"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, abril 03, 2011

A Aldraba em Castro Verde - 2ª Parte






















Há no concelho de Castro Verde locais fascinantes, como é o caso do cerro de Aracelis. Esta manhã, a Aldraba visitou o famoso miradouro, com 270 metros de altitude, que ainda é centro de peregrinação de agricultores, vindos de Mértola e Ourique, além dos de Castro.

A lenda diz que a Senhora de Aracelis (Ara Coelis) se encontra no altar do céu, podendo ser uma reminiscência de Ceres ou Ísis, deusas míticas do passado pagão, que o cristianismo absorveu.
Também se diz que daqui se observam capelas altaneiras de Mértola, Serpa e Castro Verde perfazendo o número de sete. Noutra versão, a visão atinge outras colinas, sendo algumas mais distantes (Aljustrel, Martim Longo e Loulé, além de Ourique e Serpa).

O jornalista Alberto Franco apresentou, na Junta de Freguesia de São Marcos da Atabueira a vida e obra de Gonçalves Correia, caixeiro viajante, vegetariano, tolstoiano, anarquista, natural desta freguesia de Castro Verde, que fundou em 1917 a Comuna da Luz na Aldeia de Vale de Santiago.
Gonçalves Correia, que trocou correspondência com Ghandi, não convertia os outros à sua causa pela violência, mas pela razão/diálogo.

Defendia uma religiosidade sem dogmas (Panteísmo), acreditando que Deus estava dentro de cada um dos humanos e em todas as coisas do universo.
Uma greve geral contra o Sidonismo, em 1918, leva as autoridades a incriminar Gonçalves Correia como instigador da agitação social que nessa altura originou uma ocupação de terras, reprimida pelas forças policiais.
No entanto, ele reincide, fundando no início dos anos 20, em Albarraque, a Comuna Clarão.

Com o 28 de Maio de 1926, o Anarquismo foi perseguido.
Mas Gonçalves Correia permaneceu fiel às suas causas, comprando passarinhos em gaiolas, para depois organizar, cerimoniais de solta dos animais, no Jardim de Beja.
Segundo Alberto Franco, biógrafo de tão fascinante personalidade, Gonçalves Correia com o seu ideário de progresso e justiça social, esteve à frente do seu tempo.
João Coelho sublinhou a importância daquele libertário, o qual, como Adeodato Barreto, certamente terá influenciado conterrâneos seus, que professaram as grandes causas pacifistas.

As Atabuas, grupo feminino de cante, completou a sessão, participada e riquíssima de conteúdo.
Antes do regresso a casa, os convivas tiveram o ensejo de saborear iguarias confeccionadas num restaurante de São Marcos da Atabueira, que encheu as medidas.

A Aldraba está de parabéns, por mais este êxito, que contribuiu para todos os participantes trazerem na bagagem a satisfação de uma jornada bem sucedida.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

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