"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, agosto 18, 2008

TITINA: CRUEL DESTINO


Conheço Titina desde 1989, há dezanove anos portanto.

Eu tinha acabado de chegar de uma viagem muito desejada, a Cabo Verde, pois trabalhara com um rapaz caboverdiano, na varredura das ruas da cidade, muitas madrugadas, manhãs e tardes ouvindo-o contar coisas espantosas da sua terra, desse arquipélago mágico, com gente luminosa, cheia de ritmo e sentimento.

Lera"Hora di Bai" de Manuel Ferreira, "Os Flagelados do Vento Leste" de Manuel Lopes, ouvi "Os Tubarões" em disco e na Festa do Avante. Escutara desde muito novo "A Voz de Cabo Verde", na antiga Emissora Nacional, arrepiava-me com algumas mornas, frequentara a discoteca Bana e sentira desde sempre uma atracção pela morna, depois pela catchupa, até que Titina me descobriu na Associação Caboverdiana, com uma mãocheia de versos sobre a sua ilha de Soncente.

Antes da canção, que naquele dia, à hora do almoço, me ofereceu na Associação, Titina anunciou que ia dedicá-la ao amigo, que acabara de conhecer, pelos poemas que lera.

Li esses versos, anos mais tarde, num belo tributo que lhe foi prestado no Teatro Maria Matos, por Tito Paris, Paulo de Carvalho, Fernando Girão e outros.

Titina, a voz mais bonita de Cabo Verde, chegou a Lisboa adolescente, com um Grupo Musical, que actuou em Portugal, apaixonou-se, casou, teve dois filhos, porém a música nunca deixou de respirar no caminho trilhado, em terra longe. Gravou alguns discos, a rádio e a televisão falaram dela, embora não tanto quanto merecia, fez teatro, telenovela, cantou em vários recintos, muitas vezes no estrangeiro, e foi sobrevivendo para ressurgir com um vigor extraordinário.

Titina é uma força da Natureza, uma sonoridade cristalina de nascente, andorinha migradeira, que embala a eterna beleza das ilhas, cantando, com um sentir genuíno, que transparece na forma como interpreta, magistralmente, a alma dos caboverdianos espalhados pelo mundo e no seu torrão natal.

De uma versatilidade notável, a cantora que os deuses bafejaram com cordas vocais inigualáveis, é sempre grande, interpretando coladera ou morna. Uma vez no S. Luís vi o público da plateia saltar da cadeira, para dançar, tal era a energia que irradiava, e percebi que aquele momento era único, impossível de ser vivido noutros contextos. Titina é fogo, é subtileza, é graciosidade, é o ritmo africano nas veias e no corpo ondulante, que convida à alegria, à festa, à partilha.

Há alguns meses, Titina lançou novo disco, "Cruel Destino", com excelente execução musical e o inconfundível desempenho, de quem não perdeu as raízes e traz a essência em cada pegada.

Pelos autores que canta, pelas palavras que derrama, vale a pena acompanharmos Titina, numa toada de morna enluarada até Mindelo, ficando em êxtase, embalados pelo mar e pelo timbre melodioso dessa senhora que canta o Amor e a Paz.

Apreciem a arte de Titina clicando em:






Há ainda uma entrevista muito interessante, que vale a pena seguir nestes dois links:



Texto e pesquisa de Luís Filipe Maçarico

3 comentários:

lost disse...

Então?? Eu não te disse como se pinha mesmo o video?? ai,ai.....
trenguinho......

;)

ji&Ci

Ezul disse...

Magia é a palavra certa para descrever Cabo Verde. Magia e morabeza! Do calor que se cola ao corpo e se torna uma segunda pele, da beleza do Mindelo, das culturas de milho de Santiago, do azul do oceano nas praias do Sal, das pessoas afáveis e da música sempre presente: a morna, a coladeira, o funaná… Já a conhecia de amigos cabo-verdianos mas pude confirmar a doçura infinita que caracteriza as pessoas, a alegria e a dança pela dádiva da chuva… Aí ouvi pela primeira vez a música de Baú, que envolve o mundo e o enche de luz. Só conhecia a voz de Cesária, a deusa, som que vai directo ao coração; agora mais uma voz cheia da intensidade e do sentimento que encontrei nessas ilhas.

mingogomes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.