"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, maio 30, 2010

Em Mértola com os Ismaelitas


















Uma vez mais rumei a Mértola, agora sem o prazer das viagens de comboio, pois o percurso Lisboa- Beja está em obras durante um ano (passando-se o mesmo no ramal de Évora).
Em Beja, a espera foi quase de 3 horas, contudo aquela hora ritual, entre a cidade farol do Baixo Alentejo e o reduto fascinante onde Cláudio Torres e a sua equipa desvendaram séculos de História do Al-Andalus, que os poderes mistificavam, constituiu o costumado bálsamo de lavar a alma com as paisagens alentejanas.
Chegado a Mértola, cada passo constitui momento de alegria pelo reencontro com pessoas e recantos, com moldura de nuvens.
E lá estão o pintor Manuel Passinhas e a professora Susana Goméz, como o senhor Artur da venda ao pé do mercado, mais a companheira Nádia dos sonhos mais coloridos e o senhor Henrique do café Guadiana, ou o senhor Ruas do Tamuge, a dona Teresa do Oásis e tantos outros.
Cinco dezenas de pessoas da Comunidade Ismaelita visitam a vila Museu. Com eles, vem a antropóloga Faranaz Keshavjee e desde a visita aos achados arqueológicos da alcáçova do castelo ao almoço de borrego com couscous e à tarde de partilha de saberes e vivências, o dia foi magnífico.
Cláudio e Faranaz, em português e inglês, com tradução exemplar do Marco Valente, foram as estrelas da tarde, secundados por vários investigadores que, em Londres, frequentam um curso universitário, aprofundando conhecimento sobre o Islão contemporâneo, na vertente ismaelita.
Faranaz Keshavjee é um daqueles casos em que as nossas expectativas correspondem à realidade: cidadã luminosa, aberta à reflexão, compartindo a experiência de uma muçulmana de rito minoritario, entre sunitas e xiitas, tal como sucedeu, por exemplo numa ida ao Egipto em que a diferença de gestos acabou por motivar um comentário de uma senhora que lhe perguntou há quanto tempo ela se teria convertido...
É fundamental esta permuta entre estudantes de duas culturas, que produzem o seu trabalho em e sobre lugares distintos do planeta. Faranaz é uma referência para esse encontro tolerante e sábio. Bem haja!
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

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