"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, março 12, 2018

Manifesto Contra a Poluição Sonora

Abomino o ruído.
Transístores roufenhos, a debitar relatos de futebol ou batidas da pesada, numa viagem de autocarro, em que o ouvinte optou por poluir - sonoramente - tudo em redor, estando-se nas tintas para os restantes passageiros, que têm de levar com os seus "gostos" musicais...
Ir num comboio, com alguém a escutar sons, que parecem capturados numa forja, é desgastante...
Pessoas a vociferar, com os decibéis elevados, provocando mal estar a quem está por perto e necessita de conforto, é talvez apanágio de quem mora ou morou em barracas/ e ou vivendas (perdoem-me aqueles que jamais tiveram este comportamento) e ignora ostensivamente os outros. 
Usar sapatos com tacão em casa, sem querer saber do bem estar de quem é massacrado, com ruído constrangedor, em nada abona da consciência que somos obrigados a ter quando não residimos numa vivenda (ou barraca) e temos de saber respeitar os direitos dos outros, vivendo em Sociedade, com harmonia.
A permanência do Black & Decker, que se usa a torto e a direito, é outra das sonoridades que me enervam. Que culpa tenho eu de ter bons ouvidos, com que a Natureza me compensou por ter miopia?
Outra das coisas que detesto, são os aspiradores e o mulherio a falar alto, em residenciais, desde manhã cedo, onde supostamente se pernoitou para descansar. Uma vez, em Santiago de Compostela, dormi com o elevador, isto é, o quarto era mesmo ao lado do ascensor, que começava a sua ruidosa função, quando ainda era madrugada...

Odeio locais ruidosos.

Vivi num prédio, onde a vizinha de cima  era uma corrécia (introduzida no prédio sob recomendação de vizinho-relojoeiro das Testemunhas de Jeová) que tinha de se apresentar com regularidade às autoridades, sucedendo-se em sua casa vários companheiros, os quais foram sendo tratados com insultos e talvez mixórdias, para não levantarem cabelo...Apesar do curriculum, muitas noites saía com capangas, de táxi, sabe-se lá para fazer o quê...
Desde bater os pés com veemência, até arrastar móveis, com toda a raiva do mundo, as ambiências desse lugar juntaram o pior do Mundo: Porque além dessa megera ainda havia a velha que fazia bruxices, o rapaz que a todas as horas do dia e da noite cavalgava a escada, por cima do meu quarto, com bandos de amigalhotes, aos berros, passando por outra vizinha, que quando se irritava (o que era vulgar) gritava como se a estivessem a matar.
Na praça onde se situava o prédio, com a porta (metálica) da rua, por baixo do meu quarto, havia constantes desafios de futebol com jovens e adultos, usando bolas pesadíssimas, que quando batiam no empedrado faziam barulho, sendo a porta do edifício a sonora baliza, cuja batida brutal produzia um enorme contentamento, naquela pequena multidão de alarves...
Estudava, escrevia, comia, com aquele escabroso compasso...
Posso afirmar sem exagero que provei o fel da existência.
Foram morrendo, as velhas.
Fiquei anos nesse prédio, quase fantasma...

Sentir que há pessoas à volta pode ser sinal de vida; ainda este sábado uma amiga, em Beja, confidenciava que tinha habitado em Lisboa, num imóvel onde a insonorização era total e parecia que vivia num mundo sem gente...
Infelizmente, tenho a experiência contrária...
Por isso fico perturbado, quando constato que há muitas pessoas que não sabem conviver, no pequeno colectivo, que é um prédio, isso já me aconteceu, e desgosta-me que as cidades estejam repletas de seres hediondos, que não sabem comunicar ou simplesmente existir, estando num fechamento, que não pode ser sinónimo de alegria, mas de profunda doença espiritual, que nenhuma entidade divina poderá salvar.
Não é por acaso que o planeta está a ser governado por seres que denotam alguma monstruosidade. São espelhos das gerações que pouco aprenderam e não tendo presente, nunca poderão ter Futuro, pois escarram na memória, fazem gala em desconhecer o Passado.
Não prevejo, com esta população (globalmente falando) que a inteligência e a sensibilidade abundem.

Luís Filipe Maçarico (texto) Eduard Munch (O Grito)

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