Os aromas estimulam e, quando a Natureza renasce, a energia vital regenera-se.
Não é ainda o tempo dos calores tremendos, que todos os anos provocam incêndios devastadores.
Já não é a época dos frios desmotivadores, das chuvas gélidas, por isso parece-me, mesmo que as temperaturas não sejam quentes, que Abril e Maio são meses empolgantes, criativos.
O Outono, com as florestas cor de cobre e o folhedo atapetando o chão, as castanhas e os medronhos aliciando o palato, não me empolga, e a escrita é melancólica, o clima interfere com os sentidos, ter o sol na alma, não é o mesmo que senti-lo, aquecendo a caminhada...
O Inverno, inóspito, que reduz a paisagem à aridez, produz inércia, a escrita é triste. Há um vazio na nossa pegada solitária...
Sinto um desencanto atroz, pois assisto impotente ao processo em que o país definha e apenas vislumbro uma fraca alternativa, ao tsunami da reviravolta de tempos que vivi com entusiasmo, pensando que o Mundo seria mais justo.
Verdadeiramente motivador foi sempre Março, com uma filigrana de ternura nas árvores e a esperança de dias tépidos ao virar da esquina e cânticos de melros madrugadores.
Gostava de viver num país de eterna Primavera, onde a par da Natureza renascida, as pessoas pudessem ser mais fraternas e a escala humana fosse a medida de todas as coisas.
Neste Outono do nosso descontentamento, sendo o lucro monetário o deus - todo - poderoso das políticas e das relações dos seres ditos racionais, surge como uma cintilação distinta e segura uma voz anónima vinda do Norte.
E na hora de receber uma medalha, celebrando os direitos humanos, José António Pinto desafiou os governantes a travarem “imediatamente
este processo de retrocesso civilizacional que ilumina palácios, mas ao
mesmo tempo deixa pessoas a dormir na rua”.
Por vezes, seja por causa tempo, ou da escassez de força anímica, fico derreado. As notícias diárias interferem com a felicidade. Não creio em amanhãs cantantes sem ver o envolvimento daqueles, sem os quais nada acontecerá.
Por vezes, seja por causa tempo, ou da escassez de força anímica, fico derreado. As notícias diárias interferem com a felicidade. Não creio em amanhãs cantantes sem ver o envolvimento daqueles, sem os quais nada acontecerá.
A injustiça, a crueldade e a violência entram de rompante na folha de jornal, no écran do computador. Mas súbito, alguém diz Não, com muita coragem, sem alarde, mas com uma segurança que me faz acordar da letargia...
As palavras de José António Pinto surgiram, no outro dia, como sinal que é possível viver, num Abril com sabor a eternidade, onde a franqueza, a partilha, o sonho e o respeito pelos outros, podem ser a bandeira.
Sem religiões, que apregoam todavia esse bem estar, assegurando apenas algum assistencialismo, sem poderes que prometem essa aleluia, mas promovem o empobrecimento, sem mentiras que grassam por todo o lado, afastando os cidadãos da res pública....
Obrigado José António Pinto, irmão de todos os que sofrem, por seres escandalosamente humano!
Texto: Luís Filipe Maçarico Fotografia: Recolhida na Internet
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