Há cerca de sete anos, estive em Monchique, com as queridas amigas (e irmãs) Marta e Natália, de Braga.
Foi um passeio de sonho, ao Paraíso. Admirámos a Pérgola, de onde se proporcionava uma visão belíssima da Serra, a perder de vista. Fomos ao ponto mais alto - Fóia, sítio de ventos eternos, onde vacas pastavam e o silêncio imperava. Perante a monstruosidade de um incêndio terrível e intervenções absurdas (breffings) de responsáveis, que chegam a explicar a incapacidade dos meios - através da personalização do vento e do fogo, como se falassem de terroristas impetuosos, ou estivessem a recitar Edgar Allan Poe, prefiro evitar resvalar para comentários outros e deixo apenas duas perguntas (como se fosse muito estúpido):
Alguém me consegue explicar como passámos do ano de 2017 (ano de devastadores incêndios florestais) para 2018, onde os incêndios ganharam nova terminologia - agora são rurais...(como se estivesse a arder a horta do tio António, quiçá as capoeiras e o pomar da tia Olívia) Durante anos falou-se, até à saturação, do êxodo rural. A ruralidade até já é motivo para Museus. Contudo, agora, os anúncios na rádio alertam quem reside em aldeias para o perigo dos incêndios rurais (como se reduzíssemos o pesadelo florestal a quintais com alfaces, couves galegas, feijões, tomates, pepinos e abóboras).
Sem querer ser mal interpretado, pois o que desejo mais é que não haja incêndios, em lado nenhum, racionalmente constato: Em 2017, ardeu o Centro todo. Agora, em Agosto de 2018, depois de Marvão e Castro Marim, onde se verificaram incêndios, que foram notícia, a Natureza em Monchique e Silves (concelhos com inúmeras localidades) arde há seis dias.
Se como vejo, oiço e leio, os eucaliptos são esmagadoramente maioritários, o Verão (ou Primaveras e Outonos mais quentes) vão continuar a devorar o território rural, onde essas árvores serão combustível para insuportáveis reportagens televisivas, com pseudo jornalistas a perseguir velhos, para gravarem a sua dor em directo.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)
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