"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, fevereiro 24, 2021

O GRITO DAS GAIVOTAS

 




Pairam nas ruas cinzentas

de Fevereiro, as gaivotas.

Teimosas, as palavras procuram

estrelas, versos solares, uma esperança.

Tempo de riscar páginas. Os sonhos tardam.

Onde estará a Poesia?

Chuva e vento desenham sombras.

Nos telhados permanece o grito

das gaivotas. No céu destes dias

escrevo luz contra o silêncio.


Luís Filipe Maçarico

11-2-21

QUERO ACREDITAR


 Quero acreditar nos crepúsculos

mágicos que já tive em abraços 

de Mar.

Quero teimosamente crer que a Poesia

poderá superar as trevas destes dias.

Quero acreditar no regresso dos sonhos

projectos e afectos ausentes.

Quero acreditar nas alvoradas

por respirar e deixar de riscar

tantos versos sem asas.


24-2-2021

Luís Filipe Maçarico

terça-feira, fevereiro 02, 2021

TORMENTA



A casa está mergulhada num silêncio que me apraz.

Penso na dureza do confinamento. Na memória que - será do cansaço deste passar o tempo sem proveito? - que em mim era uma qualidade e agora começa a baralhar-se.

Penso na ignorância dos que nunca leram um livro e em situações como as actuais estão a passar muito mal, pois o sonho e a esperança que muitas páginas guardam não podem ser fruídas por quem só conhece presságios e diz que está escrito que estamos a chegar ao fim dos tempos.

Penso nas doenças graves que não podem ser tratadas, por causa da invasão da pandemia.

Penso nas vacinas, que são usadas indevidamente, enquanto morrem centenas de pessoas por dia.

Penso na situação terrível de governar agora, com tantos obstáculos, mas também  nos que aproveitam o momento [monopólios farmacêuticos] para enriquecerem descomunalmente.

Penso na pequenês do país. Na ansiedade umbiguista de chegar a minha vez, nos longos dias que decorrem  tentando proteger-me do vírus. Desta Tormenta.

Penso que é melhor continuar a ter a televisão fechada, para não ter de suportar a indignidade dos que se dizem jornalistas e essencialmente transmitem terror, medo, números de infectados e mortos, quase sem mostrar os casos de quem foi bem tratado, como se meter medo fosse a sua função castigadora contra um povo que elege espelhos e age muitas vezes sem perceber o mal que faz a si mesmo.

LFM Texto e fotografia)

terça-feira, janeiro 19, 2021

À MEMÓRIA DE PIEDADE CANIÇA

 


Na areia das marés

em pegadas diluídas

os sonhos evaporam-se


Mesmo que hajam

gatos a pedir ternura

e primaveras prometidas


existe o silêncio dos que

deixaram de caminhar

ao nosso lado.


Gostava de encontrar´

o desejado lugar

onde a esperança 

vencerá o vazio


[e passo o tempo a riscar palavras

na penosa espera desta

"não-vida"*...]


*José Gil, 27-12-2020


Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia). Piedade Caniça nasceu em Póvoa de Atalaia, irmã de Maria dos Anjos e de Francisco Caniça. Os meus sentimentos a ambos, e a toda a família, em especial à filha Sónia e aos sobrinhos Lourenço, Hugo, Sandra, Nuno e também ao Leonardo e ao Dinis. 

19-1-2021 [dia do nascimento do Poeta Eugénio de Andrade, em Póvoa de Atalaia, há 98 anos]

sábado, janeiro 09, 2021

2021



 A passagem dos dias implica uma resistência impensável.

O tremendo problema de saúde que invadiu o nosso quotidiano e que nos ameaça dia após dia, baralhou os nossos passos.

Desejamos todos os anos por esta ocasião um Novo Ano, repleto de saúde e Felicidades.

Tenho enviado aos Amigos votos para voltarem a sentir alegria em viver.

Os tempos que se avizinham implicam novas impossibilidades, o confinamento da Primavera de 2020 começa a reaparecer no horizonte próximo.

A vacina tarda para todos os que têm debilidades, a começar pela idade, com doenças associadas.

Quantos dias, semanas, meses, temos de suportar ainda até atingir o dia prometido?

LFM (texto e fotografia)

domingo, novembro 29, 2020

NICOLAU VERÍSSIMO: CIDADÃO EXEMPLAR, DISCRETO, SEMPRE ACTUANTE!


Os ideais do associativismo proporcionaram que nos conhecêssemos, durante um congresso no S. Jorge, onde trocámos experiências.

Ele, em Viana do Castelo, ao lado de Laurinda Figueiras, eu em Lisboa e Alpedrinha, nas diversas colectividades, além da associação Aldraba, onde estava integrado.

O convite que, com Laurinda Figueiras me fez para participar nas Jornadas de Cultura Popular, foi aceite e desde então em cada ano que passava íamos partilhando novas perspectivas acerca das tradições minhotas

Levei até à Meadela alguns Amigos, entendidos em diversas matérias - eu próprio comuniquei acerca de temas variados - que terão enriquecido as Jornadas.

A Ronda Típica ia marcando pontos na sua ascensão como grupo etnográfico de referência que não hipotecava as suas nobres origens, obtendo um prémio na Turquia, num encontro de Folclore Internacional.

Discreto, bonancheirão, descrito por um amigo como de convívio "umbilical", tal era a naturalidade com que se dava àqueles que mereciam a sua estima, Nicolau Veríssimo supervisionava milhentos pormenores para que os eventos reflectissem o brilho idealizado.

Depois de termos - com o decisivo contributo de Laurinda Figueiras - consumado o sonho da elaboração e apresentação (na Biblioteca de Viana, No Salão Paroquial da Meadela e em Espanha) de "Por Feitiço, Por Magia", sobre a vida e obra do fundador da Ronda, José Figueiras, surgiu a oportunidade de participação regular no Festival Transfronteiriço de Poesia, Arte de Vanguarda e Património, nascido em Morille (Salamanca) com uma versão portuguesa em Vilarelhos.

Homem de Tertúlias e de sã convivência, agradabilíssimo, reconhecido por todos os que com ele privaram, foi vereador das Obras da Câmara Municipal de Viana do Castelo, cujo desempenho merecia o respeito colectivo.

Obreiro do Centro de Dia e da Creche, preocupava-se com o bem estar da Comunidade e particularmente dos mais fragilizados desta Sociedade.

Se Deus existe deve ter um lugar destacado no Céu dos Crentes.

[A todos os Familiares e Amigos, os meus Sentimentos!]

Almada, 29-11-2020

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)


sábado, novembro 21, 2020

OBRIGADO, JOSÉ PRISTA!

 


Proporcionou-me a Vida a possibilidade de conhecer, tendo acompanhado durante alguns anos, um Homem inteligente, com um sentido de humor singular, cuja estima mútua foi marcante naquilo que aprendemos e partilhámos.

José Manuel Prista, sábio da meteorologia e de outros saberes, deixou este mundo, situação que todos nós algum dia cumprimos.

Participei na sua casa de Lisboa nas reuniões da Comissão Promotora da Aldraba, associação do espaço e património popular, tive o prazer de ser seu colega na direcção - após a fundação, onde manifestou sempre uma opinião crítica e construtiva. 

Com José Alberto Franco registámos os estatutos da associação numa notária. 

Ao longo do tempo visitei-o (com ele aprendendo lugares, factos e figuras da História ligados ao concelho para onde foi viver).

A minha mudança de residência, depois da aposentação antecipada, além de alguns problemas de saúde, que no caso dele foram profundos, interromperam o contacto.

Guardo dele boas memórias. Uma forma de estar com escala humana.

Apresento os meus sentimentos à família e aos amigos, que como eu sentem a perda do companheiro de sonhos, que apoiou entusiasticamente a associação, cujo primeiro caderno temático, sobre aldrabas e batentes, apresentou durante o festival islâmico de Mértola, onde também esteve "de serviço" à exposição montada numa garagem, onde além de aldrabas e batentes, os "seus" Cataventos - utensílios que tão bem conhecia e sobre os quais publicou um importante estudo, eram mostrados com a qualidade das suas imagens e palavras.

Obrigado por tudo, José Prista!

Luís Filipe Maçarico (texto) Fotografia recolhida na Net