"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, janeiro 12, 2010

Minudências


Já lá vão uns anos. A Rosa Dias, o Joaquim Avó, a Ana Fonseca e o António Dias quiseram que ficasse registada a sua passagem pela Travessa dos Lagares, em Montemor-o-Novo.
Todos quiseram ver o portão das três aldrabas.
A fotografia fala de um lugar que desapareceu. O portão já não existe - nem os três utensílios, habituados a chamar quem ali morou.
Bastou quem lá residia ter vendido a casa correspondente ao portão, para um muro tapar aquela entrada e as aldrabas terem sido asfixiadas.
Terá havido nova vida para elas? Onde? Num vendedor de velharias? Na Feira da Ladra ou em qualquer feira de coisas deitadas fora?
As Câmaras Municipais não controlam estas situações do pequeno património, que é quase imperceptível...limitando-se a autorizar obras, ou seja, ao não inventariarem os objectos urbanos como as aldrabas e batentes, estão a ser coniventes, por omissão, nos permanentes atentados que se continuam a fazer, em todo o país, a estas marcas seculares, da passagem por este mundo, de artistas populares - os ferreiros. A consciência, quando existe, descansa com um exemplar ou dois num qualquer museu rural, onde jaz numa espécie de sepulcro, o que podia ser museal mas com vida.
Conseguiremos travar esta avalanche? Iremos a tempo? Vale a pena insistir, chamando a atenção, ficando "mal visto" ou sem resposta, por aqueles que têm mais que fazer do que reparar em minudências?
Luís Filipe Maçarico (texto e foto)

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