"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, setembro 14, 2007

RAÍZ DE SEDES



Sou uma semente lançada
ao deserto.

Perdido, invento a gota
de água para ganhar asas.

Sou uma raíz de sedes
a germinar no território do nada.

Esquecido, resisto e bebo a força
que guardo na alma.

Solto sonhos, teimosamente.
Acredito ainda num sorriso

que vai chegar e devolver-me
a vida que me roubaram.

Poema de Luís Filipe Maçarico, escrito em 14-9-07 (13h 40m); Fotografia de Sónia Frade

TENHO SAUDADES DOS AROMAS DESSE PAÍS DISTANTE




Tenho saudades dos aromas desse país distante, que me enchem as narinas de encanto. Odores de mar e harissa, colorindo o sol de cada dia. Músicas estranhas desinquietando os sentidos.
Tenho saudades daquele que fui, percorrendo os envolventes caminhos da descoberta, buscando uma energia única no silêncio dos horizontes desmedidos...
Tenho saudades de ser, no Outro, o Eu que me falta!
Texto: LFM; Fotos: Sónia Frade.

sábado, setembro 08, 2007

INGLESES, ESTATÍSCAS, MEDIATIZAÇÃO & SARAMAGO


Há alguns anos atrás, quando dava os primeiros passos na Internet li um site inglês - que me revoltou - onde se assegurava que Portugal era Marrocos da Europa.
A única coisa errada nesse site era ele ser feito por gente arrogante e estúpida, que se julga superior.
Constantemente escuto relatórios estatísticos, quando faço a barba:
Menos mortos no período x, do que em idêntico período em ano anterior;
Menos incêndios no período y ,comparativamente com anos passados.
Mas houve ou não houve mortos?
Mas houve ou não incêndios?
Na Grécia houve: terríficos, dantescos noticiários, relatando a agonia prolongada de aldeias, de paisagens, de patrimónios, de seres humanos...Morremos sempre um pouco quando o mundo que conhecemos se evapora do mapa, e o triunfo da destruição cunha a sua maléfica pata.
Oliveiras queimadas, velhos, crianças e animais fulminados por uma Dor que não se consegue transmitir com nenhuma palavra.

O mediático casal inglês, com poderosas ligações ao Governo de Sua Majestade, Fátima, Vaticano, etc., protagonista da misteriosa tragédia , que tem ocupado todos os dias, desde Maio, neste país terceiro - mundista, um mínimo de meia hora nos telejornais, com repórteres in loco, comentadores, entrevistas, especulações, espalhou no início, abundantemente, fotografias da malograda criança desaparecida, para três meses decorridos criticar que há imagens da menina em excesso...
O que me impressionou neste caso, foi a falta de emoção. Disseram-me que os british são frios. Todavia, as imagens que diariamente nos chegam do planeta, com reportagens de calamidades em todas as latitudes, mostram (até de forma obscena) o sofrimento da perda. Mas nem precisamos de buscar comparações com os rostos torturados da Somália, do Líbano, da Palestina, da Bósnia, do México, ou de Timor. Basta retermos o olhar lancinante daquela mãe do Norte de Portugal cujo infeliz filho, foi raptado há demasiado tempo.

A história está mal contada... Há qualquer coisa que não bate certo...
Lembro-me de, nos primeiros dias do caso da criança britânica desaparecida, o criminalista Barra da Costa, estranhamente silenciado, ter revelado pormenores inquietantes e sublinhar que se devia perceber quem era esta gente, qual o seu percurso e de Moita Flores insistir na importância do excesso de garrafas de vinho consumidas na fatídica noite, que todas as pistas deviam ser investigadas...

Pobre menina, desgraçados miúdos, cujas existências se apagam, por sinistra supressão das suas inocentes esperanças ou por negligência monstruosa.
Se a tese da ocultação de cadáver veiculada pela Imprensa é verdade, estamos perante um crime com consequências devastadoras, pois a generosidade das pessoas ficará abalada e se voltarmos a estar perante uma aflição com contornos idênticos à história inicial, contada pelos protagonistas, correm-se riscos inomináveis...

Acabei de saber, em notícia de última hora, pela TV, que o casal pretende abandonar o nosso país...quando ainda há não muito tempo diziam que só saíam daqui quando soubessem o que tinha sucedido...
Estão cercados pela fogueira mediática, que eles próprios alimentaram. Vítimas de si mesmos, personagens de ficções propícias ao surgimento de um ou vários Best Seller ou de películas intensas, candidatas a prémios. A Sociedade de consumo integra os furúnculos, tudo é vendável...

Cercados nós, de ilusões que mascaram a pobreza mental do país..
Saramago afirmou que a única esperança é integrarmo-nos em Espanha... As carpideiras de um nacionalismo bacoco que nos empobrece e menoriza vomitaram fogo.
Não fui de férias, nunca vou no Verão. Assisti silencioso a tudo isto.
Entretanto, fui lendo a prosa ímpar de Baptista Bastos no Jornal do Fundão: inconformista e excelso, desancando quase isolado uma situação política insuportável, digna de novelas de países da América latina, outrora muito distantes, pela corrupção que por lá avultava.
Salem Omrani durante um telefonema que fiz para Tozeur, falou-me em Português...qualquer coisa estremeceu dentro de mim...mas cada vez menos sinto orgulho em viver aqui.
Apenas tristeza. Por isso o silêncio...
Texto e foto de LFM

quinta-feira, agosto 30, 2007

PRAÇA DA ARMADA, NÚMERO VINTE E SEIS


Na implacável contabilidade
das noites onde envelheço,
À janela da velha casa
Entre as brisas de Junho e
os nevoeiros de Dezembro
Permaneço.

Esperando o quê?

Cicatrizando mágoas, ausências,
O peso do tempo,
Escutando o vento...
À janela da velha casa
Eu venço!

Acima de tudo
Procuro o verso
Onde respira o Mundo...
E permaneço.

2-1-2002; 30-3-2002

LUÍS FILIPE MAÇARICO
Fotografia de ROSÁRIO FERNANDES

terça-feira, agosto 28, 2007

A Tapada das Necessidades no Olhar de Rosário Fernandes



















Há quem diga que Lisboa tem poucos espaços verdes e depois passe fins de semana, com as crianças, em centros comerciais. Na freguesia dos Prazeres, junto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, abundam árvores, um ar mais saudável, maravilhas para a contemplação e o silêncio, propício à leitura e à reflexão, povoado por cânticos de pássaros. Agosto é mês de cigarras... também elas deslumbram naquele reduto saudável, por estes dias de Estio.
Rosário Fernandes, jornalista alentejana encantou-se pelo paraíso que aquele espaço guarda, como as suas fotografias bem documentam.
Quando é que vai conhecer este grande jardim da cidade?
Junte-se ao Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades, que desejam uma Tapada mais cuidada. É que não obstante as belas imagens que aqui partilhamos, aquele espaço necessita de um plano de salvaguarda e fruição, cuja decisão tarda, nomeadamente no arranjo dos acessos, na recuperação de estátuas, fontes, pequenos lagos, recantos e edifícios (há diversas casinhas abandonadas e vandalizadas), moinho e sanitários (perto da estufa grande). Naquele lugar privilegiado, o Estado demonstra estar contra o Estado, havendo vários vestígios desta postura, nomeadamente junto ao atelier de pintura da rainha D. Amélia, actualmente ocupado por Jorge Sampaio, que ali possui um gabinete. O lixo das obras de recuperação desse património jaz em torno de alguns dragoeiros, a dois passos do fantástico Jardim de Cactos. O alindamento de um dos jardins interiores do palácio das Necessidades traduziu-se numa lixeira em volta de uma estátua de Baco, cuja base ostenta há meses sacos vazios de cimento...
No entanto, a beleza é tão profunda, as surpresaas são tão envolventes, que a Tapada merece a sua visita e você o prazer de se deliciar com esta jóia quase secreta da cidade.
Bons passeios e boas fotografias!
Texto: LFM; Fotografias: Rosário Fernandes.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Lisboa, Rua do Alecrim










No final da artéria há prédios que não acordam da ruína. Esta Rua do Alecrim tem sido alvo de vários abandonos. Aldrabas surripiadas, esperas que já não podem ouvir a sonoridade daquele belo artefacto das forjas de antanho, portas vandalizadas com inscrições que espelham o vazio do nosso tempo e a agressividade, este mal estar que as cidades mostram nas entrelinhas e na pele das paredes, nos rostos sem sonho.
Todavia, o olhar descobre algumas pérolas para partilhar....
Texto e fotos de LFM

sábado, agosto 18, 2007

Descoberta Mágica na Tapada das Necessidades








Descobri, há uma semana, na Tapada das Necessidades, um casal de bailarinos exímios, dois belos patos reais, que se exibem nas águas do lago, onde outrora reinava um bando de gansos.
Vieram cumprimentar-me, mas eu não tinha pão para lhes dar...
Segundo um soldado da GNR, estes animais andam por ali há cerca de um ano, mas a verdade é que nunca os tinha visto e ninguém me falara deles...
Esta manhã procurei-os e por momentos regressei à Infância...
Texto e fotos (as 3 primeiras do passado sábado e as restantes de hoje):LFM