Depois de umas férias, com colegas do trabalho (anos 80), em que o Verão
era fruído, em colectivo, numa casa de onde se escutava o mar, rente à
falésia, após diversas passagens de ano e várias escapadelas, a
Zambujeira deixou de me encantar, apesar de continuar linda, ao
crepúsculo.
Da última vez que ali pernoitei com um grupo, a morada era outra, no meio da vila, funcional, mas com um imenso senão - nas traseiras, havia um bar/discoteca que vomitava, ao longo da noite, pessoal burbulhento aos gritos, na euforia que os primeiros vapores de álcool causam aos adolescentes.
Queixei-me à velha locatária, dona de um mini mercado, que suponho deu lugar a uma loja chinesa, pois ou está num lar, ou deu-lhe o badagaio and the show business must go on.
A mulher quase nem me deixou acabar, reagindo com uma desfaçatez que me tirou do sério: "Ah vocês querem ter o desenvolvimento na cidade e nós no atraso?"
"Ó minha senhora se isto é desenvolvimento, eu não volto a ficar aqui mais!"
Apenas regressei para matar saudades do senhor Rita, do seu café-restaurante e da paisagem. A velha vivia certamente num monte, resguardada dos altos decibéis que tanto me incomodam. Deve ter sucumbido de tédio, por não poder ter quinze anos, para poder apanhar uma tosga colossal e berrar, até ser ouvida em Marraquexe.
A Costa Vicentina foi mais que um postal ilustrado: era genuína, um pouco selvagem. E eu pude mergulhar nas suas águas e sulcar as suas dunas.
Muita coisa mudou. Mesmo que este ano, a Quercus lhe tenha atribuído a distinção de praia das águas de ouro, o trauma ficou. Já não sou adepto do sítio, tendo em conta a mentalidade da qual a velha desta história Sur(real) foi mensageira.
O meu eterno desejo de fruir paraísos é o oxigénio dos meus sonhos.
Continuarei a procurá-los.
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