"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, novembro 19, 2013

ARMINDA PALMA

Escrevo de improviso e debaixo da emoção.
Um dia, fui contactado por uma alentejana risonha, que vivia perto de Lisboa, era professora, adorava a cultura do sul e que afirmou querer conhecer-me, pois lera textos de minha autoria, dos quais gostara. Queria conhecer o autor. A ver se "a bota batia com a perdigota"...
Conhecemo-nos num Desfile, a 25 de Abril. Já lá vão alguns anos...
Apresentou-me o marido, que a acompanhou até ao fim.
Ela amava a vida, achava que a crueldade era algo de outra galáxia e, quando lhe descrevia certos absurdos, não se continha, considerava que era demasiado surreal...
E eis que o surrealismo tomou de assalto o país, e, de repente a sua própria vida.
Ainda tive tempo para a convidar a almoçar comigo, nos Duques, restaurante popular, situado no começo da Rua do Alecrim. Partilhei livros, poemas, artigos. Corrigiu um ou outro erro, que por vees, sem me aperceber, cometo. Também me vai fazer falta por isso...

Facultei contactos de gente boa, que faz o Alentejo andar para a frente, num tempo em que são mais os escolhos, que os horizontes luminosos. Numa rádio do sul, entrevistou alguns deles. Foi correspondente de uma antena de emigrantes na Suíça.
Vi as imagens, que ao longo dos anos foi colocando, na sua página Facebook, enquanto Maria do Mar ou Esteva, pseudónimos que usou, para assinar as suas delicadas palavras, acerca da terra e das gentes que trazia no sangue fraterno. E gostei do seu afã, do voluntariado, da alegria que buscava teimosamente.
Soube, entretanto, que a doença a atacara com violência.
Acompanhei o doloroso percurso. Esperançámos, apesar dos obstáculos. Ainda há pouco tempo telefonou-me para dizer que resistia, que enfrentava com muita força o Mal que a agastara no Verão, mas que iria renascer!

Não esperava deparar-me com a notícia chicoteante, tremendamente injusta, que nos estremeceu por estes dias.
Onde quer que tenha ficado o espírito, daqui lhe aceno com uma espiga e uma papoila, sabendo que entre brisas e estrelas, estará o riso da Arminda Palma, a amiga  das palavras e das emoções genuínas, que partiu com os olhos embalados pelo Alqueva e o coração apaparicado pelos horiontes desmedidos da Planície Eterna.

Luís Filipe Maçarico (texto e foto)




3 comentários:

Paula Silva disse...

Que este último voo, antes de todos nós irmos, tenha sido tranquilo.
Beijos Luís.

Unknown disse...

Obrigado pelo seu Belo Texto sobre a Amiga Arminda Palma. Tal como o Senhor, fiquei Perplexo por este Súbito Desenlace. Fui seu Amigo aqui no Face. Partilhamos Mensagens ,Brincadeiras, Culturas etc. Confidenciava-me o que tinha. Sempre aquela força, que emanava do seu interior. Acompanhei as suas Poesias e Amizades, que nos Transmitia via Rádios, Para o qual sempre me convidava. Era seu e meu desejo conhecermo-nos pessoalmente.O tempo foi Escasso para que Acontecesse o nosso Encontro. Não possuo a Sabedoria e a Cultura que a Arminda continha, isso não era Obstáculo para criarmos aqui a nossa Amizade. Agradeço as Suas Palavra, que vou juntar ao Álbum de recordações. António Galamba. Aldeia Nova de São Bento.

Elvira Carvalho disse...

Sei por experiência própria que em determinadas alturas as palavras não servem de consolo.
Deixo um abraço de solidariedade.