"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, outubro 10, 2015

Já se Pode Fazer Tudo? Ou como uma porta deixa de ser emblemática em Mértola

Durante anos, por ocasião do Festival Islâmico, a Câmara Municipal de Mértola recuperava uma velha porta, com dois batentes em forma de mão e um design original, com a representação de quatro arcos em ferradura, que o imaginário de um velho carpinteiro terá criado.
Um Mestre, funcionário do Município, ocupava-se todos os Maios, de dois em dois anos, desta porta singular. Cheguei a fotografar (Maio de 2009) a porta e o operário, por isso posso agora mostrar o que aconteceu....
Em Setembro deste ano, frequentei na bela vila do Baixo Alentejo, um Curso Livre sobre Patrimónios do Mediterrâneo e de repente, ao passar na rua onde é costume debruçarmos o olhar, para alcançarmos os horizontes poéticos, por onde se derrama o Guadiana, a porta mais bonita tinha dado lugar a uma coisa clean, tipo porta de consultório médico, com maçaneta de alumínio, desconhecendo-se se a ideia foi dos novos proprietários - empresários de alojamentos e de vários espaços comerciais - ou de um/uma arquitecto/a, que pretendeu deixar a sua marca, no casco velho do histórico casario. 
Ninguém reagiu.
Os meus amigos de Mértola que me desculpem, mas parece que o património imperceptível é coisa de somenos importância, não só no Norte, como aqui tenho documentado....
Afinal, já se pode fazer tudo?

Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

7 comentários:

Paula Silva disse...

Como é que ninguém reage a um atentado destes? Onde andará essa histórica porta, com estórias para contar? E em Mértola, esse berço de arqueologia e respeito pelo património... Estou chocada. Estará a organizar-se um museu da porta? É o vale tudo. :(

Clotilde Moreira disse...

Estas são as mulheres
Que trazem o Sol nas mãos
E o entornam entre canseiras e afagos.

è desta poesia que conheço este Senhor. Então os orgãos autarquicos estão distraido?Maria Clotilde - Algés

Clotilde Moreira disse...

Estas são as mulheres
Que trazem o Sol nas mãos
E o entornam entre canseiras e afagos.

è desta poesia que conheço este Senhor. Então os orgãos autarquicos estão distraido?Maria Clotilde - Algés

Unknown disse...

É bom que se tenha criado o conceito de "património imaterial"!...
Mas então por onde anda o cuidado, a atenção, a preservação do património material?
Ou será que a primeira parte é apenas ficção e não tem representatividade alguma no património em geral?

eddy disse...

Amigo Luis, no final de tudo e destes redobrados delírios patrimoniais confirma-se o que tenho dito, sem acção partilhada em termos comemorativos sinceros, invenção partilhada e humilde, propósitos comunitários sem exaltações "fascistas"...nada feito...eu simplesmente não acredito em "mestres-eruditos-feitiçeiros" de candidaturas de patrimónios imateriais cozidas com os de sempre, junto dos de sempre, com cursos promovidos com os de sempre (com formatos supermercado)...que percorrem os espectros dos territórios (municipios) à boa maneira dos mesmos "vampiros" que outrora "comiam tudo"...agora, ao inverso dos de sempre, tomam outras vestes poéticas e assim tudo fica verdadeiramente poético...chefes...directores...e afins...e no outro dia por tremenda infelicidade disseram-me que matariam....

Alor disse...

E o que foi feito da porta que já não o é onde era?

De facto a muita desmaterialização tem o rotulório imaterial levado; como que um 'efeito postal' se vai replicando e publicando sobre um efeito portal descontinuado: a impressão digital da expressão literal de "bater com o nariz na porta".

Pergunto-me que assinalarão as placas ao lado senão a indexação de parte do problema; possível um ZOOMinho?

AbraÇalam,

R.

José Rodrigues disse...

Vejo que estás atento e esta tua ultima estadia, serviu também, para confirmares o "progresso"
do aluminio e das mentes.
Sinceramente desconhecia, abraço