"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, agosto 19, 2014

A Propósito de Algumas Festas Inventadas em Portugal


Por todo o lado e desde há anos, revive-se o Passado ou evoca-se o Outro, de forma exotizada, para agradar a Gregos e Troianos e proporcionar uma boa afluência de visitantes, integrando nas agendas turísticas esses eventos.

Por vezes, é em torno de uma realidade contemporânea, em mudança, como a Transumância, ou o chícharo.
Outras, é a memória de patrimónios históricos, que ressurge: Feiras Medievais, Festivais que têm o imaginário islâmico como medida, celebração de Forais, etc.

Uma panóplia de animadores circula pelo país, integrando novas profissões, decorrentes destas celebrações, que alguns investigadores notam ser uma forma da população evadir-se de um quotidiano infeliz, com o galope do desemprego, dos cortes nos salários, dos aumentos de impostos e suas consequências nefastas.

A beleza e harmonia do Festival Islâmico, com a Comunidade local e intervenientes árabes (vendedores e músicos) oriundos do Norte de África, concebido para a secular Mértola, de dois em dois Maios, é diferente da Feira Medieval de Silves, onde a representação de torneios, perseguições e pomposos desfiles, presentes na festa inventada, marca o evento, com a celebração do lado guerreiro do antigo reino cristão.

Em Faro e Sintra, para dar o exemplo de dois palcos mais recentes, do folclore pseudo mourisco ("Arabian Days"), ou em Castro Marim (celebração com alguns anos de realização), a saga da animação repetitiva impera.

Nunca fui a Vila da Feira, onde me garantem estar sediado o Festival mais credível, em termos da ressurreição das evocações medievalistas. Estive o ano passado em Sortelha, onde também se festejou o tal passado imaginário.

Há nisto tudo um dado positivo:
1- para a retoma, pois é dinheiro que é aplicado na vida das Comunidades, circulando, através das tasquinhas e lojinhas, onde se provam pitéus e se guarda o "souvenir", para familiares e amigos.
2- Os artistas alternativos actuam: Por vezes, elas, dançando a dança do ventre, enquanto eles interpretam melodias trovadorescas, recolhidas em cancioneiros ancestrais.
3- Os jovens ficam a saber qualquer coisa de História, recorrendo depois, se houver curiosidade para isso, aos livros ou à net.

Vivam as recriações Históricas, que as Feiras e Festivais genuínos proporcionam!
Vivam os Municípios e outras entidades, que os promovem!
Vivam todos os participantes!

O problema reside naqueles festejos, que deixaram de ter a orientação inicial e se transformaram em meros momentos de desbunda alcoólica, que acabam por não prestigiar, nem as organizações, nem os frequentadores.


Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

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