Em 1999 foi editado pelas Câmaras Municipais de Évora e Montemor-o-Novo, pela Junta de Freguesia de Nª Sª da Vila e pela Delegação Regional de Cultura do Alentejo, o livro de poesia (com ilustrações da pintora montemorense Professora Maria Isabel Aldinhas), de minha autoria "A Celebração da Terra". Quinze anos antes do Cante ser Património Mundial da Humanidade, já eu celebrara o Cante e os seus Cantores, trazidos agora à ribalta. Nunca vi o Alentejo estar tanto na moda e espero que a Patrimonialização do Cante não se traduza - como noutras circunstâncias - na privatização e na perda, por adulteração, desse mesmo património.
Transcrevo a página 59 do referido livro, cujo poema me parece bem alusivo à força e ancestralidade do Cante:
O LUTO E A LUTA
Vieram do fundo dos tempos atenuar a rudeza, por vezes bela, dos lugares.
Como se fossem desse longínquo início, têm rostos carregados de rugas, onde ainda se aloja um sorriso.
Cantam como ninguém, são a terra a cantar.
E ao ouvi-los, sinto o efémero e o eterno de uma existência de esperanças adiadas, partilhando o pão e o sol.
Vieram do fundo dos tempos.
Vestem de preto, trazem o luto e a luta nos gestos.
Limpam a voz no ar da manhã, no vinho das veredas ardentes, no silêncio grande dos campos que o olhar afaga.
São alentejanos, gente que resiste: ao fogo, à estupidez. E cantam.
Cantam a outra forma de ser português!
29-5-1998.
Luís Filipe Maçarico (texto introdutório, poema e foto)
2 comentários:
Lindíssimo o poema. O cante alentejano está se espalhando. Na UTIB as inscrições para a aula de cante alentejano estava superlotadas.
Um abraço
Para ti meu amigo
Poeta Antropólogo...
Como não seres tu meu Poeta amigo
A cantares assim, o cante da alma
Se eu sei de antemão, que trazes contigo
A força da Terra, a riqueza do Trigo
E gritos de raiva, em aparente calma...
O meu abraço de amiga e fã beijinhos <3 <3
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