"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, abril 18, 2015

Um Inquisidor patrono de um novo museu?

 
Alguém me consegue explicar, como é que vai ser criado um museu, para homenagear um religioso, designadamente Frei João de Mansilha, frade dominicano, nascido em Lobrigos, em 18 de Abril de 1711?

Tal seria aceitável se o personagem tivesse uma história de vida dedicada a praticar actos benfazejos, em prol dos menos favorecidos, como é o caso de Montemor-o-Novo, cujo feriado municipal está ligado à figura de São João de Deus, natural daquele concelho alentejano.

Barroso da Fonte, coordenador do "Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses", editora Cidade Berço, assegura que Mansilha foi docente de Teologia, formado em Coimbra, que deu aulas de Teologia no Convento do Porto e de Filosofia em S. Domingos de Benfica em Lisboa, e insinuando-se junto do Marquês de Pombal, tornou-se procurador da Companhia Geral da Agricultura do Alto Douro, na corte, contra a vontade popular, tendo dirigido a repressão do motim do Porto em 1757, colocando-se ao serviço dos interesses económicos de Sebastião de Carvalho e Melo, que o promoveu a Conselheiro do Rei. 

Em 1761 foi nomeado inquisidor para o Santo Ofício de Lisboa, passando a integrar o Conselho Geral da Inquisição. 
Porém, com a queda do Marquês de Pombal, o Visitador Geral dos Dominicanos, baseando-se nos "escândalos e indignos procedimentos com que, em todo o tempo, se tinha conduzido", condenou Frei Mansilha à deposição dos cargos, reclusão e desterro, para toda a vida. Morreu em Pedrógão, no dia de natal de 1780. 
Como é possível que uma figura com este perfil seja elevado a notável, em tempo de liberdade, por quem a diz defender e se tenha tornado merecedor de ter o seu nome ligado a um Museu, que pretende exaltar o património local, identitário?

Quem vai reescrever a História e torná-lo numa figura, digna de se inscrever na memória de um Povo?
Responda quem souber!   
  
OBRAS: "Cartas", em Francisco Maria dos Santos, História Escandalosa dos Conventos da Ordem de S. Domingos em Portugal, Lx., 1901; vários documentos para a criação da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro, em T.T., Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro, liv. 59, d.3; Cartas do Tombo do Arquivo da Companhia Velha. Porto, catalogadas pelo secretário da Junta, M. Gomes de Lima.
BIBL.: Sousa Costa, "Figuras e Factos AltoDurienses. I. Frei João de Mansilha e a Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro", em Anais do Instituto do Vinho do Porto, P., 1953; D. Maurício, História do Mosteiro de Jesus de Aveiro, 1, 340 354; Jácome Ratton, Recordações, C., 1920.

3 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Por este andar ainda vamos ver o Salazar,
beatificado.
Um abraço e bom fim de semana

Unknown disse...

Pois...e eu é que tenho que ficar com ele em casa.

Anónimo disse...

Ora meus senhores, não é verdade que estudamos ainda hoje (e os nossos estudam na escola) Salazar e o poderoso Marquês, D. João V? Se este Mansilha foi bom ou mau, que importa? Não importa mais conhecer porque razão foi uma figura relevante na história e, se não o foi justamente, porquê?