"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, novembro 14, 2010

"...certas coisas nos surpreendem...Lugares de Arruda*"


Ontem, ao revisitar a Arruda dos Vinhos, reencontrei o meu querido amigo e colega antropólogo Dr. Jorge Cunha, cujo mestrado em Ciências da Educação lhe permitiu enriquecer-se em termos da sua partilha, enquanto professor do Externato João Alberto Faria, onde há muito lecciona, com um entusiasmo e prazer, que confirma a sua vocação nessa área.
Com alunos e com o Dr. Paulo Câmara, anima um grupo de amigos que dizem Poesia em diversas iniciativas, onde espero um dia participar.
E esta conversa, vem, a propósito da Poesia, prestar a justa homenagem, da minha parte, ao labor incansável daquele antropólogo -pedagogo, autor de diversas obras acerca do património arrudense.
Pois, a dada altura, estava eu a ouvir falar da bruxa da Arruda, durante o encontro que a associação Aldraba realizou naquela vila, quando o Jorge Cunha me aparece com um livro sumptuoso, contendo magníficas ilustrações do aguarelista José María Franco, numa edição da Fundação João Alberto Faria. O título da obra, publicada em 2006, é:"...certas coisas nos surpreendem...Lugares de Arruda"* e consubstancia uma antologia de poetas portugueses.
Vinte e nove poetas, onde avultam Camões, Garrett, Herculano, Camilo, Antero de Quental, Cesário Verde, António Nobre, Camilo Pessanha, Teixeira de Pascoaes, Irene Lisboa, Florbela Espanca, Sophia de Melo Breyner Andresen, Carlos de Oliveira e Eugénio de Andrade, entre os nomes dos poetas que já partiram. Dos sete vivos incluídos, que escreveram sobre Arruda, nas páginas 99 e 103, um tal Luís Filipe Maçarico, que os antologiadores entenderam integrar.
Há quatro anos pois que os meus poemas ali estavam tão bem acompanhados e só agora tive a grata satisfação de os ver/reconhecer, pois tenho semeado pelo país versos, que ficam no coração das pessoas, bem como "bonecos"de café, que de repente alguém me diz que guarda e emoldurou.
É comovente sentir que ficou um rasto de afecto, simbolizado no traço e na sílaba, que cintilam agora numa parede ou numa página que surpreendem.
Nem tudo é mau nesta vida, onde muitas vezes valorizamos aspectos negativos, porque o quotidiano que nos inspira é longo e aquele momento mágico foi apenas um riscar de cometa, um suspiro, um esguicho de luz na sucessão dos dias.
De qualquer modo, seria injusto, se não enaltecesse aqui, quer a dedicatória de José María Franco ("a Luis Maçarico que con su verbo limpio y fresco ayuda a comprender la transparencia de estos lugares), quer a escolha de 2 poemas de minha autoria, que na pessoa de Jorge Cunha agradeço, reconhecido pela honra que me proporcionaram.

Aqui fica um dos meus poemas e uma das aguarelas de José María Franco:

RUAS DE ARRUDA

RUAS de cal
E varandas
De serra e vento
À escuta do silêncio

CALLES DE ARRUDA**

Calles de cal
y barandas
de sierra y viento
escuchando el silencio

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* Frase de um poema de Irene Lisboa.
**Trad. Manuel Moya
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Luís Filipe Maçarico Texto
José María Franco Aguarela

Arruda dos Vinhos: Perto de Lisboa, uma Terra com História e Afecto




























Quem chega ao Centro de Arruda dos Vinhos depara-se com o jogo da água no chafariz - tanque que é uma das suas jóias patrimoniais.
Terra onde um Aqueduto serpenteava, Arruda viu o progresso roubar-lhe algumas quintas e essa preciosidade arquitectónica, guardada em fotografias antigas, para dar lugar à actual vila, em expansão, tal é a qualidade de vida que ainda habita estes lugares, arejados e com memórias que vale a pena revisitar.
Em primeiro lugar, a Matriz, que ontem, com a Aldraba e Paulo Câmara, o chefe da Divisão que comporta a Cultura local, visitámos, admirando o belo portal manuelino, com anjos esculpidos.
Pelas ruas antigas do velho burgo, becos, aldrabas, alfavaca, arruda, são termos comuns, para nomear pedaços da identidade quotidiana, que envolve os seus habitantes.
Recorda-se a bruxa que fez uma rapariga vomitar uma cobra, segundo a lenda, depois de a pôr a comer sementes de abóbora e leite durante alguns dias, para a tratar de uma maleita. Afinal a cobra seria uma bicha solitária...
A Biblioteca, instalada num Palácio da Renascença foi requalificada, é um prazer para a alma percorrê-la de novo, pois aqui estive com Rosa Lobato de Faria e Fernando Pinto Ribeiro. As suas vozes estão guardadas nos livros que evocam a sua poesia e génio criativo.
O almoço simpático decorreu no restaurante Nazareth, uma boa referência gastronómica, com preços acessíveis. Conviveu-se.
Após o repasto, foi tempo de visitar a Cooperativa, que tem 400 cooperantes e produz um vinho apreciado. O Encontro aliás, atrasou-se um pouco, pelo grande interesse dos participantes em adquirir garrafas de bom néctar destas paragens.
Os responsáveis pela empresa foram impecáveis, mostrando o complexo industrial, com uma gentileza que apraz registar, servindo um licoroso inesquecível que aqueceu os viajantes.
Ficou-nos na retina o velho alambique, peça museológica que mereceu a admiração dos que propugnam a preservação destes tesouros da arqueologia industrial.
A jornada terminou na sede do Rancho Podas e Vindimas, com o poeta de raíz tradicional João Silva, contando a sua história de vida e declamando alguns poemas da sua lavra, o que foi muito apreciado pela assistência tendo o artista plástico e também poeta, associado da Aldraba, lido uma quadra que dedicou ao vate da Arruda, residente em São Tiago dos Velhos.

Chegados aqui, apetece reflectir, em jeito de balanço: Arruda dos Vinhos - Perto de Lisboa, é terra com muita História e gente amiga, que permite utilizar com a alegria com que festejamos as coisas melhores da vida, a palavra Afecto.

Constituiu um sábado diferente, este dia 13 de Novembro de 2010, para a partilha de saberes, sempre em redor da Magia Humana, esse património singular, que enriquece os lugares, com a criatividade daqueles que os amam de verdade.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

Dia Mundial dos Diabetes e o Tratamento Injusto dos Doentes Crónicos


Sexta feira passada, entrei na farmácia do meu bairro, onde me picaram o dedo, para saber como estava a glicémia.

Depois, fui a Campo de Ourique, ao consultório onde o meu médico me passa as receitas, no sentido de aceder à caixa de Janumet, para monitorizar a doença durante algum tempo.

Voltei com a receita à farmácia do meu bairro, para finalmente poder comprar o medicamento para os diabetes...

Mas, pensando melhor no assunto, confesso que fiquei revoltadíssimo, concluíndo que havia perdido uma manhã de folga, quando, sendo doente crónico, podia ter acedido ao medicamento, sem esta dificuldade absurda.
Hoje é dia mundial dos diabetes.
Em Portugal há perto de 1 milhão de cidadãos com esta doença...
Não percebo porque somos tratados, como se estivéssemos atrasados num século distante...

Luís Filipe Maçarico (texto e imagem)

segunda-feira, novembro 08, 2010

A Choldra e o Receio das Hienas























Quando a manifestação de sábado passado saiu do Marquês do Pombal, a tarde estava no seu auge de luz e saboreava-se essa luminosidade, como prenúncio das lutas futuras, que terão de ser vitoriosas, para honrar os nossos mortos, que durante gerações suportaram um mundo injusto, desigual e desumano, legando-nos, julgavam eles, menos peso para a nossa caminhada.

Os companheiros que assim se manifestam, ano após ano, por vezes no mês seguinte à anterior jornada de indignação, nunca deixam os governantes seguros.
Apesar de suas senhorias alegarem que são dotadas de poderes sobrenaturais, tendo uma disposição férrea, no sentido de não alterarem as suas decisões, altamente lesivas para quem trabalha.

Vai daí, choldra puxa choldra, e um pseudo "investigador" americanóide pôs-se a jeito, pois certamente recebeu uns cobres, para levar a cabo uma "pesquisa", que a comunicação social, nada arregimentada aos patrões do toucinheiro capitalismo tuga, se babou por divulgar.

Para dar um ar mais sério, até foi revelado que alunos da Universidade Nova estiveram a contar os manifestantes, usando fotos sortidas, tiradas de lado e do alto, de baixo e sabe-se lá de onde, para dar o esclarecedor resultado de apenas terem contado 8 a 10 mil manifestantes.

Muito depois das cinco, já a noite se desenrolava, chegavam ainda trabalhadores à Praça dos Restauradores.
Mas o grande indagador aí então apenas vislumbrou uns cinco mil participantes.

Como estive lá, lamento que este género de sondagens mereça o crédito da tal imprensa servindo os interesses daqueles que anseiam cada vez mais amarrar os que trabalham à miséria, à escravidão, à incerteza de um futuro assustador, para melhor poderem explorar os que têm de vender a força dos seus braços ou a criatividade do seu espírito, para aspirarem a ter uma vida com o mínimo de dignidade.
Aliás, em minha opinião, é mais um sintoma do receio das hienas. O banquete está ameaçado...

Luís Filipe Maçarico(texto e fotografias)

domingo, novembro 07, 2010

O Murro na Mesa e os Ventríloquos


O líder do partido fundado por Sá Carneiro, tem andado nos últimos dias numa roda viva, insistindo na necessidade (ao que parece já consagrada na Constituição) de se exigir responsabilidade civil e criminal, aos governantes que mentem e nunca são punidos, pelos sucessivos buracos orçamentais.
Fustigado pelos ventríloquos da governança, sempre prontos a limpar a honra do Condutieri, tentou acalmá-los dizendo que era pra valer a partir de agora, para este e para futuros governos.
Contudo, e porque não me parece justo, pela memória que guardo acerca do que fizeram de mal àqueles que trabalham, porque não incluir nesse diktat anteriores governos dos partidos alternadeiros, que há décadas nos vampirizam?
Exigir, só agora, responsabilidade civil e criminal dos governantes incompetentes, que prejudicam Portugal?
Olhe que não, olhe que não!!!
Quer-me parecer que é uma forma de fazer esquecer que também assinou o Orçamento que me vai roubar parte do salário, atacando ainda através de impostos sortidos a bolsa de quem trabalha...
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

sábado, novembro 06, 2010

Ecos de uma Enorme Revolta










A Função Pública manifestou-se esta tarde em Lisboa.
As imagens são esclarecedoras, não precisando de comentários.
Apenas uma palavra para definir o que os trabalhadores deste sector sentem, perante a opressão e precariedade com que o Governo Sócrates/PS está a ferir de morte a estabilidade e o equilíbrio do quotidiano de todos os trabalhadores portugueses: REVOLTA!*
*Indignação que alastra a toda a Sociedade, pois cortou nos abonos de família, mas nacionalizou bancos de especuladores, antigos governantes de governos cavaquistas. Talvez por isso, Sócrates nunca tenha sido demitido...

texto e fotos de Luís Filipe Maçarico

Contra a Desumanidade


A desumanidade dos governantes está a atingir limites de decência e dignidade.
Os valores pelos quais gerações lutaram, estão a ser trucidados.
São os nossos mortos que são desrespeitados pelas decisões de gente sem nível, que pratica tiro ao alvo aos direitos conquistados com muito sofrimento, atacando os que menos protecção têm.
Entretanto, vemos ouvimos e lemos que os bancos, não obstante a crise, têm lucros tubarónicos: mais de 4 milhões de euros por dia! e sem pagarem imposto.
Quanto à redução dos salários na função pública, deixo aqui o apelo para que o maior número de sindicatos entregue em todos os tribunais do país providências cautelares, pois ao contrário daquilo que Manuela Ferreira Leite disse na Assembleia da República, este orçamento (leia-se estes cortes) não é inevitável.
Os muitos milhares de funcionários públicos que estiveram hoje na Avenida da Liberdade, em Lisboa e nos Restauradores, vindos do Marquês de Pombal, disseram Não à política desastrosa de Sócrates que todos os dias nos empurra um pouco mais para o abismo, com a tímida assinatura de Passos Coelho e a envergonhada simpatia de Cavaco Silva, pois o Partido Socialista que está no Governo tem feito as maiores malfeitorias às classes menos privilegiadas da Sociedade, protegendo os ricos.
Não é por acaso que o actual primeiro ministro se veste num costureiro da Alta Sociedade nova Yorquina - qualquer capataz do Capitalismo que se preze, tem de ter boa apresentação, para agradar aos doninhos...
Texto e fotografia - recolhida hoje nos Restauradores - de Luís Filipe Maçarico