"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, agosto 15, 2010

Com Houssemeddinn Chachia em Mértola


Autor do blogue http://moriscostunez.blogspot.com/ Houssemeddinn Chachia, natural de Cap Bon, é estudante da Universidade de Manouba, Tunísia, e está em Mértola, desenvolvendo uma pesquisa em torno das fontes árabes que referem o Gharb Al-Andalus, o paraíso perdido para alguns, questão acerca da qual é muito crítico.

A Tunísia é um país onde voltei várias vezes por inúmeros motivos. Sem querer ser exaustivo, referirei alguns: Hospitalidade, gastronomia, património, beleza natural e Amigos.
Ia eu num comboio a caminho do sul, em Abril de 1993 com a Xana e a Cláudia e de repente Wafa, Mouna e Aïmen riram, atraíndo a atenção das minhas amigas. Vai daí, ofereço-lhes um caderno e uma esferográfica da campanha Lisboa Limpa tem Muita Pinta, um desenho de café e um poema. A mãe, professora, saiu com eles em Sfax, dizendo-nos que, para a próxima, devíamos visitar as Ilhas Kerkennah. Nós continuámos para Gabès.
O pai escreveu-me, quando já tinha regressado há algum tempo a Portugal. Que devia ir ao arquipélago visitá-los. Acabou por ser o meu tradutor para árabe e "Os Pastores do Sol" nasceram desse encontro mágico que umas crianças sorridentes proporcionaram.

Esta e muitas mais histórias fizeram-me gostar daquela gente e dos seus lugares. Ainda me vejo a dançar (como os árabes) música Raï em el Kef, numa noite fantástica e as mulheres a dizerem quem é aquele que sabe dançar tão bem. E o cantor argelino, que foi depois assassinado, animando a noite, inebriando aquele Agosto de 1991.

Houssem Chachia teve a gentileza de aceder falar comigo, numa interessante conversa, onde me explicou que o Islão proclama certas coisas e o popular pratica outras.
A religião muçulmana assegura que o Corão protege, sem ser necessários complementos como santos ou utensílios do domínio supersticioso.
Mas por vezes os versículos são contraditórios e as interpretações não são claras. Chachia evocou a Sura Al-Falak, onde o olhar nocivo dos invejosos é mencionado, devendo opor a esse mal as forças benéficas.

Segundo ele, a Mão (que árabes e judeus usam, como protecção) pode ser algo que resta, da tradição fatimida, todavia, aquilo que prevalece e que tem força, é o Cinco contido nessa Mão, e não a Mão (khomsa)...

Quanto à designação Main de Fatma...o nome dado ao objecto é khamsa (Cinco em árabe). E ninguém diz por lá Mão de Fátima...como é uso ser dito por estas bandas...

Eu próprio, cuidando que estava certo, ao papaguear o que alguns conceituados eruditos e académicos diziam, ainda servi de pilar para outros se apoiarem nos textos em que foram induzidos em erro. Mea culpa. Mas isso vai dar uma tese de mestrado, espero. Pois do confronto de ideias nasce sempre outra coisa. Suponho que mais apurada e escorada em melhores argumentos.

No que concerne ao novo amigo tunisino, a temática dos mouriscos, que expulsos do Al Andalus se estabeleceram no Norte de África, é fascinante.
O site que criou partilha filmes e artigos que dá prazer seguir. Sons e cores que se saboreiam, imaginando sabores, ambiências, contactos enriquecedores.
Espreitem o blogue de Houssemeddinn e acompanhem a viagem por Testour, em busca dos antepassados mouriscos. Vale a pena!

Glossário
(Designações árabes - recolhidas em Samira Sethom: Le bijou traditionnel en Tunisie - e o seu significado em português):

Khomsa - Mão
Khamsa - Cinco

Texto e fotografia de Luís Filipe Maçarico

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu Amigo
Contigo estou sempre a aprender.
Maravilhoso o teu contacto com outras pessoas, outros credos, outras culturas. És um espírito aberto porque és livre.
Gosto.

Anónimo disse...

Meu Amigo
Contigo estou sempre a aprender.
Maravilhoso o teu contacto com outras pessoas, outros credos, outras culturas. És um espírito aberto porque és livre.
Gosto.