No ano em que Sócrates resolveu tratar todos os funcionários públicos como bandidos, impedindo o médico, que me conhecia há anos e acompanhava as minhas maleitas, de passar uma simples baixa de dois dias por gripe, obrigando-me - e a todos os trabalhadores da função pública, para obter o merdoso papel, a ir a um centro de saúde do SNS, aconteceu-me um episódio que merece ser contado.
Na altura, levando uma carta do meu médico, que atestava o meu mal estar, fui escorraçado pela médica de família, que o destino ou qualquer outra entidade estranha me destinara, alegando que era a sua hora de saída e não me conhecia de lado nenhum como seu paciente.
Voltei no dia seguinte à consulta das quatro da tarde e a megera vociferava que nunca aceitaria o que o meu médico dizia na carta e se eu estava ali para obter uma baixa, que me desiludisse.
Pacientemente aguentei.
Expliquei que era antropólogo e estivera num cine teatro do Alentejo apresentando uma comunicação e que a autarquia resolvera estrear um novo sistema de ar condicionado, estando o interior do recinto a 30 e tal graus, quando na rua estavam menos de 10 e ainda por cima havia uma porta aberta por detrás do palco, a fazer corrente de ar...
A serventuária do engenheiro mudou automaticamente de discurso e, abrandando o tom, perguntou-me se eu tinha algum delegado de propaganda médica na família pois o meu rosto fazia-lhe lembrar alguém dessa área...
Já tinha tentado humilhar-me o suficiente para eu a aturar mais. Exigi que me visse a garganta, que me doía.
"Mas o senhor está com uma grande infecção!" exclamou a labrega.
Saí daquele centro médico para onde tinha sido mandado por carta, e que não correspondia à minha residência, ansiando mudar-me para o sítio certo, a que hoje pertenço e onde há médicos correctos e competentes, que tratam os doentes de acordo com a ética e o respeito pelo ser humano.
Arrependo-me de não ter participado daquela aberração, pois gentalha desta fica a fazer mal a muitos pacientes que não necessitam de gritos nem de punições.
Espero que com as reviravoltas que a política e a vida dão, a doutora capacho dos poderosos já tenha tido a lição que merece e que alguém menos paciente que eu lhe tenha ido às trombas.
As élites portuguesas são muito labregas. Os exemplos estão sempre a acontecer.
Eu fico-me por aqui...
Luís Filipe Maçarico
1 comentário:
Tenho uma médica de família há mais de 32 anos. Fui das primeiras pessoas a ficar com ela mal acabou o curso, pois veio substituir o meu médico de família, que emigrou. Nunca tive razão de queixa dela, sempre nos tratou, a mim, ao marido e ao filho com todo o respeito e consideração.
Mas já tenho ouvido pessoas falarem muito mal de certos médicos de família. Parece que muitas vezes o mal não é do SNS. É da incompetência de alguns que vivem dele.
Um abraço
Enviar um comentário