"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"
domingo, agosto 27, 2023
WORLD HERITAGE FESTIVAL DA CABRELA
quinta-feira, agosto 10, 2023
19 Anos de "Águas do Sul"
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terça-feira, julho 25, 2023
PREFÁCIO PARA "A MODA DO BOMBO VOZ DO POVO DE LAVACOLHOS" DE ISAURA REIS
ISAURA REIS E “A MODA DO BOMBO VOZ DO POVO DE LAVACOLHOS”: EXCELENTE CONTRIBUTO PARA O ESTUDO DE UM TESOURO COMUNITÁRIO
Em “O Mundo na Era da Globalização”, Anthony Giddens afirmou que “todas as tradições foram inventadas. Nunca houve uma sociedade inteiramente tradicional”, acrescentando que “As tradições são sempre pertença de grupos, comunidades” tendo o ritual, o cerimonial e a repetição “funções sociais importantes,”[1]
Salwa Castelo Branco e Jorge Freitas Branco escreveram que a folclorização é o “processo de construção e de institucionalização de práticas performativas, tidas por tradicionais constituídas por fragmentos retirados da cultura popular, em regra, rural”, concluindo que o povo passa a ter a sua voz ouvida e aceite na restante sociedade.”[2]
Fernando Oliveira Baptista considera que “O património passa (…) da memória das pessoas para a história dos lugares e, simultaneamente, dá aos residentes outra dimensão no relacionamento com o espaço onde habitam.”[3]
“As criações populares” - segundo Jorge Dias - “ são o produto de uma longa elaboração local em épocas em que a falta de meios de relação segregavam as populações das influências urbanas”, sublinhando que “eram obras perfeitas no seu género, porque eram puras, sinceras e totais”. Contudo, Jorge Dias adverte “Quem é que pode exigir que (…) as danças e a música popular se conservassem puros na época do plástico?”[4]
Esta breve introdução académica ajuda-nos a percepcionar a pertinência da singular abordagem, ao longo de quatro anos, da Professora Isaura Reis, em torno dos Bombos de Lavacolhos, registando ao pormenor, a originalidade e tradição, da origem aos nossos dias, do poder contagiante e energia libertadora, salientando mudanças na construção dos bombos, cada um com sua mestria e segredos, sem esquecer o pífaro que foi de madeira e agora é de metal.
Efectivamente, Isaura Reis decidiu lançar-se numa árdua mas empolgante tarefa, revisitando, com novos olhares e testemunhos actuais, a tradição dos Bombos de Lavacolhos, acompanhando todos os momentos de divulgação que o grupo de tocadores marcou na comunicação social, seguindo a performance e respectiva evolução.
A autora procedeu a uma recolha aprofundada, com pesquisa alargada na comunicação social, vasta consulta bibliográfica de obras gerais e específicas.
A sua metodologia transdisciplinar, integra testemunhos de muitas personalidades contemporâneas e de referência, ligadas à Música, à Etnografia, ao Jornalismo, escutando autores incontornáveis como Maria Antonieta Garcia, José Alberto Sardinha e Fernando Paulouro Neves, Músicos como Adelino Pereira, José Reis Fontão e Luís Cipriano, só para mencionar alguns dos citados.´
Além da análise histórica, reportando a existência do grupo através do tempo, Isaura Reis desenvolveu a observação-participante, fazendo inúmeras entrevistas ao povo local e enriqueceu a obra com uma selecção fotográfica notável, recorrendo por vezes ao magistral Diamantino Gonçalves.
Os Bombos de Lavacolhos representam o que há de melhor na tradição popular.
Uma vivência reforçada em cada actuação, que é celebração de um património identitário, herança de gerações e orgulho de uma Comunidade.
Nas páginas deste livro, evidencia-se o conhecimento geográfico de uma prática cultural repartida (e revisitada) desde a ida à Emissora Nacional, Coliseu dos Recreios, Zip Zip, Povo que Canta, Fundação Gulbenkian e TV da Galiza durante oito decénios.
Isaura Reis não prescinde da sabedoria de Ernesto Veiga de Oliveira, Michel Giacometti, Lopes Graça, Jaime Lopes Dias e Armando Leça, entre outros. Disseca a Moda do Bombo, actualizando o levantamento primordial de Carlos Gravito.
Mergulhando nas Ciências Sociais, a autora produziu uma obra de conteúdo incontornável, constatando a revitalização de uma prática que a mediatização tornou conhecida dos portugueses de Norte a Sul e que, apesar de ter ganho espaço num Museu, mantém-se viva, actuante e com futuro. Penso que faz todo o sentido citar Paulo Lima: “O Património imaterial (…) só existirá se for contemporâneo e se houver pessoas que o sintam enquanto vida e não enquanto representação.”[5]
Este trabalho aponta para a continuidade da prática emblemática, ressalvando eventuais lacunas, pois a presente publicação é um contributo para o estudo de um tesouro comunitário e dos costumes a que está ligada uma população, realçando a intensidade com que os tocadores exaltam cada contexto festivo, onde o Homem é a medida de todas as coisas.
O testemunho dos principais intervenientes - construtores e tocadores - explicando as funções, ombreia com os depoimentos dos estudiosos, reconstituem as diversas fases deste símbolo de uma povoação, através do seu pujante ritual de mestria. Revisitamos a envolvência de Fausto, António Vitorino de Almeida, Pedro Barroso, Salvador Sobral e muitos grupos que coleccionaram cancioneiros, interpretando com instrumentos de cariz aldeão, que passaram de geração para geração, canções resgatadas do olvido, introduzindo bombos nas suas actuações públicas e nas gravações que perpetuam este feliz movimento, que se multiplicou nas últimas décadas.
Parabéns, Isaura Reis, por esta investigação e pelo engrandecimento que “A moda do bombo voz do povo de Lavacolhos” traz ao espaço e à cultura popular, revigorando, modernizando e elucidando todo um saber fazer que, enquanto houver o gozo e o reconhecimento da transcendência do quotidiano, que desde sempre se vivencia nesta terra da Beira, juntando a tradição à actualidade, será pele, sangue e imaginário popular celebrando um território, que se deseja eterno.
Luís Filipe Maçarico
(Antropólogo; Poeta)
Almada, 13 e 16 de Janeiro de 2023
[1] Giddens, Anthony “O Mundo na Era da Globalização”, Lisboa, Presença, 8ª edição, 2012, pp. 46-52.
[2] Castelo Branco, Salwa; Freitas Branco, Jorge (org.) “Vozes do Povo A Folclorização em Portugal”, Celta Editores, Oeiras, 2003, pp. 1 e 20.
[3] Baptista, Fernando Oliveira “Museus e Património Imaterial”, Instituto dos Museus e da Conservação, 2009, p. 41.
[4] Dias, Jorge “O Folclore na Era do Plástico”, in “Reflexões de um Antropólogo”, Cadernos de Etnografia, Museu da Cerâmica Popular Portuguesa, 2ª série, Barcelos, 1968, pp. 37-41.
[5] Lima, Paulo “Património Cultural Imaterial. Conceitos e Formas Desadequadas de Olhar a Paisagem”, Aldraba nº 16, Outubro
quarta-feira, julho 19, 2023
GREVES NA CP:DOIS ANOS A PREJUDICAR OS UTENTES
No Verão passado e naquele que está a decorrer os trabalhadores da CP representados por inúmeros sindicatos insistem em prejudicar os utentes. As ligações, por exemplo, entre Lisboa e Porto ou Braga, apenas se concretizam através dos Alfas e a ligação com a linha do Minho falha. De um dia para o outro, sobretudo no caso das ligações por comboios regionais, nada é assegurado e não podemos comprar bilhetes antecipadamente.
Este ano, 17 sindicatos assinaram acordos com a CP. Bastou um (o dos cobradores itinerantes) não concordar para os utentes serem prejudicados.
Já é tempo das lutas prejudicarem empresas, na reivindicação e não os próprios trabalhadores em luta para alcançarem os seus objectivos - melhoria de direitos, condições laborais, salários, etc em vez de penalizarem aqueles que pagam os passes e garantem todos os meses o funcionamento mínimo.
Já é tempo dos Sindicatos terem outro olhar e reinventarem formas de luta inovadoras. Ou será que os Sindicatos querem que por exemplo a Transtejo passe a ter como acontece com o comboio da ponte sobre o Tejo, concorrência? É que continuamos a ter (todos os dias) barcos suprimidos...E no caso dos comboios, será que estão a abrir caminho para transportadoras alternativas, estrangeiras, entregando à concorrência (camionetas privadas, empresas ferroviárias com origem em Espanha ou noutros países) o serviço nacionalizado?
Dá que pensar a complexidade destas questões.
A primeira pergunta que a situação suscita é: Para que serve um Sindicato
*(pergunta que coloquei aos dirigentes daquele onde fui director, nos anos 70, quando pedi a reforma em 2012 e apenas ter a confirmação da aposentação quase 1 ano e meio depois de ter descontado para a Segurança Social durante um longo tempo de espera, cujos descontos não contaram para a pensão, pois o advogado sindical tinha uma postura oposta à de um defensor daqueles que trabalham...).
Sinto-me decepcionado com esta postura que repete até à náusea e ao desespero o que se faz há décadas. E ocorre-me lembrar a greve da mala da Carris antes do 25 de Abril em que não foram cobrados bilhetes e apenas a companhia foi prejudicada.
O Futuro é cada vez mais incerto, ainda que haja muita gente a lutar pelos valores de Abril - que outros tantos vão minando e destruíndo a esperança num mundo melhor.
Luís Filipe Maçarico (texto). Imagem retirada da Internet.
sexta-feira, junho 02, 2023
Lançamento dia 10 às 18h na Feira do Livro do meu novo livro de poesia "Língua de Rumores"
Dia 10 às 18h no Auditório Nascente da feira do Livro de Lisboa, a editora Lema d'Origem patrocina o lançamento do meu novo livro de poesia "Língua de Rumores".
A capa é da autoria de Rodrigo Dias, o prefácio é de Paulo Câmara e o design de Marta Barata.
Nesta nova colecção de poemas, continua a viagem pelo Mundo, do Norte de África (Marrocos) às Caraíbas (Cuba), passando por Praga, regressando à Beira Baixa e outras regiões de Portugal, como a ilha da Madeira. "Língua de Rumores" é a continuação dos "Versos do Caminhante", valorizando a língua portuguesa que de país em país e de região em região vai absorvendo e registando emoções, encontros, momentos que se tornaram eternos através da palavra.
Obrigado especial ao editor António Lopes, o meu estimado amigo Sá Gué, junto do qual avancei com esta experiência cuja raíz se gerou no festival de poesia transfronteiriça entre Morille e Vilarelhos, proporcionando uma segunda obra editada.
Luís Filipe Maçarico
domingo, maio 28, 2023
EDUARDO OLÍMPIO REEDITADO E CELEBRADO NA CASA DO ALENTEJO
Ontem, sábado 27 de Maio de 2023, na Biblioteca da Casa do Alentejo, foi apresentada a reedição pela Colibri das suas obras-primas "António dos Olhos Tristes" e "Um Girassol Chamado Beatriz".
Estiveram presentes muitos leitores e amigos, associativistas e autarcas de Santiago do Cacém e Alvalade- Sado, que já tinham homenageado o autor e filho da terra, Eduardo Olímpio e respectivos filhos e netos.
O presidente da junta de Alvalade, Ricardo Jorge Cruz, a vereadora de Santiago do Cacém natural daquela freguesia, Mónica Fialho de Aguiar, a Professora Rosa Calado da Casa do Alentejo, o professor Deodato Guerreiro, Fernando Fitas e Luís Filipe Maçarico, além de Fernando Mão de Ferro, o editor, intervieram, tendo o poeta falado no final, encerrando com chave de ouro uma maravilhosa sessão de partilha, ficando no ar a eloquência do Dr. Deodato que evocou filósofos gregos para falar do sábio Eduardo Olímpio e a frase "tranquilidade olímpica" com que F. Fitas retratou o autor celebrado. Uma parte da assistência veio de Cuba, Ferreira e Alvalade-Sado. Foi sugerido na sessão e algumas professoras confirmaram que estavam a trabalhar nesse sentido que este livro passasse a fazer parte do Plano Nacional de Leitura.
Tenho a honra de ter sido convidado pelo editor a fazer o Prefácio (a cujo autor pedi autorização para ser publicado):
“ANTÓNIO
DOS OLHOS TRISTES” E “UM GIRASSOL CHAMADO BEATRIZ” DE EDUARDO OLÍMPIO: A
CELEBRAÇÃO DA VIDA E DOS SERES NO TEMPO MÁGICO DE UMA ATMOSFERA POÉTICA
Quem alguma vez
foi à Galiza e escutou uma avó - como me aconteceu - num desfile festivo de
flores no dia do Corpo de Deus, em Ourense - ralhando com o neto traquinas numa
linguagem ancestral - “se não estás quedo, levas tau tau no rabiósque”,
encontra em “António dos Olhos Tristes” e
“Um Girassol Chamado Beatriz”,
reminiscências dessa oralidade.
Eduardo
Olímpio nesta reedição das duas obras oferece-nos várias
estórias elaboradas como uma tapeçaria de grande riqueza vocabular e
etnográfica, que nos remete para uma língua genuína, tecendo a paisagem mágica
do Alentejo da sua infância, usando termos antigos e regionalismos que quase
deixámos de ouvir, tais como “escarchava, especou-se, fincados, adejam, abada,
estarrabagide, charquinhou, traquitanado, engatinhar, tunante…”
Falo de um
grande escritor que não foi devidamente consagrado, não obstante a qualidade do
seu percurso literário.
A reedição
destes textos faz todo o sentido à luz desta ideia, que muitos dos que o leram
conhecem, podendo os novos leitores confirmar pela descoberta da sua escrita
prodigiosa.
Óscar
Lopes considerou “António
dos Olhos Tristes” uma das três melhores novelas de autores contemporâneos,
a par de “O Barão” de Branquinho da Fonseca e “A Caça” de Virgílio Martinho.
Efectivamente,
na profunda e harmoniosa ligação do seu cérebro às mãos, a palavra é filigrana
que molda com uma ternura desusada, inscrevendo-se numa estrita galeria de
escritores onde a infância, o amor à Natureza, às pessoas e aos animais fulgem,
como o brilho radioso do mais rico diamante.
Lê-lo é sentir
um enorme prazer por essa sensibilidade tão forte que ofusca a vulgaridade,
exaltando o melhor da existência.
Nestas páginas
só há lugar para a celebração da vida e dos seres, no tempo intacto dos livros
serenos e doces. Transcendentes, como este…
Eduardo
Olímpio é uma espécie de representante de uma tribo
ameaçada - os alentejanos, enquanto produtores e defensores de patrimónios e
tradições postos em causa.
Quantas
oliveiras e sobreiros milenares foram arrancados dos nossos campos,
desfigurando a paisagem?
Onde, a
diversidade biológica, das ervas e flores aos insectos, que irrompiam pela
Primavera entre árvores?
“António
dos Olhos Tristes” e “Um
Girassol Chamado Beatriz”, ao nível de “A
Maravilhosa Viagem de Nils Holgerson Através da Suécia” da Nobel Selma Lagerlöf são textos
encantatórios, de um imaginário marcante que dignifica a caminhada humana, com
uma atmosfera poética que eterniza o autor e o seu olhar criativo.
Parabéns, Eduardo Olímpio pelo legado
incomparável que revela um talento singular, contribuindo para nos fazer
sonhar, através do voo da palavra.
Bem
Hajas, pela pegada luminosa, rumo ao Futuro!
Almada, 27-4-2023
Luís Filipe Maçarico
(Poeta; Antropólogo)
segunda-feira, maio 01, 2023
Praia da Luz de Lagos: Regresso em Abril, depois da Páscoa...
Depois da Torreira, da Zambujeira e de Odeceixe, surgiu a Praia da Luz (de Lagos). Por aquelas paragens tenho fruído períodos entre o Natal e o fim de ano. Temporadas antes dedicadas durante largos anos a Alpedrinha...
Este ano, a seguir à Páscoa, o mesmo grupo destas novas viagens voltou à praia mágica, que no início de cada ano é um oásis e mesmo em Abril ainda tem semelhanças com o Paraíso.
Antes de voltar a Almada, decidi andar a pé sobre a areia e contemplei uma vez mais as rochas e o horizonte de tanto mar.
Luís Filipe Maçarico (texto e imagens)