"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, outubro 25, 2009

Póvoa de Atalaia, Eugénio de Andrade e Orlando Ribeiro












Em finais de Setembro, passei brevemente pela terra natal do poeta Eugénio de Andrade.
Terminava a última festa de verão das gentes da Gardunha e a luz deixava em tudo tonalidades de mel, que a lira do autor de "Branco no Branco"certamente absorveu.
Perto de Alpedrinha, Póvoa de Atalaia é uma das trinta e tal freguesias do concelho do Fundão.
Orlando Ribeiro escreveu que as terras da Póvoa apresentavam características do Portugal Mediterrânico.
Olhando para as velhas, que se aninham nos cantos, em conversas, ou respirando o silêncio, verificamos que aqueles chapéus, coroando cabelos de neve e vestes de negro, lembram os chapéus que as ceifeiras alentejanas usavam.
A Gardunha é uma mãe, como todas as serras. Da Póvoa vê-se a montanha, onde as amoras me tentaram. Eugénio homenageou-as desta forma:

As Amoras

O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")

Texto e fotografias: Luís Filipe Maçarico

1 comentário:

mariabesuga disse...

Já apanhámos amoras na Gardunha e comemo-las deliciados debaixo do céu azul de que Eugénio fala...

Éramos muitos e as amoras bravas esperavam-nos no silêncio dos dias da serra...

Fantásticas as fotografias em que também te revelas pelo olhar.

Jingã