"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, julho 30, 2011

Museu da Ruralidade em Entradas






















Onde intervém a dupla, constituída por Miguel Rego e Manuel Passinhas, o sucesso está garantido, porque no trabalho destes homens, que o Alentejo tem a sorte de ter, há a exigência de qualidade e sempre um olhar, cuja matriz exemplar evidencia, onde realidade e passado se entrelaçam para falar de momentos e artefactos, à escala humana.
A marca deles, está nas memórias, folheadas em Mértola (Festival Islâmico, Exposições na Mina de São Domingos, Museu do Contrabando em Santana de Cambas, etc.) e agora, no magnífico espaço museológico, inaugurado em Entradas, Castro Verde, ontem, dia 29 de Julho de 2011.
A dureza do trabalho nos campos, surge nesta primeira narrativa, através de máquinas, objectos e memórias, com os mestres e as suas artes implicadas. Não falta mesmo a taberna, onde o petisco e o convívio, proporcionam o cante.
Arados, trilhos, a charrua, o fole da forja, a debulhadora fixa, a carroça, a viola campaniça e protagonistas como o último abegão e o derradeiro mestre ferreiro, são um património notável, cuja importância se reflectiu na presença das pessoas que estiveram ou ainda estão ligadas à terra.
Não foi um evento de intelectuais iluminados, que geraram sabedoria para os "nativos". Foi um fiel espelho de uma Comunidade, legado pelos actores de existências duras, através do depoimento, do documento, do objecto, das histórias de vida e até da arquitectura, que sendo moderna, teve em conta os traços das habitações e dos armazéns, para respirar proximidade com o quotidiano da população.
As inúmeras pessoas que participaram no acto, na sua maioria residentes locais, interiorizaram o espaço como seu, graças ao extremo cuidado em contar a história de cada objecto relacionando-o com a vida dos homens e mulheres de Entradas e dos campos de Castro Verde, no contexto do Alentejo.
Outros espaços que pretenderam guardar a identidade dos sítios onde se implantaram, descuraram este importantíssimo pormenor: cada objecto conta uma história e cada história interage com vidas, com protagonistas reais. Por isso, nessas experiências mal concebidas, as populações locais, ao verem que os objectos doados não tinham referência sobre a pertença, diluindo-se numa leitura primária, que podia ter a ver com qualquer lado, menos com o seu testemunho, deixaram de frequentar o mostruário, supostamente criado, também, para reverem a sua caminhada.
Em Entradas, dos artífices ao cidadão anónimo, o ritmo do esforço colectivo é referido, num texto que não se esquece de nomes e episódios.
Outra coisa não seria de esperar de um Município onde as pessoas e a Natureza partilham a harmonia, neste mundo desigual.
Obrigado ao Miguel Rego, ao vereador Paulo Nascimento e ao Manuel Passinhas, bem como a todos os que tornaram possível, designadamente a autarquia, presidida pelo arquitecto Francisco Duarte, a celebração do percurso colectivo dos homens e mulheres, que tornaram este lugar menos inóspito, adubando com o seu suor os sonhos de uma terra mais equilibrada!

Luís Filipe Maçarico (texto e imagens)

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