"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Governo de Unidade na Tunísia com o Mesmo Primeiro Ministro, Sete Ministros do Anterior Governo e Alguns Opositores








Mudanças na Tunísia seriam previsíveis e desejáveis, após a chamada Revolução de Jasmim.
Não tenho todavia motivação para festejar, ao contrário de um ex-deputado, homem do sul, poeta, que embandeirou em arco, segundo a mensagem que me enviaram hoje.
O tirano-mor foi corrido, é verdade.
Mas o presidente interino é um ex-ministro, membro do parlamento desde 1964, eleito pelo partido de Ben Ali (RCD), que era o maioral dessa formação política nacionalista e socialista, integrada na Internacional Socialista).
O primeiro ministro (vice-presidente da mesma força política) é aquele que liderava o governo corrupto, causador da revolta popular... Pois é com ele ao leme, que o pouco promissor governo de transição, dito de unidade nacional vai tomar conta do poder.

É como se em 25 de Abril de 1974, Américo Tomás fosse borda fora, mas o Presidente da ANP passasse a presidente interino da República e Marcelo Caetano continuasse a liderar o governo, agora de unidade, com alguma oposição. Será motivo para nos congratularmos?

Ah! O Partido Comunista dos Trabalhadores Tunisinos, ilegalizado por Ben Ali, por esse motivo não entra no novo governo, mas retornam sete ministros do anterior governo para ocuparem lugares chave... Será razão para acharmos que os tunisinos estão bem entregues?

Democracia?
Revolução?
Coitado do povo, enganado sempre!
Libertação?
O polvo permanece.

Os amigos de lá dizem-me que estão expectantes, e exigem transformações consequentes.

O belo território, - corredor entre o mediterrâneo e o deserto, - depois de ter sido reino fenício, com a fundação da cidade de Cartago (VIII A.C.), tomada pelo Império Romano (II A.C.), passou no século VI para as mãos dos Bizantinos, depois para os Árabes até ser conquistado pelos turcos, em 1574, tornando-se no século XIX um protectorado francês, até se tornar independente em 1956.

O primeiro presidente da República Tunisina foi Habib Bourguiba, que esteve 30 anos na cadeira presidencial.

O segundo, Ben Ali, que depôs Bourguiba, num golpe de estado palaciano, permaneceu 23 anos no cargo.

O actual primeiro ministro, Mohamed Ghannouchi, que sucedeu nesse cargo a si próprio, esteve 1 dia (14 de Janeiro de 2011) nas funções presidenciais. Economista, escolhido há onze anos por Ben Ali para chefiar o governo, conduziu as negociações para a formação do "novo"governo, com 3 partidos da Oposição, que levará (conseguirá?) o país a eleições livres e a uma liberdade ampla, tão ansiadas.

O actual Presidente da República, é o 4º, desde 15 de Janeiro, assegurando o período da transição, que passou de 2 para 6 meses. Fouad Mebazaâ, advogado, foi ministro da Juventude e Desporto, da Saúde Pública e da Cultura e Informação, além de embaixador na ONU e em Marrocos, sendo presidente do Parlamento desde 1997...
A Tunísa teve 3 presidentes em 24 horas!

Pasmo com a ligeireza de alguns "jornalistas" de beco, que, sem avaliar a situação, emitem opiniões precipitadas. A verdade aqui fica para análise e aprofundamento. O tempo demonstrará quem tem razão...

Partidos da Tunísia:

Partidos com Assento Parlamentar

Partido de Ben Ali, que dominou os Governos, desde 1988:
Rassemblement Constitutionel Démocratique (RCD), actualmente com 161 deputados.

Oposição Parlamentar
Mouvement des Démocrates Socialistes, 16 deputados.
Parti de l'Unité Populaire, 12 deputados.
Union Démocratique Unioniste, 9 deputados.
Parti Social-Libéral, 8 deputados.
Parti des Verts pour le Progrès, 6 deputados.
Mouvement de la Rénovation -ETTAJDID, 2 deputados.

Outros Partidos da Oposição
Parti Démocratique Progressif;
Parti Libéral Démocratique

Partidos Ilegalizados
Congresso para a República
Hizb ut-Tahir
Parti de La Renaissance
Parti Comuniste des Ouvriers Tunisiens.

Luís Filipe Maçarico (pesquisa e texto) Fotos: recolhidas na Net

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