar sobre os versos do Fundador da Ronda Típica da Meadela, além do som das sílabas, na excelente declamação de Júlio Couto e dos ecos do mágico espectáculo dos 50 Anos do Grupo no Teatro Sá de Miranda, está subjacente a observação - participante, fruindo a mística e inspiradora Serra de Arga, o São Silvestre de Cardielos, o mar visto do Carreço, ao crepúsculo, Santa Luzia, o Solar das Werneck, os objectos, o espaço sagrado da casa e o jardinzinho onde pairam recordações do notável vianense, que eu gostava de ter conhecido.
Assisti a ensaios da Ronda, acompanhei-os no Natal, de rua em rua e na Basílica da estrela, vi o túmulo do nosso homenageado, com emoção, por saber que o seu fôlego levou bem longe o nome de Viana, ajudando a formar cidadãos, no amor pelas origens.
A essência de Figueiras, a cintilação do seu estro, cativou-me, para ser veículo do fecundo desidério de Laurinda, que pegou com sensibilidade e inteligência - e perdoem-me a indiscrição - no texto, efectivamente escrito a duas mãos, onde abordamos a biografia do Mestre, sendo a arte final uma terna aproximação à vida do Homem e à viagem do Artista.

Em vão procurei, nesta mesma Biblioteca, onde avultam os nomes de Pedro Homem de Melo e António Couto Viana, a cintilação do talento de Figueiras, os quais, apesar de conhecedores do prodigioso semeador, porventura o desconheciam, naquilo em que ele mais se irmanava a estes autores.

Chegou a hora de fazer justiça e retirar do esquecimento, esta faceta brilhante desse sublime Romeiro do Cosmos, do cidadão marcante, habitado pelo espírito crítico, dramaturgo, etnógrafo, vate, homem livre, co-organizador da mais bela imaterialidade, que são as romarias desta região, que os contextos poético - sócio - culturais e a própria discrição pessoal não permitiram evidenciar.
Honremo-lo, para lá do nome de rua e da digna condecoração, naquilo que mais nobre tem a memória - através das páginas de um livro, onde a vida respira, onde eterno revive o Herói, na voz da terra que é a música dos corpos em festa.
E que assim seja, “Por Feitiço, Por Magia!”  

Viana do Castelo, 19-5-2012
Luís Filipe Maçarico

2 comentários:

Mar Arável disse...

Assim seja

Abraço amigo

Paula Silva disse...

Brigada Luis por esta viagem deliciosa. Beijo