Questiono-me, algumas vezes, pelo facto de não trazer ao blogue certas questões prementes, de que toda a gente fala. Por vezes falta-me o tempo, outras reequaciono a oportunidade e pertinência e hesito em falar no que toda a gente já falou. Fujo da banalização. Contudo, estão a suceder acontecimentos tão abrangentes, que chegam a tirar-nos o sono, como foi o caso da Ana, que ontem se manifestou anojada com os telejornais, factos e notícias aos quais é impossível ficar indiferente.
É o caso de hoje, em que duas opiniões fazem a diferença relativamente a uma questão internacional e outra interna, ambas muito preocupantes. Textos urgentes, estas intervenções que merecem pôr em acção aquela bolinha que temos em cima dos ombros, e que não serve só para decorar, como costuma dizer o meu amigo Manuel Sobral Bastos.
De Helena Galante, antropóloga, co-autora da monografia do Cadaval, associativista e cidadã atenta, recebi uma mensagem, que transcrevo, pela oportunidade e pertinência da reflexão:
"Caros Amigas e Amigos
Escrevo-lhes estas linhas porque me repugna a «nojenta» política internacional actual, na qual os principais actores são, por um lado, um certo país que se arroga defensor da liberdade, da democracia, dos direitos humanos e dos «fracos e oprimidos» (mas que semeia a violência, a guerra e a destruição em toda a parte, excepto à sua porta, claro) e seus apaniguados europeus, e, por outro lado, os desgraçados países e suas populações que sofrem os maus desígnios deste IMPÉRIO DO MAL (que tem o descaramento de apelidar as suas vítimas de EIXO DO MAL).
O que se está a passar com o conflito entre a Geórgia e a Rússia é mais uma das diatribes deste IMPÉRIO DO MAL, que usa a máquina de propaganda ocidental para continuar a fazer de nós parvos. No entanto, como tenho por mim que à primeira todos caem e a partir daí só cai quem quer, é por demais evidente que todo o cenário de guerra que se está a preparar naquela região (bem longe das fronteiras do IMPÉRIO DO MAL e próximo das fronteiras do arqui-inimigo russo, como é habitual e convém) foi meticulosamente preparado e encenado. Senão vejamos (e não vou recuar aos anos e anos em que a intriga ocidental tem procurado, e conseguido, destruir qualquer unidade que haveria nos país do leste europeu):
1. A Geórgia, isto é o seu presidente Shaak... qualquer coisa, «encostou-se» ao IMPÉRIO DO MAL confiando na sua protecção para marcar posição contra o seu vizinho e gigante russo. Até aqui nada para estranhar: é natural que um poqueno se encoste a um grande para obter protecção de um outro grande que considera seu inimigo;
2. Obviamente que a protecção tem que ser paga (já assim era na Idade Média e antes também). Deste modo, o seu novo «amigo» IMPÉRIO DO MAL terá feito as suas exigências, não sabemos quais, claro;
3. Seguidamente assiste-se à actuação de soldados georgianos na Ossétia do Sul (se com razão ou não, desconhecemos, mas coisa boa não terão feito), província de maoritária etnia russa e com pretensões a autonomia (pelo menos é o que nos dizem);
4. A Rússia invade a Geórgia, precisamente através da Ossétia do Sul, alegando que foram mortas centenas ou milhares de pessoas civis, de etnia russa, e que o faz para proteger estes cidadãos, acusando o tal Shak... de criminoso de guerra;
5. A seguir, nas televisões do Ocidente, começam a aparecer as imagens de destruição e de desgraça (o que, infelizmente, é normal numa guerra), mas, acima de tudo, COMEÇA A APARECER O PRESIDENTE DA GEÓRGIA, EM MANGAS DE CAMISA E COM UM ROSTO DE TRAGÉDIA (o que nunca se viu em Saddam Hussein ou em Milosevic) E A AFIRMAR CONTINUAMENTE QUE A GEÓRGIA NÃO CONSEGUE RESOLVER O PROBLEMA SÓZINHA E QUE PRECISA DO AUXÍLIO EXTERNO (só faltou dizer do IMPÉRIO DO MAL); É TAMBÉM NOTICIADO QUE A GEÓRGIA FEZ UM CESSAR-FOGO UNILATERAL QUE A RÚSSIA NÃO ESTÁ A CUMPRIR (é natural, pois se é unilateral a outra parte não é obrigada a cumprir);
6. Assistimos ao avanço de navios militares do IMPÉRIO DO MAL para a zona do conflito. O resto da história já nós podemos adivinhar, a julgar pelas experiências anteriores do Afeganistão e do Iraque:
1. A guerra instalar-se-á na região;
2. A Geórgia ficará destruída e morrerão milhares de pessoas civis;
3. O «amigo» do IMPÉRIO DO MAL instalar-se-á no território da Geórgia alegando, primeiro que vem proteger o amigo georgiano e, depois, que ficará para manter a paz (que entretanto destruiu) e garantir a segurança e a reconstrução (tal como NÃO fez e NÃO faz no Iraque).
Moral da estória (ou da História): PARA AMIGOS DESTES, ANTES OS INIMIGOS.
Com saudações cordiais, a vossa amiga Helena Galante"
Amigo atento fez-me chegar o endereço do blogue de Samuel, um dos cantores de Abril. Num dos seus mais recentes posts o músico reflecte a situação actual do nosso país em termos de segurança e da actuação das forças policiais:
"Duas execuções de civis por parte de agentes das forças policiais em dois posts seguidos, é uma média que espero poder baixar muito nos próximos tempos.
Qualquer pessoa com mais de dois neurónios, sabe perfeitamente que a pena a aplicar a assaltantes de estaleiros de materiais de construção, depois de provados os factos, nunca é a pena de morte.
Mais, também muita gente sabe, incluindo as forças de segurança, que os agentes não devem usar de medidas ostensivamente mais gravosas do que o próprio crime alegadamente cometido, ou que ponham em risco terceiros, caso das cinematográficas perseguições automóveis em locais com forte densidade de trânsito e pessoas, acompanhadas das tradicionais salvas de “tiros para o ar”, que o mais das vezes, atinge as pessoas pelas costas...
Sendo assim, porque é que estes casos de pessoas abatidas pelas polícias, se repetem com esta cadência infernal?
O que é que está a piorar tanto a gravidade destas fugas, que "justifica" o dedo tão leve nos gatilhos por parte dos agentes?
Por mais extraordinário que possa parecer, é porque de há uns bons tempos para cá (puxem pela memoria!), não há fugitivo que, ou por ser alegadamente apanhado a roubar galinhas, ou estaleiros de materiais de construção, ou por ser adolescente e estar a conduzir sem carta, etc, etc, etc... não há um, de há uns tempos para cá, como disse, que antes de iniciar a sua fuga não decida fazer um desvio para tentar atropelar um dos agentes.
Ninguém entende em que é que somar o assassinato de um agente policial ao furto de uns materiais de construção (por exemplo) iria ajudar o caso dos fugitivos e sobretudo, em que é que o facto de eliminar um potencial perseguidor, deixando todos os outro vivos e em estado de fúria, iria ajudar à própria fuga em si.
Embora seja um caso diferente do assalto-falhado ao BES, as reacções “populares” que ouvi na rádio, do tipo “deus me perdoe, mas isto é mesmo assim... tenho pena da criança, mas eles sabiam ao que iam...(?)”, somadas à alegria desmesurada dos responsáveis, não auguram nada de bom.
Quando os aplausos são exagerados e despropositados, os “artistas” em vez de se concentrarem para “fazer bem”, ficam, pelo contrário, perigosamente “entusiasmados”...
Para terminar, também eu quero (por enquanto...) dizer que de uma maneira geral, tenho confiança nas reais motivações dos agentes da autoridade, bem menos nas das chefias, muito menos nas motivações dos verdadeiros responsáveis políticos pela segurança do país.
Apesar das melhorias evidentes ao nível da qualidade humana e técnica da maioria dos agentes, por vezes (muito mais do que gostaria) a pose, a atitude geral, desde os fatais óculos escuros até à postura física fanfarrona que alguns exibem em público, fazem-me recear que estejam a ser admitidos na PSP e GNR, muitos jovens com um grande défice de cultura cívica e democrática, "compensada" por uma enorme "cultura" de jogos de guerra de tipo "playstation", nos quais, como se sabe, abater os "inimigos", seja pela frente ou pelas costas, apenas significa amealhar pontuação."
No Verão acontecem sempre coisas perturbantes. Fernando Gomes quando era responsável das polícias viu-se confrontado com um assalto a Lídia Franco. Noutro Verão foi a estória do arrastão. As guerras também aproveitam as águas mornas do Verão, assim as manchetes ficam com mais frisson. Que Mundo!
Foto: Vanda Oliveira; Textos de Helena Galante, Samuel e Luís Filipe Maçarico
6 comentários:
Caro Luís
O mundo sempre foi um local estranho, mas por vezes parece que tudo se conjuga para o tornar ainda pior.
Obrigado pela divulgação do meu pequeno texto.
Ainda por cima descubro que o "Cantigueiro" já mora aqui...
O "Águas do Sul" vai passar a estar pendurado na lapela do meu blog dentro de 20 segundos.
Abraço
Tudo é bastante mais fácil quando colocamos a política ou os movimentos financeiros internacionais nos mesmos horizontes das histórias infantis (infantis?): o Bem e o Mal, Amar ou Odiar. Depois de ter lido a opinião da Helena Galante,tenho que concluir que eu vivo no Império do Mal. Não foi isso que as crianças, com atrasos no desenvolvimento, que trato diariamente, me disseram ontem, no último dia de escola de Verão, através de gestos e sorrisos. Não é isso que me dizem as leis e as instituições de apoio às crianças e idosos que conheço no lado do Mal. Não é isso que me dizem as leis e as práticas contra a descriminação de raça, sexo, ou idade no Império do Mal. Não faço vénias ao Bush, não tenho saudades do Bresnev, não votei Mugab ou José Eduardo dos Santos, não sou admirador do maior império financeiro individual do mundo no México, não idolatro a furtuna pessoal do Fidel Castro ou do Hugo Chavez, etc, etc, etc. Apesar de tudo isso, ainda penso que as culturas mais equilibradas em termos sociais se encontram na mesma civilização onde se insere o Império do MAL
Um abraço, Luis. Contimuo a ser um admirador da tua poesia.
Filipe
(...)
Se algum dia acordares na noite, meu filho
oferece o meu recado a todas as pessoas:
as batalhas importantes na vida
não têm vencidos nem vencedores
herois prisioneiros e escravidões
são aquelas em que oferecemos as flores
que fazem pulsar e crescer os corações.
JFR
Tudo é bastante mais fácil quando colocamos a política ou os movimentos financeiros internacionais nos mesmos horizontes das histórias infantis (infantis?): o Bem e o Mal, Amar ou Odiar. Depois de ter lido a opinião da Helena Galante tenho que concluir que eu vivo no Império do Mal. Não foi isso que as crianças, com atrasos no desenvolvimento, que trato diariamente, me disseram ontem, no último dia de escola de Verão, através de gestos e sorrisos. Não é isso que me dizem as leis e as instituições de apoio às crianças e idosos que conheço no lado do Mal. Não é isso que me dizem as leis e as práticas contra a descriminação de raça, sexo, ou idade no Império do Mal. Não faço vénias ao Bush, não tenho saudades do Bresnev, não votei Mugab ou José Eduardo dos Santos, não sou admirador do maior império financeiro individual do mundo no México, não idolatro a furtuna pessoal do Fidel Castro ou do Hugo Chavez, etc, etc, etc. Apesar de tudo isso, ainda penso que as culturas mais equilibradas em termos sociais se encontram na mesma civilização onde se insere o Império do MAL
Um abraço, Luis. Contimuo a ser um admirador da tua poesia.
Filipe
(...)
Se algum dia acordares na noite, meu filho
oferece o meu recado a todas as pessoas:
as batalhas importantes na vida
não têm vencidos nem vencedores
herois prisioneiros e escravidões
são aquelas em que oferecemos as flores
que fazem pulsar e crescer os corações.
JFR
Infelizmente, amigo Luís, o mundo em que vivemos (o real) está perdido... Resta-nos os outros mundos: o das artes, da poesia, do sonho!
Abraço do teu amigo FM
Pois é, a mensagem do Fernando Pinto pode ser muito bonita, mas nós vivemos mesmo no mundo real e temos obrigação de tomar parte activa para que os nossos filhos e netos possam dizer que a nossa passagem não foi em vão.
Um abraço Luis
Dr. Luís Filipe Maçarico
Caríssimo Amigo
Acabei de dar uma volta pela net e deparei, no vosso ÁGUAS DO SUL que ultimamente tenho visitado com prazer, com o texto da Drª Helena Galante. Identificando-me com o seu ponto de vista sobre a questão do IMPÉRIO DO MAL, gostaria de fazer um comentário ao seu texto, no ÁGUAS DO SUL. Mas como não sei fazer isso, por causa do Registe-se..., Palavra passe, etc., tomo a liberdade de me dirigir ao meu Amigo, pedindo-lhe o favor de fazer chegar à sua colega Helena a composição que abaixo transcrevo, elaborada já em 2005, mas infelizmente ainda a fazer sentido, a que dou o título de
AMÉRICA, AMÉRICA
És a luz que ilumina a Terra com o clarão das bombas que lanças sobre ela.
És a justiça que mata por vontade de Deus.
És a mentalidade que actualiza a Idade Média.
És a democracia que encurrala índios e segrega negros.
És a liberdade que invade povos e nações.
És a caridade que dá o que antes ou depois rouba.
És a bondade que tem inimigos por todo o lado.
És a salvação que destroi o mundo.
És a verdade que engana o teu próprio povo.
Quem fecundaria quem te pariu?
Caríssimo Amigo, obrigado pela atenção.
Cordiais saudações.
Sérgio O. Sá
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