No 7º Festival Islâmico de Mértola, que acabou este domingo, apresentei mais um livro, uma vez mais edição de autor.
A sessão de lançamento ocorreu, durante o Festival, animando um espaço incontornável, onde se estuda o Mare Nostrum e o Passado Islâmico, que foram a base do Mestrado que frequentei, ao longo de dois anos, às sextas e sábados, com aproveitamento e apresentação de uma dissertação em torno da chamada "Mão de Fátima", das efabulações que se foram construíndo sobre esse símbolo.
No final, antes dos autógrafos, a Poetisa Maria José Lascas leu dois poemas da "Ilha de Jasmim" e a Professora Manuela Barros e o Dr. Juíz Luís Teixeira, colocaram questões ao autor, que aproveitou para falar das suas andanças na pátria de Moufida Tlatli e Anouar Brahim.
No final, antes dos autógrafos, a Poetisa Maria José Lascas leu dois poemas da "Ilha de Jasmim" e a Professora Manuela Barros e o Dr. Juíz Luís Teixeira, colocaram questões ao autor, que aproveitou para falar das suas andanças na pátria de Moufida Tlatli e Anouar Brahim.
Susana Gómez recebeu os presentes, aludindo à bela experiência do Mestrado "Portugal Islâmico e o Mediterrâneo", que nos enriqueceu a todos, e, com a gentileza que a caracteriza, saudou o autor, a quem proporcionou que o Campo Arqueológico se abrisse para esta partilha.
Para Cláudio Torres, "Ilha de Jasmim", trata-se de "Este livrinho, que não sendo
científico, é um mergulho de vistas leves, cheiros, esta visão da Tunísia
do Sul, que também me encantou...Nós fazemos parte deste mundo das paredes de cal, no passado comum, ainda no nosso presente e talvez ainda do nosso futuro...
Luís Filipe Maçarico começou por agradecer ao Campo Arqueológico de Mértola, por lhe ter sido possível fruir aquele magnífico espaço, para a apresentação do seu livro, agradecimento extensivo aos seus Professores e à presença da numerosa assistência.
Depois, revelou:
"Esta semana, o tunisino Houssem Eddine, almoçou comigo, na Casa do Alentejo, antes de viajar para Mértola. Falámos das coisas mágicas, que a vida nos pode proporcionar, como as ruas de Tunis, no auge da Revolução de Jasmim, terem um aroma diferente, feliz, uma frescura indizível que me fez lembrar aquele cartaz de Vieira da Silva onde se afirmava que a Poesia Está na Rua!
Enquanto praticantes da ideia de um Mediterrâneo uno, onde cada um de nós se sente bem na casa do Outro que também é a nossa, petiscámos uma salada de grão com bacalhau e cogumelos fritos, à moda de Marvão, que o Bruno do bar do Pátio Manuel da Fonseca inventou.
Houssem Eddine recordou-me então uma frase que o marcara e que eu lhe dissera em Agosto de 2010, diante do Guadiana: a Liberdade é uma Flor, que tem de ser regada todos os dias, pois não é seguro que se mantenha, se não a tratarmos com cuidado.
Confesso que fiquei com lágrimas nos olhos, quando ele partilhou a experiência dos dias da Revolução, revelando que um dos ícones - o rapaz que segurava uma gaiola aberta com a bandeira da Tunísia, numa foto que correu mundo - morrera num acidente e que com as medidas do actual governo, muita gente não resistiu aos ataques de coração...
Houssem Eddine levou os meus três livros de poemas escritos no seu país e talvez um dia regresse, com uma antologia desses versos, traduzidos para árabe.
Despedimo-nos com vontade de resistir - e sonhar - pois que valor pode ter uma vida, se não houver sonho?
Este livro também é uma forma de resistir e persistir, pois querem-nos amorfos e medrosos.
Houssem Eddinne, nessa tarde, diluiu-se na multidão que rondava o Rossio, para ir ver o Mar, antes de partir para o sul.
Esse mar que levou Ulisses a Jerba, ilha de sereias onde a deusa Tanit permanece no nome de hotéis, praias e no imaginário, ao ponto de uma cientista social afirmar que as noivas reproduzem o gesto com que a deusa é representada, mostrando as mãos aos convidados, ao nível da face.
Nesse lugar mítico, Ghomrasni Mabrouk levou-me a sua casa, apresentou-me Monia, vinda da comunidade berbere de Ksar Hadada, cujo nome, segundo ela "Cést moderne!"
Em Alpedrinha, outra Monia, com a mesma idade, foi, tal como a sua homónima, baptizada a partir de uma canção de Peter Holm.
Provavelmente, nunca se conhecerão, mas eu tenho o privilégio de conhecer uma e outra, entre viagens.
Mabrouk comerciante de frutos secos apresentou-me Jerba. Conheço bem o quotidiano dos cafés, do pequeno bazar de Houmt Souk, dos restaurantes, dos hoteizinhos, que funcionam em antigos albergues das caravanas do deserto.
O pintor de Jerba, Béchir Kouniali, registou nas suas telas, a azáfama dos mercados, dos menzel, aldeias do interior da ilha, onde existe o jardim de Maboubine, verdadeiro oásis com romãs e tâmaras e mulheres que vestem tecidos brancos com barras coloridas e chapéus de palha.
Jerba são os felouque, barcos de vela latina e os muezzine, cuja missão é chamar os crentes para a oração. Nos ritos das mesquitas de Jerba, sobressai o cântico que lembra o legado andaluz.
Estes dois tunisinos contribuíram para reformular o meu conhecimento acerca da chamada Mão de Fátima, pois foram eles os primeiros a alertarem-me para o facto de ser uma invenção para turistas...
Os poemas da "Ilha de Jasmim" foram escritos, em viagens sucessivas, registando momentos únicos, como aquele que aconteceu em Lisboa. O encontro com o Outro enriquece a nossa caminhada.
E enquanto não regresso a Jerba, ficam estes versos.
Espero que um dia também possam conhecer Jerba, lugar único onde a Poesia e a Liberdade, podem florescer, como o Jasmim..."
Texto Luís Filipe Maçarico
Fotografias de Maria José Lascas e Ana Isabel Carvalho
9 comentários:
Um encontro fraterno entre amantes do Sul à roda do aroma de jasmim colhido pelo Poeta na Ilha de Jerba, agora destilado em palavras perfuma-nos.
Poesia e prosa sempre apetecíveis... Liberdade? Onde foste parar, onde fugiste? Que desencanto me invade a alma...
A prosa e poesia são sempre deliciosos. A Liberdade paraonde foi? que desilusão me invade...
Tenho a certeza que foi um momento maravilhoso, pena tenho de não estar presente. A minha dor irá passar!
Parabéns ao Luis por mais este trabalho e um abraço fraterno a todos os presentes.
Fico à espera do 20º... que seja em breve! Abraço. Jorge Cabral
Ficamos à espera do 20º... e que seja em breve! Grande abraço. Jorge Cabral
O encanto de outros mundos onde nos sentimos bem e onde deixamos um pouco de nós quando partimos.
É decerto um livro encantado.
Um abraço
Luis
Sabes que teria todo o gosto em estar presente, não só no Festival, que há tanto anseio conhecer, mas principalmente para partilhar contigo e com os presentes a apresentação do teu 19.º livro, que vindo do sul, só pode trazer emoções quentes e livres.
Aguardo o 20.º livro, mas antes, quero muito este, nas minhas mãos, para desfrutar dos teus versos mágicos, onde a palavra é sempre luz e sonhos, no voo da liberdade que tanto amamos.
Beijo e Parabéns pela partilha, aqui no blog e no face...
Abraço redondo...
(aguardo o livro...)
Muito obrigado mi querido amigo Shokran...me encanta esta "Griffonnages"
un fuerte abrazo
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