"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, junho 16, 2015

Companhia Luminosa

                                             


A Catita viveu largos anos da sua existência, na minha rua, sem eu quase dar por isso...
Habituado a sair cedo do bairro e a voltar, muitas vezes, à noite, ignorei o seu desempenho.
Mas ela sempre permaneceu aqui, de volta do restaurante-esplanada, onde conquistou amigos, devido à sua doçura e formosura.
São diversas as vizinhas, que a apaparicam e até a Aurora, antiga vendedeira, ao ver as fotografias que fiz esta tarde à Catita exclamou: "Olha-me os olhos desta gata! Tão linda!
Ninguém escapa ao seu fascínio felino.
Houve em tempos uma idosa que logo de manhã, vinha ter com ela e a esplendorosa gata ia esperá-la ao autocarro, o seu ritmo biológico sabia que era hora de mimos especiais, deliciando-se com as iguarias que a senhora lhe trazia todos os dias...
Um dia deixou de vir e a Catita deve ter sentido que a amiga partira.
No primeiro trimestre deste ano, desenrolaram-se inexplicáveis acontecimentos na minha vida e de repente, a Catita, começou a vir ter comigo, quando assomava ao largo onde fui criança e envelheci, acarinhando-me, protegendo-me...
Nasceu então uma bela história entre o humano e o animal e por vezes, compro tiras e patés para lhe oferecer e é com enorme prazer que a vejo delamber-se, com essas oferendas.
Esta tarde dei comigo a fazer nova sessão fotográfica com esta princesa, que tem olhos cor de céu, pensando que a vida, com estes pequenos pormenores, nos ensina o quanto a caminhada pode ser compensadora e mágica.

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Há dois anos, numa Urbanização de Braga, com simpáticos ajardinados de relva e árvores, um gato de rua, baptizado pela amiga Marta de Zulinho, foi resgatado, após um ataque - felizmente não consumado - de um rotweiler, ou solto, ou abandonado pelos donos, que como sabemos, aproveitam o Verão para se ver livres dos animais, sejam eles cães, gatos ou até tartarugas....
A Marta recolheu o portentoso gato e ele foi-se habituando a conviver com outros irmãos que ela foi retirando do abandono.
Ontem, o Zulinho deixou de habitar o planeta.
Não há muita gente como a Marta. No Facebook parece que abundam. Imagens e likes são recorrentes. Mas atitudes consequentes, como ela tomou, não me parece que sejam comuns.
No Mundo em que vivemos é fácil estar de acordo com a ideia de protegermos os animais, mas ser consequente é bem diferente.
Confesso que no meu caso específico não tenho casa para albergar outro ser, tal é a exiguidade e o desalinho do espaço.
Não quero porém deixar passar este momento, sem registar a minha solidariedade com as Martas deste mundo, que dão o seu afecto aos bichos indefesos e celebrar a ternura com as Catitas e os Zulinhos que enriquecem os nossos dias nas cidades, brindando-nos com a sua luminosa companhia.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)


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