"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, novembro 23, 2007

SARAMAGO EM ALMADA, MAIS ACTUAL QUE NUNCA


Excelente é a palavra adequada para falar da encenação de Joaquim Benite para "O Que Farei Com Este Livro?", de José Saramago, que a Companhia de Teatro de Almada estreou ontem.

Apresentada pela primeira vez em 1980 e concebida por Saramago para este Grupo de referência no Teatro Nacional, a peça é consequência do visionarismo do autor, soando as palavras acutilantes do texto cada vez mais actuais.

Há 27 anos dir-se-ia que, embrenhados no sonho proporcionado pelo 25 de Abril, então muito vivo nos gestos e pensamentos, estaríamos a assistir a uma lição do passado.

Ontem, porém, ao escutar os diálogos, sentimo-nos perante situações plenamente actuais: o desprezo pela cultura (que atravessou séculos), a ignorância instalada nos tronos decisórios (que se eterniza), o poder do preconceito, da cunha, da censura, a inveja e a intriga, que afastam do país alguns valores ou os destroem, se tentam singrar em território nacional e no meio asfixiante das élites da ciência e da literatura.

Grandes interpretações de Paulo Matos em Luís de Camões, José Martins no Padre Bartolomeu Ferreira, Carlos Santos em Damião de Góis, Maria Frade em Ana de Sá, Maria José Paschoal em D. Francisca de Aragão, Teresa Gafeira em D. Catarina de Áustria, Luís Vicente em Diogo do Couto e Alberto Quaresma no Cardeal D. Henrique, acompanhados pelo restante elenco, onde sobressaem Nuno Góis e Catarina Ascensão, nos Condes da Vidigueira, deram alma a esta obra incontornável do nosso prémio Nobel.

É preciso ver esta nova versão da peça e ir mais vezes ao teatro, para desfrutar de grandes espectáculos como este, é preciso passar a palavra que em Almada um trabalho magnífico, resultado de uma apurada sementeira, está a dar frutos luminosos que nos enriquecem espiritualmente e nos dão uma energia suplementar para enfrentarmos um país que tarda em mudar para melhor.

Texto e foto: LFM

1 comentário:

Fernando Pinto disse...

O Que Farei Com Este Livro?

Uma questão que apaixona, certamente...

Abraço