O ano passado, mais exactamente em Setembro de 2013, olhei de novo para o património imperceptível de uma vila que tanto me toca, em termos do meu percurso pessoal, da História local e dos afectos, e pensei: um dia destes tenho de inventariar e fotografar as aldrabas e batentes de porta existentes...
No final da Primavera de 2014, ou seja, nove meses depois, ao voltar à terra, desapeteceram-me poemas e vocábulos macios e luminosos.
Os diversos responsáveis autárquicos, poderes e oposições, têm estado desatentos.
No perímetro considerado zona a preservar, multiplicaram-se, como cogumelos, as portas de alumínio, com tonalidades que nada têm a ver com harmonia e tradição, quer-se dizer, nem sequer se imita a cor da madeira, desvirtuando-se das mais diversas formas o princípio da salvaguarda do centro histórico. E quanto às jóias saídas de forjas que não voltam, desapareceram, dando lugar a rutilantes e feias maçanetas e puxadores que evidenciam a ausência de interesse pelo trabalho dos velhos ferreiros.
Não é de agora, é certo. Há muito que janelas manuelinas ostentam persianas, estando o povo nas tintas para o património identitário, para a vaidade de poder apresentar portas, janelas, casas, ruas, com uma marca distintiva, qualitativa, que propicie o turismo, visitantes, riqueza cultural. As autarquias deveriam ter promovido o valor desses materiais.
Por outro lado, se a festa sazonal se confunde com outras, repetindo o ambiente de folia e bebedeiras, usuais noutras paragens, que atraiem multidões, para quê esforçarem-se para fazer diferente?
O município respectivo perdeu o controle dessa festa reinventada, onde é possível assistirmos a tendeiros oriundos de freguesias do concelho não cumprirem as regras. E de alguns habitantes transformarem parte do território do evento, numa discoteca, que vomita puro ruído dia e noite, sem parança.
Os poemas tropeçaram em estrofes, como "terra mágica".
Tentei escrever. Mas a inspiração atrapalhou-se...
Nem a paz, nem a liberdade, nem o património sobrevivem à agressividade dos ignorantes.
Só pode amar o património, a liberdade e a paz, quem conhecer o seu valor.
Luís Filipe Maçarico
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