"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, julho 08, 2012

Odeceixe: Uma Fauna Ruidosa

Até nas férias conseguimos ter um retrato do país. 
Os comportamentos revelam a cultura (ou a falta dela) do povo.
Em Odeceixe, freguesia do concelho de Aljezur, onde descanso há vários anos, uma parte dos veraneantes - sobretudo mais novos - têm um costume, que importa registar: bater com as portas, em vez de as fechar, quando saiem do quarto da residencial, ou quando reentram. 
Nada de procurarem evitar incomodar os outros, agarrando levemente na maçaneta enquanto fecham a porta à chave. 
O ruído está-lhes no ADN - falar alto, deixarem um rasto estrondoso é a sua marca.
Os rebentos já os imitam. Ontem assisti ao desapontamento de uma rapariga, que veio à recepção lamentar que uns miúdos tivessem feito do corredor estádio, impedindo-a de repousar...
Olha-se para esta fauna e topa-se que a formatação para o stress os acompanha em tudo - no comer, no conduzir, na forma de estar.
A mesma ansiedade que os leva à Azenha do Mar, no intuito de comer marisco, porque ouviram dizer que ali não sei quê... perguntando constantemente se falta muito, para poderem deglutir os bichos (na Azenha é costume fazermos uma inscrição, aguardando na esplanada, entre cervejas, petiscos, conversas e o entardecer, uma hora ou uma hora e meia, pelo lugar à mesa)...


Os Coelhos, os Portas e os Relvas não desempenham o seu papel por acaso...mesmo que esta gente jure a pés juntos que não votou neles, a verdade é que o grotesco de uns e outros confunde-se e reflecte-se no espelho que é o quotidiano, mesmo quando só alguns vão de férias. (Ontem, regressei  num expresso que trazia apenas, nesta altura do ano, dezassete pessoas...)

Apetece citar O'Neill:

ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato! 

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

Sem comentários: