Com a devida vénia, transcreve-se a intervenção do presidente da direcção da CPCCRD, Dr. Augusto Flor, proferida no passado sábado, diante de uma assistência constituída por associativistas e por representantes da Confederação do Desporto, do Comité Olímpico Português, do Secretário de Etado da Juventude e Desporto, da Associação 25 de Abril, Junta de Freguesia de Santa Justa, Grupo Parlamentar do PCP, Verdes, etc.
"Distinta Mesa
Digníssimos convidados
Amigos e colegas associativistas
Minhas senhoras e meus senhores
Na passagem dos 84 anos da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto e do Dia Nacional das Colectividades, desejo saudar todas as colectividades, Clubes e Associações congéneres, bem como todos aqueles que connosco partilham o objectivo de transformar a sociedade, tornando-a mais fraterna, mais solidária, mais inclusiva, mais democrática e mais participativa.
No dia 31 de Maio de 2007, proferi aqui algumas palavras que podia repetir hoje, sem correr o risco de estarem desactualizadas. Refiro-me concretamente à falta de definição da Lei 34/2003 de 22 de Agosto, sobre a qual já passaram três governos e mais de cinco anos de completa ostracismo político. O país perdeu cinco anos de participação activa de uma instituição que tem atrás de si mais de oito décadas de experiência e um conhecimento do terreno que mais ninguém possui.
Refiro-me ao facto de ter sido constituído o Conselho Nacional do Desporto, no seguimento das iniciativas governamentais donde se pode destacar a nossa participação no Congresso Nacional do Desporto. Não há entidade nenhuma neste país, que represente o desporto recreativo, o desporto popular, o desporto de todos e para todos como esta Confederação. Também neste caso, estamos a ser vítimas de ostracismo político.
Refiro-me ainda à falta de políticas e de um interlocutor por parte do Governo da nação, bem como à falta de apoios técnicos, logísticos e financeiros a grande parte das colectividades do nosso país. Não é possível definir políticas culturais, recreativas e desportivas para o país sem ter em conta a opinião de quem a pratica todos os dias, a toda a hora em todos os lugares deste nosso país. A constituição de um Conselho Nacional do Associativismo Popular, continua a ser uma necessidade histórica que, pela sua ausência, penaliza as populações, o associativismo, em suma, a sociedade.
Passou um ano e o mundo, as sociedades, as colectividades e a Confederação, não pararam. Neste período, concluímos a fase de Consolidação Nacional do Projecto 2001 Associações; Disseminámos e concluímos o Projecto Interculturacidade; Tomámos a iniciativa de reunir as nossas congéneres associativas e apresentámos propostas ao OE; Candidatámo-nos e estamos a desenvolver projectos no âmbito do Programa EQUAL, no que respeita à Digitalização e Qualificação do 3º Sector; Temos em fase adiantada nova proposta de legislação associativa a apresentar em breve à Assembleia da Republica; Estabelecemos Protocolos com inúmeras Câmaras Municipais de norte a sul; Estamos a desenvolver o Projecto Rotas do Associativismo ao qual já aderiram várias Regiões de Turismo; Prosseguimos com o Projecto Agita Portugal, pela sua saúde mexa-se; Constituímos a base sólida para definitivamente se institucionalizarem os Jogos Tradicionais em Portugal através de um projecto que foi apresentado publicamente no passado dia 24; Candidatámo-nos a um projecto de criação de um Centro de Documentação Associativa Popular à Fundação Calouste Gulbenkian; Estabelecemos parcerias de cooperação com várias entidades públicas e privadas que hoje aqui formalizámos; Concebemos e instalámos o nosso Espaço Museu 31 de Maio que constituía um sonho de muitos dirigentes e associativistas. Neste particular, permitam-me que destaque todos aqueles que ao longo dos 84 anos de vida desta instituição, preservaram o espólio que, a partir de hoje, passa a estar acessível a todos. Permitam-me ainda felicitar a equipa que se empenhou nestes últimos 5 meses: a Alexandra, o António, a Eduarda, o João, a Margarida, a Maria, e o Nuno. À excepção de um deles, os restantes, são desempregados que se encontram em programas ocupacionais e que, como tal, não estão a desempenhar aquilo que mais sabem e mais gostam de fazer. No entanto, empenharam-se, “vestiram a camisola” e o Espaço Museu é uma realidade.
Olhando para este exemplo, é caso para perguntarmos como seria este país se aqueles que vendem a sua força de trabalho fossem devidamente reconhecidos, retribuídos e lhes fossem dadas as oportunidades a que só alguns têm acesso, em vez de “Livros Brancos” que, a serem traduzidos em legislação laboral, irão tornar ainda mais difícil a vida de quem trabalha por conta de outrem, como é o caso de mais de mais de 80% dos Dirigentes Associativos?
Por fim, não poderia deixar de destacar o apoio da Junta de Freguesia de São Vicente de Fora e o trabalho verdadeiramente abnegado da nossa colega de Direcção e Directora responsável pelo Espaço Museu, Helena Monteiro. Para todos o nosso sincero reconhecimento.
A terminar, se me permitem, gostaria de aqui deixar algumas saudações, uma questão para reflexão e uma proposta. Gostaria de saudar todas as crianças que amanha terão o seu dia, em particular aquelas que sofrem com as guerras que não compreendem, com a fome e as doenças que as matam todos os dias, com os maus-tratos e a exploração de que são vítimas. O associativismo popular, em Portugal, é o garante da integração e da socialização de milhares de crianças nas actividades associativas. Temos muito orgulho disso.
Gostaria de saudar a nossa Selecção Nacional de Futebol que dentro de dias irá disputar o Campeonato Europeu. Estamos convictos que tudo farão para, desportivamente, levar o nome de Portugal o mais longe possível, tanto mais que quase todos eles são resultado do trabalho de base que é feito nas colectividades e clubes de bairro onde descobriram a sua vocação e foram descobertos para essa arte desportiva que é o futebol.
Gostaria de saudar a nossa Delegação Olímpica que dentro de algum tempo irá estar em terras do Oriente, para mostrar o seu valor no respeito pelo espírito olímpico. Também neste particular, estamos perante muitos atletas que começaram as suas carreiras desportivas em pequenos clubes e colectividades. Por isso mesmo sabemos que interiorizaram valores que no momento certo serão determinantes para os resultados desportivos que todos almejamos.
Quanto à reflexão, gostaria de vos desafiar a pensarem, por alguns momentos, com o “pensamento dominante”, isto é, como membros de uma sociedade capitalista. Se a economia é a ciência que estuda a gestão dos recursos disponíveis, e se a inteligência, a arte e a forma de fazer e construir algo não é mais que um recurso disponível, não será justo pensarmos que, o que nós Dirigentes Associativos Voluntário e Benévolos fazemos tem um valor social mas tem também um valor económico? Se a resposta for não, então vamos deixar as coisa ficar como estão. Se a resposta for sim, teremos que pensar como contabilizar nesta sociedade capitalista o valor do nosso trabalho que deverá continuar a ser voluntário e benévolo mas que não significa que deixe de ser considerado e desvalorizado ao valor zero. Reflictamos sobre isto, partindo dos indicadores apresentados pelo nosso estudo que aqui foi sumariamente apresentado.
Quanto à proposta, ela tem algo de sonhador, quase utópico, mas que não pode deixar de ser considerada. O Associativismo Popular, as colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, disseminadas pelo nosso país, contam-se por mais de 17.000. Têm um património incalculável. Só a Confederação tem mais de 2500 peças e objectos, mais de 250.000 documentos que retratam em parte a história deste movimento. Todo este património, pertence, naturalmente, a cada uma das instituições. Mas, como em muitos outros casos, só com a sistematização e centralização de todo este vasto património, é possível ter a ideia do valor histórico, sociológico, antropológico e até económico deste movimento. Para tal é necessário um espaço amplo onde este património respire e possa ser desfrutado por todos. É necessário que este património seja enriquecido com actividades permanentes e regulares onde cada expressão do associativismo popular possa manifestar todo o seu esplendor. Esse lugar existe. Esse lugar é o Pavilhão de Portugal onde há 10 anos atrás foi exposta a cultura portuguesa com o incontornável e indispensável contributo do associativismo popular.
Estou convicto que o Arquitecto Siza Vieira – que daqui saúdo por mais uma extraordinária obra inaugurada há dois dias na cidade de Porto Alegre no Brasil - não deixaria de achar interessante esta proposta, tanto mais que tanto quanto sei, se encontra desgostoso pela falta de utilização daquele património. Espero que todos aqueles que estão aqui connosco neste momento, nos acompanhem nesta proposta que, naturalmente, estamos receptivos a discutir e partilhar com outras organizações congéneres.
Reitero os agradecimentos a todos os que connosco têm feito este trajecto e que com respeito pela autonomia e independência, cooperam para uma sociedade onde cada ser humano se sinta realizado, feliz.
Viva o Associativismo Popular!
Viva Portugal!
Augusto Flor
Digníssimos convidados
Amigos e colegas associativistas
Minhas senhoras e meus senhores
Na passagem dos 84 anos da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto e do Dia Nacional das Colectividades, desejo saudar todas as colectividades, Clubes e Associações congéneres, bem como todos aqueles que connosco partilham o objectivo de transformar a sociedade, tornando-a mais fraterna, mais solidária, mais inclusiva, mais democrática e mais participativa.
No dia 31 de Maio de 2007, proferi aqui algumas palavras que podia repetir hoje, sem correr o risco de estarem desactualizadas. Refiro-me concretamente à falta de definição da Lei 34/2003 de 22 de Agosto, sobre a qual já passaram três governos e mais de cinco anos de completa ostracismo político. O país perdeu cinco anos de participação activa de uma instituição que tem atrás de si mais de oito décadas de experiência e um conhecimento do terreno que mais ninguém possui.
Refiro-me ao facto de ter sido constituído o Conselho Nacional do Desporto, no seguimento das iniciativas governamentais donde se pode destacar a nossa participação no Congresso Nacional do Desporto. Não há entidade nenhuma neste país, que represente o desporto recreativo, o desporto popular, o desporto de todos e para todos como esta Confederação. Também neste caso, estamos a ser vítimas de ostracismo político.
Refiro-me ainda à falta de políticas e de um interlocutor por parte do Governo da nação, bem como à falta de apoios técnicos, logísticos e financeiros a grande parte das colectividades do nosso país. Não é possível definir políticas culturais, recreativas e desportivas para o país sem ter em conta a opinião de quem a pratica todos os dias, a toda a hora em todos os lugares deste nosso país. A constituição de um Conselho Nacional do Associativismo Popular, continua a ser uma necessidade histórica que, pela sua ausência, penaliza as populações, o associativismo, em suma, a sociedade.
Passou um ano e o mundo, as sociedades, as colectividades e a Confederação, não pararam. Neste período, concluímos a fase de Consolidação Nacional do Projecto 2001 Associações; Disseminámos e concluímos o Projecto Interculturacidade; Tomámos a iniciativa de reunir as nossas congéneres associativas e apresentámos propostas ao OE; Candidatámo-nos e estamos a desenvolver projectos no âmbito do Programa EQUAL, no que respeita à Digitalização e Qualificação do 3º Sector; Temos em fase adiantada nova proposta de legislação associativa a apresentar em breve à Assembleia da Republica; Estabelecemos Protocolos com inúmeras Câmaras Municipais de norte a sul; Estamos a desenvolver o Projecto Rotas do Associativismo ao qual já aderiram várias Regiões de Turismo; Prosseguimos com o Projecto Agita Portugal, pela sua saúde mexa-se; Constituímos a base sólida para definitivamente se institucionalizarem os Jogos Tradicionais em Portugal através de um projecto que foi apresentado publicamente no passado dia 24; Candidatámo-nos a um projecto de criação de um Centro de Documentação Associativa Popular à Fundação Calouste Gulbenkian; Estabelecemos parcerias de cooperação com várias entidades públicas e privadas que hoje aqui formalizámos; Concebemos e instalámos o nosso Espaço Museu 31 de Maio que constituía um sonho de muitos dirigentes e associativistas. Neste particular, permitam-me que destaque todos aqueles que ao longo dos 84 anos de vida desta instituição, preservaram o espólio que, a partir de hoje, passa a estar acessível a todos. Permitam-me ainda felicitar a equipa que se empenhou nestes últimos 5 meses: a Alexandra, o António, a Eduarda, o João, a Margarida, a Maria, e o Nuno. À excepção de um deles, os restantes, são desempregados que se encontram em programas ocupacionais e que, como tal, não estão a desempenhar aquilo que mais sabem e mais gostam de fazer. No entanto, empenharam-se, “vestiram a camisola” e o Espaço Museu é uma realidade.
Olhando para este exemplo, é caso para perguntarmos como seria este país se aqueles que vendem a sua força de trabalho fossem devidamente reconhecidos, retribuídos e lhes fossem dadas as oportunidades a que só alguns têm acesso, em vez de “Livros Brancos” que, a serem traduzidos em legislação laboral, irão tornar ainda mais difícil a vida de quem trabalha por conta de outrem, como é o caso de mais de mais de 80% dos Dirigentes Associativos?
Por fim, não poderia deixar de destacar o apoio da Junta de Freguesia de São Vicente de Fora e o trabalho verdadeiramente abnegado da nossa colega de Direcção e Directora responsável pelo Espaço Museu, Helena Monteiro. Para todos o nosso sincero reconhecimento.
A terminar, se me permitem, gostaria de aqui deixar algumas saudações, uma questão para reflexão e uma proposta. Gostaria de saudar todas as crianças que amanha terão o seu dia, em particular aquelas que sofrem com as guerras que não compreendem, com a fome e as doenças que as matam todos os dias, com os maus-tratos e a exploração de que são vítimas. O associativismo popular, em Portugal, é o garante da integração e da socialização de milhares de crianças nas actividades associativas. Temos muito orgulho disso.
Gostaria de saudar a nossa Selecção Nacional de Futebol que dentro de dias irá disputar o Campeonato Europeu. Estamos convictos que tudo farão para, desportivamente, levar o nome de Portugal o mais longe possível, tanto mais que quase todos eles são resultado do trabalho de base que é feito nas colectividades e clubes de bairro onde descobriram a sua vocação e foram descobertos para essa arte desportiva que é o futebol.
Gostaria de saudar a nossa Delegação Olímpica que dentro de algum tempo irá estar em terras do Oriente, para mostrar o seu valor no respeito pelo espírito olímpico. Também neste particular, estamos perante muitos atletas que começaram as suas carreiras desportivas em pequenos clubes e colectividades. Por isso mesmo sabemos que interiorizaram valores que no momento certo serão determinantes para os resultados desportivos que todos almejamos.
Quanto à reflexão, gostaria de vos desafiar a pensarem, por alguns momentos, com o “pensamento dominante”, isto é, como membros de uma sociedade capitalista. Se a economia é a ciência que estuda a gestão dos recursos disponíveis, e se a inteligência, a arte e a forma de fazer e construir algo não é mais que um recurso disponível, não será justo pensarmos que, o que nós Dirigentes Associativos Voluntário e Benévolos fazemos tem um valor social mas tem também um valor económico? Se a resposta for não, então vamos deixar as coisa ficar como estão. Se a resposta for sim, teremos que pensar como contabilizar nesta sociedade capitalista o valor do nosso trabalho que deverá continuar a ser voluntário e benévolo mas que não significa que deixe de ser considerado e desvalorizado ao valor zero. Reflictamos sobre isto, partindo dos indicadores apresentados pelo nosso estudo que aqui foi sumariamente apresentado.
Quanto à proposta, ela tem algo de sonhador, quase utópico, mas que não pode deixar de ser considerada. O Associativismo Popular, as colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, disseminadas pelo nosso país, contam-se por mais de 17.000. Têm um património incalculável. Só a Confederação tem mais de 2500 peças e objectos, mais de 250.000 documentos que retratam em parte a história deste movimento. Todo este património, pertence, naturalmente, a cada uma das instituições. Mas, como em muitos outros casos, só com a sistematização e centralização de todo este vasto património, é possível ter a ideia do valor histórico, sociológico, antropológico e até económico deste movimento. Para tal é necessário um espaço amplo onde este património respire e possa ser desfrutado por todos. É necessário que este património seja enriquecido com actividades permanentes e regulares onde cada expressão do associativismo popular possa manifestar todo o seu esplendor. Esse lugar existe. Esse lugar é o Pavilhão de Portugal onde há 10 anos atrás foi exposta a cultura portuguesa com o incontornável e indispensável contributo do associativismo popular.
Estou convicto que o Arquitecto Siza Vieira – que daqui saúdo por mais uma extraordinária obra inaugurada há dois dias na cidade de Porto Alegre no Brasil - não deixaria de achar interessante esta proposta, tanto mais que tanto quanto sei, se encontra desgostoso pela falta de utilização daquele património. Espero que todos aqueles que estão aqui connosco neste momento, nos acompanhem nesta proposta que, naturalmente, estamos receptivos a discutir e partilhar com outras organizações congéneres.
Reitero os agradecimentos a todos os que connosco têm feito este trajecto e que com respeito pela autonomia e independência, cooperam para uma sociedade onde cada ser humano se sinta realizado, feliz.
Viva o Associativismo Popular!
Viva Portugal!
Augusto Flor
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