"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, agosto 17, 2007

PORTUGAL É A CHAVE DO NOVO APRENDIZADO Entrevista com Helen Dias



APETECE-ME FICAR MAIS TRÊS MIL ANOS!

Helen Karine Dias dos Reis nasceu em Divinopolis (Brasil, Estado de Minas Gerais) no dia 16 de Abril de 1978.
Encontrámo-nos algumas vezes em Évora e em Lisboa. Somos amigos, conhecemo-nos através de amiga comum. Um dia destes quis saber porque está em Portugal, pois cada pessoa tem uma história para contar.
Filha de mãe socióloga e pai motorista de carreiras de autocarro, explica assim o seu interesse por Portugal:

"Portugal fazia parte do meu imaginário. Estudamos Portugal desde sempre. O que me motivou a vir para Portugal foi a ânsia de aprender sempre mais, porque não podemos ficar colados só num ambiente, temos que procurar sempre manter a mente aberta. E como Portugal, o povo português está praticamente no sangue brasileiro, acho que é a primeira porta que se deve abrir. Portugal é aquele portão duma quinta do novo aprendizado. Chegamos aqui e temos um leque, de possibilidades imensas, enriquecedoras, agradável.
Eu acho que a pessoa que sabe abarcar tudo, para ela Portugal significa um portão, para quem gosta da procura da sabedoria, a chave."

Helen é um dos milhares de brasileiros que procuraram o nosso país para melhorar a sua vida. Porém, um Curso Superior na Universidade de Évora foi o objectivo maior. Veio para aquela cidade alentejana, que adora: "Évora tem três mil anos; às vezes eu páro e penso: Vinda de um país tão jovem e vivo numa cidade já com três mil anos! Então, eu acho fantástico e apetece-me ficar mais três mil anos!"

Helen vive há quatro anos em Évora, e diz que: “Évora é um sonho, é mesmo uma cidade apaixonante. É que eu gosto mesmo de Évora! É como se fosse um túnel de tempo, estamos ali, é diferente o ar, aquelas muralhas imponentes, aquelas ruas…”
No Brasil completou o 12º ano e um curso profissionalizante de técnica de informática. Em Évora, "fiz um curso preparatório de Matemática (7 meses) que me ajudou a ingressar no Curso de Engenharia Informática. A própria história da Universidade, só o simples facto de estudarmos num lugar histórico... para quem quer estudar verdadeiramente, é mesmo motivador."
Évora é também para Helen, "as velhinhas em geral, um poço de sabedoria. Eu estabeleci uma amizade com as velhinhas de Évora e com as professoras".

CRESCI NO MEIO DE LIVROS, NESSE MEIO EDUCACIONAL

A infância desta jovem brasileira possui um halo de nostalgia, que brilha no seu olhar, quando recorda:
"O meu pai nos deixou quando eu tinha cinco anos. Então fui criada com a minha mãe. Fomos uma família matriarcal.
O meu avô era ferroviário, ajudou a construir a linha que vinha de S. Paulo para Minas. Passou para telégrafo, só ele sabia, naquela região mexer no telégrafo. Adorava ele contar histórias do Código Morse. Andava com bengala e chapéu.
A minha avó tinha uma pensão, morava nessas casas grandes e alugava quartos.Faziam matança de porco, muito vinho, muito pão. A avó era de origem italiana: Família Brazolini...
A minha avó contava histórias: A família chegou vindo da guerra, os navios, as dificuldades, os italianos naquela época, muitos foram trabalhar no cafezal, fogo em Congonhas, o folclore brasileiro - fantasmas, mula sem cabeça...
O meu avô era daqueles fogosos. Minha avó foi lá na casa das mulheres e deu tiros à queima - roupa. Deu pezada na porta e descarregou aquilo, mas não acertou um!A minha avó casou muito jovem, teve 12 filhos, hoje são seis mulheres... O meu avô contava história de escravos, os muros feitos por escravos. Tinha duas vespas.Cresci no meio de livros, minha mãe é professora, li livros de antropologia, Maquiavel, livros sobre questões agrárias, um que se chamava "Directrizes do pensamento filosófico"... A minha mãe casou novamente e quando teve a minha irmã Luana eu estava com 15 anos. E meus amigos eram os professores amigos de minha mãe. Ela esteve na Universidade em 1989. Fez Mestrado em Diamantina. E eu cresci nesse meio educacional..."
QUERO PRESTIGIAR O PAÍS QUE ME ACOLHEU TÃO BEM
Helen é uma lutadora. O desejo de construir o seu espaço corre no seu sangue e nos seus pensamentos:"Não penso muito no Futuro. Eu penso mesmo no presente. O que posso fazer bem no presente para assegurar o futuro. E terminar o meu Curso, concerteza. Eu penso mesmo no Doutoramento.
Quero fazer o Doutoramento em Inteligência Artificial, dedicar-me à pesquisa e o que puder, prestigiar a Universidade, o país que me acolheu tão bem, de braços abertos, para mim será um prazer!"
Portugal precisa de pessoas empenhadas. Quando elas vêm de fora e aprendem ao nosso lado a amar esta terra e as suas gentes, é poesia que se entranha no quotidiano, contra a corrente. A esperança, o sonho, constroem-se assim. De mãos dadas e coração aberto. Bem Hajas Helen!
Entrevista e fotos de Luís Filipe Maçarico

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