sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Fernando Pinto Ribeiro - Quando nasce uma nova estrela no céu...



Depois de ter sabido da notícia da morte do amigo-poeta Fernando Pinto Ribeiro, a minha amiga S, teclando comigo, partilhou estas palavras:

"quando uma pessoa morre nasce uma nova estrela no céu
assim, quando olhamos o firmamento podemos sempre ver os que partiram
velando por nós
guiando a nossa vida
quando era miúda, nas noites de lua cheia falava com ela pois para mim representava a minha querida bisavó
agora que sou mais crescida olho o céu em busca de respostas, para partilhar alegrias
não rezo a Deus
falo com o meu avô para que interceda junto de Deus por mim
soa a paganismo
mas alivia-me a alma..."

Biografia do Poeta (retirada com a devida vénia do blogue "Porosidade Etérea")
http://porosidade-eterea.blogspot.com/2009/02/fernando-pinto-ribeiro-1928-2009.html


O dia começou triste. Faleceu o poeta Fernando Pinto Ribeiro.
Natural da Guarda, Fernando Pinto Ribeiro nasceu em 1928 e escreveu aos catorze anos o seu primeiro soneto a que deu o título “Soneto dos 15 Anos”.
Colaborou nas revistas Flama, Panorama, Páginas Literárias, e em jornais como o Diário de Notícias, o Diário Ilustrado e em vários jornais regionais, tendo também sido publicados no Brasil alguns poemas seus.
Dirigiu, com Eduíno de Jesus e J. M. Pereira Miguel, a Revista de Letras e Artes “Contravento” (1968) com concepção gráfica de Artur Bual, da qual só se editaram quatro números, devido à censura.
Organizou com Alba de Castro, entre 1967 e 1983, as Pastinhas de Poesia, publicadas anualmente na Queima das Fitas da Universidade de Coimbra. Participou em múltiplas colectâneas e organizou algumas, como as da Tertúlia Rio de Prata.
Pertenceu aos corpos sociais da Sociedade da Língua Portuguesa, foi sócio da Associação Portuguesa de Escritores, cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores e sócio da Colectividade Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”.
Fascinado pelas noites de fado lisboeta começou a escrever alguns fados que desde logo fizeram sucesso (inicialmente, com o pesudónimo Sérgio Valentino). Escreveu letras para: Ada de Castro, Alexandra Cruz, Anita Guerreiro, António Mourão, António Laborinho António Passão, António Severino, Arlindo de Carvalho, Artur Garcia, Beatriz da Conceição, Branco de Oliveira, Carlota Fortes, Chico Pessoa, Estela Alves, Fernando Forte, Francisco Martinho, Humberto de Castro, Julieta Reis, Sara Reis, Lenita Gentil, Lídia Ribeiro, Maria Jô-Jô, Pedro Lisboa, Lurdes Andrade, Natércia Maria, Pedro Moutinho, Salete Tavares, Simone de Oliveira, Toni de Almeida, Tonicha, Tristão da Silva, Xico Madureira, entre muitos outros.
Fernando Pinto Ribeiro era um homem de profundo saber, de grande afectividade e que prezava muito a amizade.
Procurava encontrar a perfeição, tentando que cada poema tivesse uma quadratura musicável, com rima e métrica. Foi assim que os seus poemas passaram a ser musicados e cantados.
«A poesia é para mim um acto natural, pelo que sou imediatamente compensado pelo simples acto de escrever poemas e de os rever continuamente. Vejo aliás na revisão permanente dos meus poemas uma espécie de volúpia, uma busca incessante pela perfeição, mas ciente de que nunca a atingirei».
Hoje despedimo-nos de um poeta a quem não foi feita justiça. Um poeta que, pela sua humildade, nunca procurou a ribalta e por isso não lhe chegou a ser reconhecido o seu grande valor. Um poeta perfeccionista que fazia poesia com amor.
O corpo do poeta irá hoje para a Basílica da Estrela e o funeral realizar-se-á amanhã pelas 14 horas.
Até sempre, Fernando!

Alguns Poemas

LISBOA VAI ! (MARCHA)
Letra de: Fernando Pinto Ribeiro

A bailar pela Avenida,

Num balançar de canoa,

vai de varina vestida

Rainha Dona Lisboa


Vai abraçar do Castelo,

Plo Tejo nos mares deitado,

O marinheiro mais belo

Das caravelas do Fado


Vai aonde a alma voa

Desde os mundos do passado

Até onde o mar entoa

Teu nome por todo o lado


Refrão

Vai, vai, Lisboa,

Santo Antoninho te guia

Da Estrela e da Madragoa

à Graça e à Mouraria.

Vai, numa boa,

Vai na vida ser vadia,

Vai, até que o andar te doa,

Rumo à Praça da Alegria!

Vai nos pregões a cantar

Camões, a Amália, Pessoa…

Vai na marcha popular

Rainha Dona Lisboa


(*)


Vai de Alfama e do Dafundo

a São Bento e a Belém

E sobe à Rua do Mundo

Do Poço do Borratém …


Vai sair na Boa-Hora,

Com foguetes e balões,

A São Vicente de Fora,

de dentro dos corações.



Mão Aberta

A imolar perguntas, degolar respostas
que a razão venera num altar de aborto,
sepultei nas vagas, despenhando encostas,
a torre nirvana, com o ídolo morto

como quem naufraga sobre as próprias costas
e o corpo cavalga contra o rumo torto,
hasteei nas trevas, já não de mãos postas,
o punho, em archote e a prumo, no porto

a escavar na terra os poros do povo
de onde irrompem chamas delirantes de água,
mato a velha sede renasço-a de novo:

lavado em suores da mais negra mágoa,
a pulso me arvoro – e esta mão que movo
reabro à semente noutras mãos afago-a.



Cilício

amar
sem loucura nem pecado.
beijar com as asas
soerguidas
num voo orientado
através de trincheiras sucessivas.
não mais ficar parado
na curva do prazer
(hão-de explodir um dia em vão as feridas
do laço em que te abraço a Lúcifer).
tenha o desejo fugido à nostalgia
da amarra no cais ultrapassado
e viva nas marés do dia-a-dia
rendido
à viril filosofia
da onda que vai vem contra o rochedo.
guardar
a seiva do segredo
e o pólen da pele
nos lábios túmidos
hoje e sempre
fiel
ao beijo heróico
mortal e permanente
em que te aguardo
em que me encontre
frontal
total
e eternamente.

Fernando Pinto Ribeiro

ver também no blogue capeia raiana esta entrevista:
http://capeiaarraiana.wordpress.com/2008/03/27/a-fala-com%E2%80%A6-fernando-pinto-ribeiro/

Luís Filipe Maçarico (recolha de textos e fotografia do anoitecer no Pulo do Lobo) S. (texto inicial). Agradece-se ainda a divulgação por Inês Ramos da fotografia do poeta, que com a devida vénia fomos buscar ao seu blogue "Porosidade Etérea".

6 comentários:

  1. Bonita homenagem ao seu amigo, que eu não conhecia, mas de cuja poesia, lida agora gostei. Sua amiga tem razão. Sempre há uma estrela nova quando alguém se vai.
    Deixo-lhe aqui um poema de que muito gosto e que me serviu de consolo quando há dias perdi um amigo

    Poema do amigo morto

    Quem morreu, não foi ele.
    Foram as coisas, que deixaram
    de ser vistas pelos seus olhos.
    Quem morreu, não foi ele.
    Foram os objetos que a sua
    mão deixou de tocar...
    (...)
    Não foi o sangue que lhe parou
    de fluir, nas veias:
    foi, antes, o vinho que ficou imóvel,
    na garrrafa.
    Não é ele o defunto,
    é o mundo
    que morreu nos seus cinco sentidos.
    É o sol,
    o grande sol pendido
    que ainda lhe ilumina o rosto.
    É a rosa,
    a rosa quente que já esfria,
    no corpo onde, a todo momento,
    abria e fechava a corola...

    Cassiano Ricardo

    Um abraço

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  2. Como diz a tua amiga S e eu sublinho. há mais uma estrela no céu com que se conta. É de um Homem bom que se trata, logo, esse é o sítio donde vai ficar a olhar-nos.

    Morreu!
    O Poeta morreu.
    O Homem
    deixou que a vida se fosse
    e a morte
    oportuna
    oportunista
    tomou lugar.

    O Poeta foi
    mas deixou lugar marcado
    cativo, o lugar
    de ficar aqui
    A morte até pode tê-lo feito ir embora
    pode
    a morte só não nos obriga
    a esquecer que neste lugar
    aqui
    com as palavras que foram as suas
    fica o Poeta que não morre!...

    Abraço carinho, Luís
    Belmi

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  3. Camarada Fernando Pinto Ribeiro:
    Nos já longínquos anos 1970's, acompanhámo-nos um ao outro, num contexto social e político em que era óbvio sermos todos antifascistas, e não tão óbvio sermos contra outras tiranias que se perfilavam no horizonte. Tive a honra de ser teu companheiro nesse período.
    Reencontrámo-nos, muitos anos depois, nos "Combatentes", e foi muito gratificante encontrar em ti a mesma frescura, a mesma genuinidade de quem diz o que tem a dizer sem primeiro avaliar se é ou não conveniente!
    Força, camarada!
    José Alberto Franco ("Fernando")

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  4. Maria Manuela da Fonseca Sacarrão Gonçalves
    para mim

    mostrar detalhes 10:50 (2 horas atrás)


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    VENHO-TE AGRADECER PELAS BELOS TEXTOS QUE ME ENVIAS E ALGUMA INFORMAÇÃO IMPORTANTE QUE RECEBO ATRAVÉS DO TEU BLOGUE. TENHO PENA DE NÃO ESTAR NAS MELHORES CONDIÇÕES PORQUE ÀS VEZES TENHO VONTADE DE ESCREVER COISAS E TRANSMITIR ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE A ACTUALIDADE.

    LEMBRO AGORA COM BASTANTE CLAREZA A ÚLTIMA VEZ QUE ESTIVE COM O PINTO RIBEIRO E RECORDO BEM O SEU ENTUSIASMO PELA VIDA E PELOS ASSUNTOS CULTURAIS. NINGUÉM ME AVISOU DA MORTE DELE A NÃO SER TU.

    UM ABRAÇO. OBG.

    MANUELA

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  5. Camarada de muitas lutas só hoje tomei conhecimento da tua partida.
    Quero te agradecer teres me dado a honra de ser teu amigo.eras o "adesivo",como disseste uma vez,de todas as amizades.Paz à tua alma até sempre

    A.Grácio

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  6. Tive o privilégiode ter sido Amigo do Poeta Fernando Pinto Ribeiro, para além disso concedeu-me a honra de ser meu colaborador numa revista literária que fundei.
    Em Tributo ao Homem e à sua obra, construí uma página só dele, para divulgar a sua obra, que pode ser visitada em:
    fernandopintoribeiro.no.comunidades.net

    Um Bem-Haja a todos os que a visitarem.

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