"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Uma resposta e várias incógnitas


Em cada dia que passa, a corda estica mais e mais mas os socratinos têm uma garantia: podem fazer tudo que a corda nunca rebenta.
Novas taxas na saúde explodiram: uma vacina cujo custo era de quinze cêntimos passou a custar 100 euros. A Junta média que custava um euro passou a custar 50 euros.
Atestados que - e muito bem - eram acessíveis, somam-se, pelos aumentos escandalosos, à brutidade dos custos acrescidos de tudo.
E o enxovalho é tão grotesco que muitas famílias deserdadas foram "beneficiadas" pela EDP, onde o Estado tem participação determinante, com descontos de 50 cêntimos...
Nos países ditos do terceiro mundo, a revolta popular seria imensa. Em Portugal, parece que isto só incomoda os da "cassete", que é o apodo com que os comodistas e oportunistas chamam a quem protesta.
Os humilhados conformam-se, parecendo que ainda aguentam mais pontapés no orçamento: lamuriam-se, dizem umas ladaínhas de protesto no telejornal e amocham.
Povo boi manso, tirando aqueles que há muito não suportam isto e estão sempre a denunciar o carrocel alucinante de afrontas.
A maioria dos portugueses do Norte que me desculpe, mas perante tudo isto, apetece perguntar: de que lhes valeu então, votarem desde o 25 de Abril, nos partidos anticomunistas e reaccionários, que ao longo dos 37 anos deste regime, verdadeiro império da corrupção e da demagogia, enfraqueceram a cidadania com o desalento?
Mantiveram o seu saber fazer noutro trabalho, os operários das inúmeras fábricas falidas ou deslocalizadas?
Ficaram mais satisfeitos, os agricultores?
Tornaram-se mais felizes, os comerciantes?
Os pais sentiram mais benefícios do Estado, pela natalidade?
Os velhos foram mais apoiados na doença? E as reformas melhoraram?
Foi por votarem sempre nesses partidos que os nortenhos obtiveram mais qualidade de vida, ou seja, aproximaram-se na Educação, na Justiça, na Saúde, na Cultura e no Emprego, dos níveis europeus?
Infelizmente a realidade já respondeu a estas perguntas.

Será que depois de todos os enganos, uma parte substancial dos nortenhos (e um bom número de cidadãos do sul) mudam de voto, ou ainda vão continuar a pôr a cruz naqueles que, ano após ano aumentam o seu calvário? Ou pelo contrário, nem sequer irão votar, repetindo a lengalenga aleivosa do "são todos iguais"?
Num ano crucial para o futuro deste país, que parece continuar alegremente rumo ao abismo, saberemos a resposta para as várias incógnitas...

Luís Filipe Maçarico

3 comentários:

Agulheta disse...

Boa noite amigo Luís!
Eu sou do norte mas penso com a minha cabeça, e sei que eles só fizeram porcaria para não dizer outra coisa,se quero tenho que trabalhar,mas muitos vivem de ar e vento porque são os tais lacaios dos políticos.Perante estas incertezas diárias,na saúde educação e outras coisas,era preciso outro Abril com urgência.
Abraço

oasis dossonhos disse...

Querida Amiga
Obviamente que há pessoas muito lúcidas em todo o lado e que no Norte, é sempre mais difícil defender opiniões que marcam pela diferença e pela justeza. Um dia,talvez ainda estejamos todos por cá, pois a globalização acelerou tudo, o poema de Saramago "e chegará o dia das surpresas" vai cumprir-se.
Felizmente que tenho muitos e bons amigos no Norte que pensam como você. E que dolorosamente, sentindo na pele os problemas, uma série de trabalhadores vão conhecendo a dura realidade e despertando para a luta que tem de ser feita sem tréguas contra os que nos roubaram os sonhos, a esperança, a vida.
O melhor da vida para si e para os seus e o meu profundo reconhecimento pelo seu comentário, pela sua postura.
Luís

Sérgio O. Sá disse...

Como diz Agulheta,«era preciso outro Abril». Pois bem, estámos ainda em Janeiro, mas aqui deixo desde já o meu desejo, se tal me for permitido.

MINHA PÁTRIA MINHA
Minha Pátria!
Minha Pátria minha!
Que luta, para te libertares do cárcere medonho
Onde quase morreste esquecida!
Que raiva!
Que dor!
E o algoz do tempo a falar de amor?!
E a violar-te na imunda cela
Onde te guardava
Com guardas à porta,
Grades na janela
...E, tu, quase morta!

Minha Pátria!
Que triste provação!
Qual herança sofrida por quem te amou e te ama!
Morreram filhos teus
Sob a noite quase eterna que se abateu...
Houve fome de justiça
- esse alimento, esse pão
que te roubaram da mão -,
E a mentira era a mesa
Onde comiam os lobos, sob a qual dormia o cão.

E enquanto o tempo corria
A esperança esperava
E definhava
E gemia,
Arrastando-se no tédio que alastrava!
Mas a fé escapou da infinita agonia
Para gritar,
E gritou, gritou, gritou...
E os poetas ouviram
E tua Alma, espezinhada, sonhou,
Sonhou ainda,
Sonhou!
E, um dia, Abril chegou.
Aleluia!
E o sol raiou.

O sol raiou para todos
E os poetas cantaram.
Teus mortos ressuscitaram,
Tu deste-me a Liberdade
E eu caí em seus braços!

Mas o tempo não parou.
Tu deixaste de sonhar
E o Abril passou.
Deixou-te esta nostalgia
Com que matas as saudades dos teus sonhos.

Tens de voltar a sonhar, Pátria minha!
Tens de voltar a sonhar,
Mesmo que tempos medonhos
Venham para te matar.

Mas tu nunca morrerás!

Tens de voltar a sonhar com Abril!
Abril! Que saudade!
Tens de voltar a sonhar,
Mas com um Abril de verdade
Que venha para ficar!

in:VERSOS NA GUERRA-VERSOS DE PAZ