"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, janeiro 10, 2018

Morreu um pedaço de nós


Pergunto-me que utilidade tem inventariar as lojas históricas de Lisboa, se em cada dia que passa elas estão a acabar e o ritmo é vertiginoso.
Na edição de hoje do "Público", que tem vindo a dar a conhecer esta "sangria desatada", a Livraria Aillaud & Lellos é a nova vítima de um brutal aumento de rendas.
A Câmara Municipal de Lisboa nada faz nestes casos, além de ter um inventário.
Lisboa, a cidade genuína, com as suas lojas de referência morre.

No lugar de uma parte destas casas, vemos avançar milhentas baiúcas de água mineral, t.shirts déjà vu, ímans para frigoríficos representando eléctricos da Carris, postais ilustrados e um sem número de bugigangas para turistas pouco exigentes, que apenas buscam um souvenir banal. Baiúcas essas que de tão repetitivas, me parecem configurar uma qualquer "lavagem", havendo sempre no balcão um oriental, trombudo, que parece estar a fazer um enorme favor.

Lisboa, a Lisboa da História Cultural definha. Na Livraria Aillaud & Lellos comprei um magnífico estudo de Teresa Caillaux de Almeida acerca das Invasões Francesas...
Tinha a ideia de comprar mais exemplares (edição Ésquilo) para oferecer.
Li a notícia e fiquei muito triste...

Estas lojas fecham, sem apelo nem agravo.
E a Câmara vai inventariando.
Marina Tavares Dias já pode fazer mais uns livros sobre a Lisboa desaparecida, que nos últimos anos tem sido "um vê se te avias"....

A Cultura Portuguesa está de luto.
Não morreu nenhuma individualidade.
Morreu um pedaço de nós.

Luís Filipe Maçarico

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