"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, outubro 25, 2005

Dar a Cara para Denunciar O Pesadelo de uma Viagem de Intercidades na Beira Baixa


Transcrevo a carta enviada por e-mail ao Jornal do Fundão, com conhecimento ao vereador da cultura da Câmara Municipal da cidade das cerejas:

Exmo Sr. Director do Jornal do Fundão, Dr. Fernando Paulouro Neves:

No passado domingo dia 23 de Outubro, como é costume, um amigo de Alpedrinha teve a gentileza de me dar boleia até à estação dos Caminhos-de-Ferro do Fundão, para poder embarcar no Intercidades para Lisboa, que pára naquela estação às 15h 51m

Ao contrário do que era habitual, a bilheteira encontrava-se encerrada, e entrei no comboio sem bilhete e, como eu, dezenas de utentes que ali apanharam a composição, na sua maioria estudantes.

Sentei-me na carruagem 26 e, apercebi-me, estupefacto, que o revisor solicitou a alguns clientes (que tinham entrado no Fundão) que se dirigissem à carruagem 28, com um bilhete que ainda não lhes garantia lugar seguro, pois teria de o confirmar por telemóvel à estação de Castelo Branco.

Ainda sem bilhete e alarmado com aquilo que acabara de observar, embora com a promessa do diligente funcionário de ficar instalado em assento provisório, a confirmar, atravessei o comboio no sentido de chegar à bem-aventurada carruagem 28, que supus estar reservada para estes casos.

Qual não é o meu espanto, quando uma avalanche invade a composição, ostentando o bilhete, afastando os desafortunados fundanenses das cadeiras, decorrendo a viagem até ao Entroncamento em ritmo de “thriller”, num constante saltitar de lugar para lugar, para alguns, tratados como se fossem prevaricadores clandestinos ou meros passageiros penetras. Embora pagando o mesmo que os felizardos que ainda têm bilheteiras ao seu dispor.
Assim se viajou. Sempre na iminência de ter de ceder o lugar a quem chegava munido de comprovativo.

Muita gente não tem nem nunca terá hipótese, por vários motivos, sobretudo os mais idosos, oriundos de um mundo rural em extinção, que a atabalhoada modernidade ocupa com estes mimos de civilizada exigência, acesso à Internet ou ao Multibanco para avisadamente reservar um milagroso ticket.
O que significa que estarão sujeitos às agruras que os argutos e inteligentíssimos gestores das siamesas CP/REFER impõem à populaça.

Como sou consequente com o que defendo, já coloquei num marco de correio dos CTT o meu veemente protesto para a CP.

Solicito e agradeço que o Jornal do Fundão retome esta problemática, porque cada utente da cidade das cerejas está a ser utilizado como cobaia de experiências constrangedoras, tratado como gado transportado em vagons de mercadorias.

Está em causa a qualidade de um serviço, que, pomposamente, o actual primeiro-ministro apregoou aos quatro ventos da comunicação social ter atingido uma melhoria, que merecia celebração mas na realidade é mais um exemplo da sua política de Pinóquio, pois além deste desaforo, os atrasos são constantes.

Não me lembro deste Intercidades (e utilizo-o frequentemente) ter chegado às 19h 30m da tabela. O usual é entrar em Santa Apolónia sempre perto das 20h, o que constitui publicidade enganosa e serviço fraudulento, para aqueles que pagam mais na mira de chegarem mais cedo.

Daqui apelo igualmente a todos os autarcas eleitos para o Executivo e Assembleia Municipal do Fundão, no sentido de defenderem os interesses da população da região postos em causa com este descalabro que têm impactos negativos em termos sociais e turísticos.
A título de exemplo, durante a viagem conversei com um senhor que tem de se deslocar com frequência à capital para se submeter a tratamento oncológico…

Até quando a artificiosa redução de custos das estatísticas manhosas vai sobrepor-se aos direitos básicos que as gerações anteriores conquistaram para podermos viver melhor?

Para quem como eu, e digo-o sem petulância mas com muita mágoa, já viajou nos comboios da Tunísia, que vão de Tunis a Gabès, ou de Tunis a El Kef, Bizerte ou Beja, com bastante agrado pela pontualidade e qualidade dos serviços prestados, Portugal está, por culpa de administrações que preferem não pagar mais uns euros ao bilheteiro do Fundão, no 4º Mundo em termos da linha da Beira Baixa, pois os horários em vigor obrigam os que têm menos possibilidades a fazer esta viagem, mudando várias vezes e demorando muito mais tempo para chegar ao destino pretendido.

Quando será que acordaremos deste pesadelo?

Luís Filipe Maçarico

(fotografia de São Baleizão)

2 comentários:

j.c.pereira disse...

Força Amigo.Esta cambada tem que ,CONTINUAMENTE, ser desmarcarada .
Abç.
JCP

zoltrix disse...

muito boa esta tua carta contra as manobras da CP/Refer. Gostei daquela do"...Pinóquio..."
Abraços