"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, agosto 09, 2007

Abílio Duarte: A Alma do Fado



Reformado da marinha mercante, Abílio Duarte canta fado e escreve uma poesia singular, onde singeleza e erudição, ombreiam com rimas frescas e melodiosas, possuidoras de ritmo interior e sabedoria próprios. É maravilhoso, é um privilégio conviver com o ti Abílio, como carinhosamente lhe chamam a Cristina e o Jorge, um casal com problemas de visão, que o adoptaram, enquanto referência das noites do Fado Castiço, pelo humanismo que a sua postura revela.
"Em termos profissionais fui um saltimbanco, sempre entendi que trabalhar numa mesma casa era atrofiante."
Nascido em 28 de Novembro de 1937, em Lisboa, no Bairro Alto, Abílio percorreu "todo o mundo várias vezes."
Do passado guarda várias mágoas, mas como diz num poema, o seu sorriso às vezes é a fingir, para esconder o sofrimento.
Casado três vezes, lembra-se de "Salazar a mandar sobras para a Alemanha e Espanha, e a minha mãe morreu com 28 anos de tuberculose e os irmãos dela também morreram com tuberculose."
Associativista, esteve na génese da fundação do Grupo Excursionista Vai Tú, da Bica, tendo sido presidente da mesa da Assembleia nos anos 90.
Solidário, Abílio Duarte, percorreu o país, com o Fado de Abril (com José Viana, Tordo e Ary). Afinal, ele é muito mais do que uma pessoa vê.
Homem multifacetado, assinou dezenas de poemas, manuscritos e dactilografados, que um dia destes podem aparecer sob a forma de livro, concretizando o sonho, desejado por qualquer poeta.
Criado entre a Bica, a Madragoa, o Casal Ventoso e Chelas Velho, filho de pescador e mãe varina, Abílio, pelas dificuldades que enfrentou, assegura: "O Salazar ensinou-me a ser comunista".
Quem o quiser conhecer, antes do livro ser editado, pode ir, a partir do próximo mês, à Tasca do Careca, saborear boas iguarias e mergulhar na alma do fado, escutando este fadista e seus amigos.

2 comentários:

Alexandre Júlio disse...

" SALAZAR ENSINOU-ME A SER COMUNISTA"!

Esta foi a realidade de tantos e tantos homens e mulheres de todos os extractos sociais, que se viram amordaçados pela ditadura Fascista, onde os seus direitos, liberdades e garantias eram permanentemente recusados, e a quantos a própria vida.
Um grande abraço ao Abílio Duarte, que sendo amigo do meu amigo, meu amigo é.
E a garantia que hei-de passar pela "Tasca do Careca", apreciar as iguarias e disfrutar do Fado, na linguagem do povo,...
Luís, tens é que me dar o contacto e o endereço.
Aproveito para te agradecer os dois lindos postais que tivestes a amabilidade de me enviar, que Aldrada tão bonita, tão antiga e original, o Catavento ....., parabens á Aldraba por manter viva a história secular dos povos do Mediterrâneo
Um grande abraço,
Alexandre

Fernando Pinto disse...

Gosto muito de fado e, principalmente, de pessoas que têm algo (de único) a ensinar aos outros...

Abraço do FMOP