"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, julho 07, 2008

Olá, Viajante!


Nos confins do Alentejo, o jovem geólogo beirão pesquisa ouro...
Não, não é nenhuma estória para contar ao serão, à volta da tenda de campismo, ouvindo o mar.
Ele existe mesmo, tem rosto e uma personalidade forte. Cidadão atento, interessa-se pela Humanidade a que pertence, mesmo que por vezes se surpreenda com o mundo insólito que habitamos. Gosta de conhecer e viajar. Como toda a gente que tem uma vida por viver embala sonhos, relatos, impressões de leitura e contemplação. Sabe bem escutá-lo. A voz é calma, no meio da turbulência quotidiana, e o olhar é luminoso, pois estamos diante de alguém que passa pela Terra com a envolvência dos artistas. Pelo que sei, gosta de música e poesia.
Adivinho-lhe uma vontade de viver intensa. Gosto de conhecer pessoas assim, quase raras no meio de tanta máscara, tanto postiço, tanta mentira.
Encontrei-o numa viagem de expresso, a caminho de Odeceixe, há poucas semanas. Sentou-se no banco ao lado, com o cansaço inerente a quem vem de longe e vai para longe com sonos mal dormidos.
Era segunda feira e na véspera eu tinha tentado rumar com duas amigas, mãe e filha, no carro delas, para o sul. Só que o carro avariou na auto-estrada, antes da saída para a Moita e o Barreiro e passada uma hora e meia de ter metido as malas no porta bagagens, voltei para casa com elas no táxi que o seguro do carro proporcionou.
Ao vê-lo, lembrei-me de Gael Garcia Bernal, o grande intérprete de "Diários de Motocicleta". Não só pelo enredo do filme, mas pela semelhança dos rostos.
Falámos de antropologia, povos da Austrália com tradições e rituais diversos, do Fundão onde estudou, da sua terra natal, da sua "errância" em busca do El Dorado...
Ficou no Cercal, após uma conversa fabulosa, nascida nos solavancos da estrada, perto de Santiago do Cacém. E ao despedir-se revelou: ainda não disse o meu nome mas chamo-me Gabriel.
Se acreditasse em anjos teria pensado que a viagem e as férias decorreriam sem mais sobressaltos e de facto assim foi.
Estou à espera dele para bebermos um café e falarmos desse ouro fantástico, que as suas palavras insinuam, misteriosamente. Prometi-lhe poemas, que aguardam o momento.
Por onde andarás, amigo?
Fotos recolhidas na Net; texto:LFM

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