"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, junho 23, 2015

Tentativa de Privatização de uma Festa no Alto Minho


Que raio de povo é este, que só reage no futebol - e de forma desastrosa?
Que tipo de gente é esta, que se alheia da herança patrimonial, recebida dos seus antepassados e permite (ou colabora) na desaparição do que nos distingue, na arquitectura popular, nos monumentos de antanho, nos centros históricos, transformando praças nobres [com pelourinhos vetustos ou catedrais emblemáticas] em parques de estacionamento, destruíndo os materiais antigos, substituíndo - em nome da liberdade individual - a porta de madeira, pelo alumínio, que nem sequer imita a madeira, diversificando tipologias, tornando aldeias, vilas e cidades em paisagens de pechisbeque e sucata?
Que sangue corre nas veias, destes "heróis do mar/ nobre povo, Nação valente", que no Minho da pancada de criar bicho, em feiras, por dá cá aquela palha, varridas a varapau, segundo os escritores (estarei errado na geografia?), dos excessos, por causa das divisões de propriedade e da gestão da água, deixaram alguém registar uma festa comunitária, em nome de um grupo restrito?
Cito uma amiga professora, para quem "A tradição não é pertença de ninguém em particular, mas de uma comunidade."
A providência cautelar movida pelo presidente da Comissão de Festas da Senhora das Neves, em Barroselas (Viana do Castelo) tentou proibir o Núcleo Promotor do Auto da Floripes, de representar aquele texto, que é um património bicentenário da Comunidade.
A judicialização e a privatização das festas, começou a ser ensaiada por aquelas bandas. 
Mas o mais extraordinário é a mansidão do povo...[Serei incivilizado?]
Que geração é esta, que permite todas as humilhações, sem reagir e teve de ser o Tribunal a decidir (segundo a Rádio Geice), que a Comissão, no dia 5 de Agosto, representa o Auto, em exclusividade, mas que durante o resto do ano qualquer cidadão pode representá-la?
Sem querer ser acusado de defensor da violência, sempre vos digo que tenho a certeza, que em alguns locais do país, quem se atrevesse a  patrimonializar um ritual, que passou de geração para geração, através da memória oral, levava um enxerto de porrada, que ficava logo com amnésia e nunca mais pensava em apropriar-se do que pertence ao colectivo.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

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