Nascido em 19 de Fevereiro de 1943, na aldeia de Penusinhos,
Ventosa, Alenquer, Ildefonso Valério estudou em Alenquer, Santarém e em
Lisboa, no Liceu Passos Manuel.
Fez o Curso de Relações Públicas do Instituto Novas
Profissões, na capital, trabalhando até 1969, como funcionário da Biblioteca
Nacional.
Em 1972, assumiu os primeiros trabalhos de dramaturgia
e encenação, com grupos de amadores de teatro, no concelho de Alenquer. Em 1973
apresentou "No País dos Caracóis" na Voz do Operário, sendo
censuradas muitas páginas pela PIDE. Carlos Porto escreveu um texto sobre esta
peça.
Tenente da Força Aérea, no 25 de Abril, desempenhou o
cargo de Vereador na Câmara Municipal de Alenquer. Em 1974 envolveu-se
também na dinamização do Grupo de Teatro da URDA.
Entre 75 e 76 estendeu a sua acção à Cooperativa
Colóquio.
Entrou no Grupo de Teatro de Campolide, após
1976. Com a futura Companhia de Teatro, já em Almada, participou na redacção da
revista "Programa". Em 1977, foi co-autor, com Virgílio Martinho, de
"1383", texto teatral, baseado na Crónica de D. João I, de Fernão
Lopes (publicado na Caminho).
Em 1978, na sequência de um curso de iniciação
teatral, encenou a peça "Histórias para serem contadas", de Osvaldo
Dragún, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, Lisboa.
Em 1979 adaptou "A Queda de um Anjo", de
Camilo Castelo Branco e trabalhou no Grupo de Teatro da Academia Almadense. É
desse ano, a sua peça "O Roubo do Gado à Cooperativa Vitória do
Sado".
Em 1980 foi integrado na Câmara Municipal de Vila
Franca de Xira, como animador cultural.
Em 1981 encenou no Grupo "Esteiros" de
Alhandra, um excerto de “Os Esteiros” e o conto “Mais um Herói”, de Soeiro
Pereira Gomes, adaptado por si.
Em 1982 encenou
"António José da Silva", de Virgílio Martinho e "A Ilha dos
Lagartos", de António José da Silva, o Judeu, no Teatro do Povo, em Vila
Franca de Xira.
Em 1983, com o Grupo de Teatro Juventude de
Castanheira, levou à cena "Farsa do Mestre Pathelin".
Em 1984, no Teatro do Povo, em Vila Franca de Xira, encenou
"O Destino Morreu de Repente", de Alves Redol e com o Grupo Teatro
Juventude de Castanheira, "O Dispensário", de Sean O'Casey.
Em 1986, na sequência de um Curso de Teatro que orientou
na Casa da Juventude e da Cultura de Alverca, encenou "O Bilora", de
Ângelo Beolco. Resultado do trabalho com o grupo de formandos, fundou com estes
o Grupo "Cegada", na Casa da Juventude e da Cultura de Alverca,
Em 1987 venceu o 1º Prémio do Concurso de Originais
para Teatro CITAP, na Amadora, com o trabalho "O Pimpão".
Com o Grupo "Cegada" apresentou
"Teatremas e Musicações", com pequenos textos para café-teatro, de
sua autoria e de Virgílio Martinho. Dessa época, são os seus textos teatrais
"Numa estação da CP" e "O Padre, o Diabo e o Micróbio",
entre outros. Seguiu-se a representação de "A Árvore das Patacas",
texto de sua autoria, e as encenações de "A condenação de Lúculo", de
Brecht e "Farsa de Inês Pereira", de Gil Vicente.
Em 1988, no concurso de textos para teatro, organizado
pelo Teatro da Malaposta, a sua peça original "Santos Cacetes" obteve
uma Menção Honrosa.
Entre 1982 e 1989 foi professor de teatro, na Escola
Secundária Professor Reynaldo dos Santos de Vila Franca de Xira.
Em 1991, encenou duas peças de Karl Valentin,
seguindo-se "Esganarelo ou o cornudo imaginário", de Molière,
"Antes a Sorte que tal morte", de Raúl Brandão, "O Auto da
Índia", de Gil Vicente. Em 1996, "O Sangue dos Bamberg", de John
Osborne.
De novo Karl Valentim - "WrdlbrmpFd",
prosseguindo em 1998, com "Uma Nuvem Perdida na Cidade", de Natércia
Rocha. Em 1999, "D. Rosinha a Solteira" de Federico Garcia Lorca.
É ainda em 1999 que realiza a sua última encenação,
criando um espetáculo a partir da selecção e tradução do "Pranto por
Ignacio Sanches Mexias", de Frederico Garcia Lorca, para a Semana da
Cultura Tauromáquica, levado à cena na Praça de Toiros de Vila Franca de Xira,
com o elenco do Cégada.
No Grupo Cegada, foram catorze anos de intensa e
dedicada actividade. Ana Capucha, sua companheira, no palco e na vida,
considera que a sua "dedicação era encarada como um dever cívico e de
militância" e diz que "todos eles [os actores amadores que
trabalharam com ele] dizem que aprenderam com as dramaturgias e as encenações, muito mais do que poderiam imaginar,
e por isso lhe chamavam Mestre, tanto que alguns escreveram, nos cartões das
flores que lhe ofereceram, aquando da sua morte, "Obrigado por tudo o que
nos ensinaste””.
Em 9 de Novembro de 2005, Ildefonso Valério faleceu,
na Graciosa, Açores, quando em representação da Biblioteca Municipal de Vila
Franca de Xira, participava na iniciativa "Hora do Conto". Nesse ano
tinha concluído uma nova revisão do romance inédito "O Cabo das
Tormentas."
Uma vida como a deste homem não pode ficar no
esquecimento. Porque como diz Ana Capucha "ele fez teatro porque queria
interferir, pôr o pauzinho na engrenagem, daí fazer tanto teatro como
encenador, sobretudo com grupos amadores. Transbordava de criatividade e engenho
na escrita e, apesar das dificuldades, umas fruto de incompreensão e desprezo dos
poderes pela cultura, outras quase que a sugerir uma baixa auto-estima, dedicou
à produção literária os seus melhores esforços e saberes".
Devemos-lhe, muitos dos que aprenderam com ele a
Liberdade, a desinibição, a Cultura, essa entrega, esse empenho, essa preciosa
ajuda, que nos fez chegar aqui, com outro olhar.
Ele ensinou-nos, que a dimensão do sonho, tem a ver
com o golpe de asa, com a energia dos pés na caminhada, forjando os rumos do
futuro… A resistência, que aprendemos com a sua postura, bem reflectida na
obra.
Os heróis do Ildefonso encontram-se no povo, que
constrói cultura, com os seus saberes.
Para Inês Valério, a vida do pai enquadra-se nesta
perspectiva: "há uma necessidade …, as
pessoas querem fazer tudo, mas depois, os interesses pessoais e políticos [dos
indivíduos com poder] sobrepõem-se a tudo."
Por isso, e segundo Ana Capucha, "Em 99
desiste [de encenar], porque sentiu que estava a atirar o barro à parede."
Sábado passado, começou uma segunda vida, para este Amigo, que será evocado num trabalho, a realizar ao longo deste ano e a apresentar em 2014.
A todos os que com ele conviveram e trabalharam, agradeço que façam chegar os vossos testemunhos, para lmacarico@gmail.com.
Texto de Luís Filipe Maçarico e Ana Capucha.
Agradecimento a Ana Capucha e Inês Valério, pela possibilidade que me foi dada de consultar abundante documentação (peças de teatro, poemas, recortes, fotografias,programas, biografia, o vídeo "20 Anos 20 Cortinas Cegada - Grupo de Teatro 1986-2006", "Autores Locais Contemporâneos Biografias", da Câmara Municipal de Alenquer, Gabinete de Bibliotecas escolares, Dia Mundial do Livro, 2006) e pela partilha da fotografia, que continua em cima da secretária, onde Ildefonso trabalhava.
5 comentários:
Li com atenção o empenho deste homem, e como diz Ana Capucha " por vezes é deitar barro à parede". Compreendo perfeitamente a desilusão daqueles (as) que querem transformar e intervir nesta sociedade depenada.
Um abraço Luis
Olá Luís
Fico muito satisfeita de saber que o trabalho do Valério é conhecido e valorizado... Tive o privilégio de aprender e trabalhar com ele no Cegada Grupo de Teatro em 1999!
Não li o texto todo com atenção mas reparei que tem uma pequena imprecisão... é que a peça "A Crónica Atribulada do Esperançoso Fagundes" já não foi encenada pelo Valério, mas sim pelo Álvaro Gomes e pelo José Teles.
Espero ter oportunidade de escrever e enviar por mail o meu testemunho... e já enviei a ligação deste artigo por mail para os meus amigos do Cegada que também trabalharam com o Valério... Até breve e bom trabalho
Cara MDC. Que bom ter comentado (e ter trabalhado com o nosso Amigo!). Bem haja pelo reparo, já corrigi. Gostaria de ter os vossos contributos, que desde já agradeço.
Ora que rica ideia! Uma biografia desse senhor, com quem tive o prazer de trabalhar, conviver e ampará-lo no último suspiro...
Ora que rica ideia! Uma biografia desse senhor com quem tive o prazer de trabalhar, aprender, conviver e poder ampará-lo no último suspiro de vida... Bom trabalho. Ajudarei no que for preciso.
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