"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, abril 28, 2015

Penedono: Um Magnífico Castelo rodeado pelo Mau Gosto das Portas de Alumínio de Todas as Cores e Formas

Dizia-me hoje, durante o almoço, um jovem amigo transmontano, que obrigar uma Comunidade a conservar portas antigas e não permitir "inovações", ao gosto do proprietário de um imóvel, é atentar contra a liberdade individual.
Esclareci-o que apenas defendo restrições para os Centros Históricos, já tão descaracterizados, e dei até o exemplo de Fornelos, onde uma casa tem uma porta de "elevador"...
A piroseira, a pimbalhice, não pode, em nome de uma suposta liberdade pessoal, imperar e desfeiar os nossos lugares, destruíndo o legado, que os nossos antepassados nos entregaram, conservado durante centenas de anos, apesar do analfabetismo que infelizmente caracterizava o nosso povo, no final do século XIX...

Na Monografia "Penaguião "Terra" e Gente", de J. Gonçalves Monteiro, edição do Município de Santa Marta de Penaguião, 2001, há uma citação exemplar, da Illustração Portuguesa, nº 557, de 23 de Outubro de 1916, tão actual, que transcrevo:

"O respeito pelos monumentos, a veneração das relíquias do passado, em geral o culto pela beleza, derivando do objecto ou do que ele representa são sentimentos que só se desenvolvem por uma educação cuidada e não por uma instrução superficial, mais nociva às vezes do que a ignorância absoluta".

Vem isto a propósito daquilo que chamei a jóia da Coroa - o castelo de Penedono. Mas conforme escrevi na minha página Facebook

"Não se iludam....O património em redor não está devidamente cuidado. Cada casa tem uma porta de alumínio de cor diferente... Como tenho dito várias vezes, os centros históricos, por todo o lado, estão a sofrer verdadeiros atentados de mau gosto, que os Municípios permitem, e assim por mais festas medievais que promovam, não resgatam a aldraba, o batente, a porta e outros pormenores, que são deitados para o lixo. Os turistas estrangeiros seguramente não apreciarão estas aberrações. Os portugueses continuam a aceitar tudo e a colaborar nesta morte do património identitário."

Correndo o risco de me repetir, acrescento: Só conhecendo o valor de um objecto, de um monumento (histórico, arquitectónico, afectivo) poderemos gostar e salvaguardar o património. 

Seria tão bom que as Câmaras Municipais, como a de Penedono, promovessem os batentes de porta, através da edição de postais, publicações e exposições evocando o(s) velho(s) ferreiro(s) que moldaram mãos, cabeças de animais, argolas, aldrabas, e a panóplia artesanal que não se repete, quando chamamos os residentes. Mas também caberá às Escolas locais um desempenho complementar, desafiando os alunos a desenhar e fotografar as portas mais antigas, com simbologias raras na pedra e na madeira, no sentido até daqueles que espalharam o feísmo, pudessem repensar, ajudando mudar - para melhor - o cartão de visita da sua terra, que também são estes pormenores.
Um castelo rodeado por alumínios variados, ao bel prazer dos proprietários de residências e firmas, fica certamente mal acompanhado.
E Penedono merece ficar mais bela na fotografia.

Luís Filipe Maçarico

1 comentário:

eddy disse...

Amigo Luis, estou inteiramente de acordo com as suas preocupações. Porém, se aquilo que verdadeiramente daria outro sentido ao referido lugar está completamente morto, ou sejam, os saberes tradicionais (ferreiros, carpinteiros, pedreiros e afins) e pelos visto não existe qualquer interesse, a titulo nacional e institucional, em recuperar em termos de um ensino tecnico-profissional direccionado para estas dimensões patrimoniais. Apenas nos resta a "mumificação do passado" para fins turísticos e promocionais. Que por todo lado induzem em confundir locais turísticos em vez de locais com turistas...

penso que o desafio está na coragem de introduzir os mestres dos saberes tradicionais nos programas educacionais oficiais, só assim é possível uma verdadeira e coerente política de salvaguarda dos tão anunciados patrimónios culturais imateriais...

recentemente, visitei em Espanha, na estremadura espanhola, uma pequena aldeia raiana e nesta pelo meu espanto, fui encontrar um jovem licenciado em engenharia que decidiu reconduzir a sua aprendizagem, foi aprender as nobres artes do ferro, teve apoios institucionais e europeus e por esta via revitalizou os saberes de uma antiga forja local e hoje, segundo este, não tem mãos para tantas encomendas em trabalhos de ferro forjado. Este é o único caminho, não vislumbro outro...

Abraço