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Évora é, como me disse certa vez uma jovem brasileira (Helen Dias) aquela cidade onde apetece viver "mil anos".
As suas praças de vivências, rumores e tanta harmonia onde a vida respira sob um azul rútil, como diria a minha conterrânea e amiga Maria Amélia, uma eborense que tem no quintal um jardim andaluz, com cerejeiras, limoeiros e odores de jasmim, hortelã, alfazema, alecrim e rosmaninho.
Évora apresenta uma das mais belas catedrais do país e o templo de "Diana", que emblematicamente coroa a passagem dos séculos, tesouro romano que continua a ser cenário de deslumbre para os viajantes de todo o Mundo.
A luminosidade do Alentejo inunda e destaca a brancura dos edifícios, projecta jogos de claridade e penumbra entre arcadas e fachadas de imóveis onde o traço de grandes arquitectos em épocas distintas sobressai.
Procurem e admirem o esplendor das igrejas da Graça, S. Francisco, S. Antão, S. Mamede, da Misericórdia, detenham-se diante da Capela de São Brás, observando a minuciosa e criativa elegância dos seus contornos.
Embrenhem-se no labirinto medievo das suas ruelas, arcos, becos, espantem-se com a profusão de aldrabas e batentes, ainda intactos e contemplem os postigos misteriosos, que nos fazem imaginar personagens de romances antigos, talvez de Herculano ou Alexandre Dumas.
Sentem-se na Praça do Giraldo, deambulem por todas as esquinas, por todo o serpenteado de ruínhas, saboreiem nomes como a Rua do Imaginário, da Mangalaça, a Travessa Torta, o Beco do Themudo, e outras toponímias que Túlio Espanca interpretou.
O manuelino e o barroco convivem por todo o lado.
Desde o Largo das portas de Moura, desfruta-se a inigualável varanda do palácio Cordovil, o tanque onde o azul e a pedra se reflectem num fantástico leque de espelhos e ao fundo, lá para os lados da Sé, a janela manuelina de Garcia de Resende. É impossível ignorar tanta beleza e não ficar bafejado pelo espírito desta cidade com uma aura particular, comparável às urbes da Itália renascentista.
A muralha que abraça e se entrelaça em artérias como as Alcaçarias, o Aqueduto das Águas de Prata, as arcadas de luz mágica. A estatuária que irrompe nos frontespícios, nas fontes, em palácios e templos, os nichos de alguns recantos, a cantaria presente em inúmeros prédios, as preciosidades das forjas que ainda cantam, o silêncio inesperado de travessas salpicadas pela voz dos sinos. Évora é também o prazer de aspirar aromas de cozinhados irresistíveis, ou a possibilidade de saborear uma gastronomia autêntica, vinhos divinais e uma doçaria conventual incontornável.
Évora é uma terra de emoções fortes e cores vibrantes. O azul como o sol, bem como a lua e as nuvens escuras não têm meia - medida. São intensos.
A noite profunda, quente, dos "sepulcros caiados de branco" acorda "espíritos benéficos". É ainda Maria Amélia, a senhora do jardim perfumado que fala, passeando no espaço de cágados e alcachofras, de trepadeiras e malmequeres onde os pássaros irrompem até que o crepúsculo os adormeça.
Entre cereais, Évora cintila, alvejando na presença ancestral uma luz que enleva e cativa.
Luís Filipe Maçarico (Artigo publicado no número 32 do quinzenário "Conversas de Café"
http://www.conversasdecafe.pt/cc/ConversasDeCafe_032_Mar2008.pdf
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