"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, novembro 09, 2012

O Olhar da Investigação Literária e da História (Etnografias, Etnografismos) no Colóquio "Alves Redol e as Ciências Sociais"

Num dos painéis do Colóquio "Alves Redol e as Ciências Sociais", ocorrido ontem de manhã, o Professor Vítor Viçoso, especialista na investigação da literatura neo-realista, fez uma abordagem à obra do autor de "Avieiros", que seguimos com redobrado interesse, pois versou sobre o etnografismo e o universo ficcional do escritor.

Este investigador escreveu anteriormente que:

“Ao etnografismo estilizado e domesticador do Estado Novo, opunham os neo-realistas um etnografismo da dignificação popular, húmus donde se iriam gerar as suas obras. Por isso Alves Redol precedia a laboração dos seus romances com uma presença junto das comunidades rurais a representar ficcionalmente (…), de molde a captar o seu sociolecto específico, o seu folclore e as suas vivências. Este material recolhido, com bloco de notas e máquina fotográfica, seria posteriormente montado nos seus romances de acordo com a perspectiva criativa e empenhada do autor. Deste modo o eu-etnográfico distanciado transfigurava-se num eu que comungava das vivências populares, pelo que o seu universo romanesco tem uma dimensão coral, numa interacção, no plano da linguagem, entre o sociolecto popular e a sua voz “erudita”. *
 
O painel "Etnografias, Etnografismos", contou igualmente com João Madeira (Acerca do Inquérito em Alves Redol), historiador, que confirmou:


“O seu trabalho é o de um etnógrafo. Descreve instrumentos, artefactos, edifícios, fornos, associa-os ao trabalho concreto, à sua função económica e ao respectivo modo social de uso. Resgata costumes e tradições, atém-se às festas e às crenças; não deixa de fora o vestuário ou o cancioneiro, os bordados ou as danças. 
(…) 
É com o rigor da observação etnográfica que enquadra na trama narrativa toda a fase final do ciclo produtivo do arroz. Regista cuidadosamente expressões colhidas nos campos alagados, esboça objectos, anota as suas funções, cruza-as com as leituras feitas, escreve pequenos textos explicativos de situações, protagonistas, topónimos.” **

Ouvimos igualmente David Santos, director do Museu do Neorelismo, que dissertou cerca de"Etnografismo e Tauromaquia em Alves Redol", salientando a lucidez do intelectual, ao incluir nas suas reflexões, motivadas pelo facto do toureiro José Júlio ser seu primo-irmão, o ponto de vista daqueles que não apreciam touradas...
Este painel foi moderado por Ana Paula Guimarães, exemplar nesse desempenho. 

Antecedendo este painel, o programa incluiu - no dia anterior - comunicações de Luísa Tiago de Oliveira (As Franças de Redol) Inês Fonseca (Guardadores de vacas, de sonhos...e de memórias)

LFM (Notícia e fotos)

* VIÇOSO, Vítor Pena. “Ler Hoje o Neo-Realismo”, http://www.esquerda.net/dossier/ler-hoje-o-neo-realismo 
** MADEIRA, João “Redol, de Vila Franca a Lisboa e de Glória a Gaibéus”, Disponível na www: http://www.esquerda.net/dossier/redol-de-vila-franca-lisboa-e-de-glória-gaibéus



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