"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, novembro 05, 2006

Metáfora


A vida dos portugueses é desde há anos comparável com esta janela: emparedada e pintada de ocre em tons de céu. Ou seja, a asfixia disfarçada de sonho azul.
LFM (fotografia realizada em Vila Nova de Erra, Coruche; Fev.2006)

sexta-feira, novembro 03, 2006

RAQUEL TAVARES


A primeira vez que escutei esta voz, ela já era um ser de garganta e alma iluminadas, espalhando aos quatro ventos a benção dos deuses da sua arte de (en) cantar.
Não é possível ficar indiferente à sua interpretação, pois as palavras na sua boca são frutos do paraíso, sagrados néctares, voos em busca da pureza inicial.
Raquel Tavares canta com a força das fontes e a graciosidade dos pássaros, mas há nela a telúrica revelação de uma paisagem suprema, a leveza dos dias envolvidos em saudade.
Raquel era ainda uma menina quando venceu a Grande Noite do Fado (1997). Aos 21 anos prepara-se para colher o resultado de muito trabalho e dedicação. Auguro-lhe muitos triunfos, o carinho do público e o êxito que merece, por ser uma mulher inteligente e sensível, Fadista com F grande, de Festa e Felicidade.
Parabéns, Raquel por seres digna de um património chamado Amália!
LFM
Nota: A Raquel actua hoje no Auditório Ruy de Carvalho em Carnaxide, às 22h.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Cobras e Lagartos: Um Achado







A capacidade de nos surpreendermos é qualquer coisa de mágico que nos pertence como um tesouro...
Quem diria que uma telenovela me ia tirar do sério? Qual Gato Fedorento, qual Revolta dos Pastéis de Nata!
Farto de chachadas delicodoces, de más que fazem agora de boazinhas, e de boas que fazem de más, ao virar de novela, na TVI que dá sempre a mesma novela, uma amiga recomendou-me que purificasse os fígados na mais alucinada filigrana televisiva concebida e representada por brasileiros de grande gabarito que devem desbundar até mais não.
Fiquei fã e agora peço a todos que não me telefonem entre as 22 e 30 e as 23 e 45...
Há quem goste dos Gift, há quem não perca a Maria Laurinda, há quem prefira a Net e quem chupe no dedo...
Eu cá voto em Cobras e Lagartos para melhor divertimento televisivo que alguma vez foi feito em qualquer parte do mundo.

Cavalgada Alucinante


Os últimos governos antes daquele que nos (des) governa passaram o tempo a paralisar-nos a esperança. Este, corta-nos as pernas e espezinha-nos os sonhos.
De bom, Portugal já só tem um clima também ele desregulado, uma gastronomia ainda genuína (até quando?) e um Povo (que para alguns deve ser renomeado como Sociedade Civil) que apesar de hipnotizado e manipulado pelos poderes, integra muitos elementos sensíveis e criativos, capazes de encontrar uma solução para o Estado a que chegámos.
Fala-se com amigos professores e é terrível o ponto de vista com que caracterizam quem (des) governa, fala-se com amigos que trabalham em organismos do Poder Central e nada se augura de bom, fala-se com amigos que trabalham na Saúde e o panorama é desolador.
Será que enlouqueceu tudo, ou quem tem as rédeas desta cavalgada alucinante nas mãos não sabe o que está a fazer?
Responda quem souber!
Texto e foto:LFM

quarta-feira, novembro 01, 2006

Caos


Hoje não me apetece escrever nada. A rua onde moro está um caos. São duas e meia da manhã e centenas de indivíduos ocupam o espaço público berrando, estou cansado de um dia de trabalho e não me posso deitar porque não consigo dormir com tanto barulho. A polícia esteve uma vez mais aqui, multou dezenas e dezenas de carros mal estacionados, mandou fechar o bar que origina tudo isto, mas as multidões continuam a beber e a berrar como se o ar, o sítio, o meu sono, tudo fosse deles. O caos é este insuportável barulho: permitido, tolerado. De repente, um largo de Lisboa tornou-se um pesadelo. Não consigo escrever mais nada.
Foto: Candeeiro de Coruche (LFM)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Fantasmas deste Tempo



O convívio é numa sociedade humana algo de muito sagrado. O descanso está ao mesmo nível, no meu entendimento das coisas do mundo. No entanto, há quem deturpe territórios e invada, em nome dessa convivência, o sossego de quem trabalha ou trabalhou uma vida inteira...
A questão que está em causa não é retirar aos que gostam de beber um copo e divertir-se com os amigos, o prazer de fruírem esses momentos, mas de impedir que centenas de pessoas alcoolizadas o façam em zonas residenciais.
Na rua onde moro (Praça da Armada), desde há dois meses, os moradores das casas pequenas e com quartos virados para o largo, doentes e idosos, na maioria dos casos, são impedidos de dormir, mesmo que as janelas tenham vidro duplo, pois há mais de uma década existe um bar, cujos frequentadores fazem ocupação abusiva da via pública, deixando atrás de si em cada noite vasta poluição sonora (gritos, palavrões) além da poluição visual (garrafas de vidro e latas de cerveja, copos de plástico) e poluição do ar (tabaco e urina).
Ao longo de mais de dez anos os moradores sofreram um autêntico inferno, recorrendo muitos deles à esquadra do Calvário, que em grande parte deu resposta positiva, solicitando aos clientes do estaminé que depois de consumirem bebidas alcoólicas conversavam alto na rua, o silêncio devido.
Qual não foi o nosso espanto quando constatámos que a ocupação do espaço público se ampliou, das anteriores dezenas para as actuais centenas de frequentadores, observáveis nas noites sem chuva de quinta para sexta, sexta para sábado e sábado para domingo.
Verdadeiramente agora o bar é na rua!
O estabelecimento abre uma porta adaptada a balcão de onde escorre a cerveja e outras bebidas alcoólicas, potenciando um negócio chorudo, e os convivas bebem, berram e abandonam o recinto por volta das 4 horas - 4 horas e 30 da madrugada, altura em que cessa a animação musical emitida em decibéis descontrolados, seguramente interditos, a partir da baiuca.
Permitimo-nos não entender como foi possível ter sido concedido alvará a um espaço sem condições (uma parte substancial dos utentes urina na via pública) higiénicas e de insonorização, pois o ruído da música ouve-se nas nossas residências. Mas o mais surpreendente é que o alvará exibido no interior do estabelecimento impede o seu funcionamento para lá das 2 horas da madrugada, o que por si, tendo em conta o comportamento dos frequentadores é gerador de muito constrangimento nos habitantes dos prédios onde o ruído é dolorosamente sentido.
Foi pois com enorme espanto que assistimos nas últimas semanas a um recrudescer da actividade, frequência e consequentes resultados, em termos de algazarra e produção anárquica de resíduos sólidos, tudo confirmável in loco a quem se disponha actuar, salvaguardando-nos desta ameaça a prerrogativas básicas, em termos de direitos humanos e da legislação em vigor, própria de um Estado de Direito.
Quem tem de cumprir horário de trabalho é impedido de repousar o suficiente. Quem é doente fica pior. Quem é velho pasma com este estado de coisas.
Não acreditamos que seja possível à luz da Lei do Ruído suceder o que sucintamente descrevemos poder suceder sem submissão pelas regras sociais e legislação do País, numa zona residencial problemática com pessoas hipertensas, com risco da própria vida, pela noite dentro com total desprezo pelos moradores e pela cidade, pois reconhecemos que estes indivíduos não amam a cidade, porque amar a cidade é ter o sentido cívico de saber que outras pessoas residem ali e merecem não ser violentadas da forma que referimos, com tanta brutalidade sonora e estética.
Efectivamente, o lixo que fica após cada investida das multidões de frequentadores da referida betesga - e utilizamos estes termos porque sentimos que estamos a ser massacrados, torturados - testemunha, para quem tiver de intervir, com a incontornável força da realidade, que esta gente despreza a Lisboa onde crescemos, trabalhamos, vivemos e onde gostaríamos de morrer com dignidade, com direito a viver os últimos anos de vida com outra qualidade que não esta balbúrdia intolerável.
Esperemos que seja providenciado, no sentido de ser comprovado e analisado, durante várias noites de fim-de-semana o caos descrito, agindo de forma a repôr o normal usufruto da cidadania amputada por uns quantos, que desrespeitam o bem-estar da comunidade, usurpando direitos e espaços que não lhes pertencem.
Entretanto, na Rua Prior do Crato nº 10 estaõ a ser efectuadas profundas obras de recuperação do espaço de uma antiga peixaria e o povo diz que vai ser um novo bar. Na Rampa das Necessidades perfilam-se obras ideênticas na antiga carvoaria do Albino, ex-Miratejo. Será que a população não tem direito a ser ouvida e um dia destes acordamos todos no meio de uma imensa depressão, enquanto bandos de gente que se realiza com uma cerveja e berros na via pública deambula delirando na madrugada, como fantasmas deste tempo, a perturbar o sono a que temos direito?
Texto: excertos de um abaixo assinado entregue às autoridades competentes.
Fotos:LFM (madrugada de 30 de Setembro de 2006, cerca da 1h 30m; uma hora depois, a frequência documentada era o triplo e prolongou-se até às 4 e meia)

domingo, outubro 22, 2006

Marcha de Alcântara


A meio da tarde deste domingo choveu bastante aqui onde moro. Mesmo assim saí para uma reunião na Sociedade Filarmónica Alunos Esperança. O tema era preparar a próxima marcha de Alcântara.
Falámos da Lisboa bairrista, operária, popular e da outra Lisboa, da aristocracia palaciana e dos jardins barrocos.
Mestres Gabão e João Calvário, Mário Rui Ferreira, José Francisco, Lurdes Ferreira, Ruben Gomes e Luís Santos foram os intervenientes aos quais me juntei.
À saída, verifiquei que o espaço está bonito e arrumado. E ao olhar para as imagens da marcha deste ano, cuja temática versou as fragatas e os fragateiros do Tejo fiquei emocionado pela beleza que conseguiram.
É bom pertencer a um bairro assim e poder colaborar todos os anos na discussão da marcha que participa nas festas da cidade cada vez com mais qualidade e com grande impacto pela criatividade e pela investigação prévia que fazem questão de desenvolver.
Obrigado pelo convite!
Texto e foto (Beco dos Contrabandistas, anos 80 do século XX): LFM