"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, fevereiro 05, 2005

Amina Alaoui e a desatenção da FNAC

Lembram-se dela em "Terra de Abrigo", da "Ronda dos Quatro Caminhos", cantando "Águia"?
É bom conhecer melhor aquela voz que vem do sul.
Há meses que requisitei na FNAC os discos, existentes no mercado discográfico, de Amina Alaoui. Nunca mais me disseram nada...
Esta semana fui à loja do Chaiado, a única onde ainda consigo entrar, fora do esquema mastodôntico dos asfixiantes Colombos e Fóruns Almada...
Porém, a arrumação caótica em que aquilo se começou a transformar nos últimos meses, deixou de me dar o prazer antigo de andar por ali e comprar qualquer coisa, disco ou livro.
Pois no meio da molhada, com os discos todos desarrumadíssimos, do género música da Austrália com Argélia, etc.perdida, lá estava a preciosidade "Musique Arabo-Andalouse du Maroc. Charnati. Amina Alaoui e Ahmed Piro et son orchestre". Mavioso e imperdível.
Quanto à explicação para este desaforo, um funcionário tentou.do mesmo modo labiríntico em que eles se arrumaram desarrumando, demonstrar-me que era possível acontecer tal falha, porque, das duas uma:
1-ou o pedido foi feito à editora e a editora envia discos sem avisar que os envia (pelos vistos ninguém controla nada);
2-ou o pedido foi feito internamente a outra loja e houve qualquer lapso(em que ficamos?) Ah! Mas agora é difícil de acontecer esta disparidade porque o sistema de resposta aos pedidos está a funcionar melhor, e bla bla.
Resposta minha: É melhor vir cá de vez em quando e vasculhar a molhada em vez de perder tempo a dar os dados pessoais, morada, telefone, etc. à espera da impressão que me permite ficar com um talão a comprovar que fiz o pedido, etc. uma burocracia inútil e idiota que a realidade, como se vê, contradiz.
A única coisa boa é que tenho a Amina para ouvir quantas vezes me apetecer.

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Em Montemor-o-Novo com honra e entusiasmo


Olha-se para o castelo de Montemor-o-Novo e sente-se que apesar da ruína das torres seculares há ali um testemunho de grandeza. Montemor é espaço de criatividade: ali nasceu a ideia de uma associação do património "invisível". Ali voltarei em 25 de Junho próximo para acompanhar aqueles que queiram fazer um passeio às aldrabas e batentes das portas da cidade.O convite para acompanhar os visitantes interessados veio do Município local e é claro que aceito com muita honra e entusiasmo.
(fotografia de Vanda Oliveira) Posted by Hello

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Um passeio e uma exposição


"A Aldraba-Associação do Espaço e Património Popular" vai começar a mexer. Dia 19 há um passeio até Viana do Alentejo e de 1 a 7 de Abril uma exposição num museu de Lisboa.
A partir de agora há um site e um mail da associação:
http://aaldraba.blogspot.com
aaldraba@hotmail.com
(fotografia de Vanda Oliveira, em Santa Justa, Couço)Posted by Hello

domingo, janeiro 30, 2005

Política de WC


Na pré-campanha, os tiros no pé de alguns e as rasteiras mostram que Dalida tinha razão: "Parole, parole"Não perderei muito tempo com este baile de máscaras, mas sempre vos digo que há políticos que, em vez de usarem guardanapo, deviam ter sempre um rolo de papel higiénico à mão...(foto de V. O.) Posted by Hello

Regresso às Memórias do Mané sobre a Musgueira


Dia 27 recebi pelo correio electrónico o texto que passo a transcrever, ao qual apenas fiz algumas correcções e que foi mais uma boa surpresa que não resisti a partilhar:
"Este bairro tinha melodia, pessoas simples, bonitas, lutadoras, inteligentes, pobres, com uma educação tenreira e ricas em solidariedade, luz, esperança e sabor de conquista. Desaguaram de todas as partes do pais à espera de uma vida melhor, mais equilibrada e próspera, nem sempre facilitada pela simples morada que tinham, mas não deixavam de lutar contra as marés de um rio que rodeia uma cidade escura e concentrada de desejos, com sons de tristeza, poesias e tradições que a definem com um brilho de emigrantes sonhadores, trovadores, artistas e conquistadores. Tentei sempre captar os sons, escutar os pedidos, os poemas, compreender as tristezas de uma música que acompanhava, dia e noite este bairro. Não se esperavam as noites de festa para fazer aclamar esta voz de pedido constante, de um amigo, familiar, amor ou mesmo saudade. Talvez seja por isso que este bairro foi escolhido como órfão do FADO. Não tenho a certeza, se alguma vez foi contemplado por um compositor, mas este bairro nunca deixou de contemplá-los, acreditando numa suavidade, apagando alguma tristeza e dificuldades. Enchia ruas, casas, pátios, festas, tascas e desgarradas enfeitadas pelas peixeiras e vendedoras da praça, sempre improvisada neste canto da cidade. Todos tentavam cantá-lo, como um alívio e grito à liberdade. Foi assim que aprendi a gostar mais deste bairro, desta gente, de Lisboa e do FADO."
Manuel José Graça da Silva (texto e foto)
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quarta-feira, janeiro 26, 2005

Manuel Lopes, Orlando Neves e J. O. Travanca Rego


Manuel Lopes, escritor cabo-verdiano, autor de "Os Flagelados do Vento Leste" deixou-nos neste final de Janeiro.Manuel Lopes é um autor genial, que narra, naquela obra, a luta do povo de Cabo Verde contra a seca. Foram as suas palavras que me proporcionaram a descoberta de um povo, por via desse livro imortal, partilhado com Cristina Martins, durante uma espécie de programa radiofónico, via telefone, que nos idos anos 80 inventei para animar essa minha amiga (cega) que na altura tinha feito uma operação a um descolamento de retina. Manuel Lopes serviu para apaziguar o sofrimento, fazendo-nos viajar até ao arquipélago da morna e da coladera...
J. O. Travanca Rego morreu em 2003. Devo-lhe a serena cordialidade que o levou a publicar uma página num jornal de Elvas com poemas meus, algum tempo antes de deixar esta terra. Com gratidão, lembro-o aqui:

UM LUGAR: TRÊS MOMENTOS

Aqui eu estive. A vida irrepetível...
Mesmo que eu volte, o tempo será outro!
-Não tenho abraço para unir dois ventos
para além da memória em que os retive.

OCORRÊNCIAS

Enquanto eu vivo na minha gota de vida,
o mar afunda mil navios e o ar
levanta a água com que a chuva
horas depois afundará o mundo
-Eis como é alta a Ignorância,
e vasto o que falta no que eu vivo!

2 poemas de J.O.Travanca-Rego, do livro "Hiatos", ed. Diferença, 1998.

Sobre Orlando Neves gostaria de acrescentar que foi presidente da primeira associação onde desempenhei tarefas directivas.Nessa qualidade o conheci, desvendando poemas seus em livros e na revista que tinha o nome da associação - "Sol XXI".
Dele recordo correspondência afectuosa, a convivência simpática num encontro de poetas em Tondela, a feira do livro na sua casa de Carcavelos, em Março de 1997, onde comprei um dicionário da língua portuguesa, a categoria humana e literária.
Até sempre, amigos poetas, companheiros de sonho!!!
(fotografia de Vanda Oliveira, Verão 2004, Rua Garrett)

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terça-feira, janeiro 25, 2005

Em Memória de Orlando Neves




A MANHÃ

Este claro dia retira às coisas o lado
espectral da sombra e interrompe o mistério.
A esta hora límpida não se vêem as dores
e o sol ofusca as fendas e as feridas,

como invisível e súbita cura.Tudo é limpo
e iluminado, esquecido o véu da matéria
e o traço irregular das formas. O hábito
da luz adormece a morte e torna supérfluo

o apelo aos deuses. São as coisas, por um
breve segundo, apenas brilho, clarão, saúde,
ausência de enigma, construídas pelo olhar,

vivas ao toque das mãos, macias, únicas,
sem defeito ou origem. A este claro fulgor
a fictícia aparência submerge o tempo.

A CASA – IV

Agora que parto, a casa muda. Seca-se
o vento na respiração dos meus braços,
a poeira da água oculta os reflexos.
Cessado o ruído dos olhos, a noite

endurece. Não há paisagem na dor,
treme o raro peso da calma, balanço
da partida. Sobre o sentir se celebra
o ofício de ter a vida existido.

Mudou o mundo. Ficou o tempo sendo
menos nada, menos eterno ou mais íntimo
da casa, menos intemerato o temor,

o susto de ser. Quando, de além das paredes,
vem o cortejo das sombras, a sombra avança,
lento lábio mudo da extinta luz.

2 poemas do livro "Decomposição-A Casa"(1992), de Orlando Neves, poeta nascido em Portalegre, em 11 de Setembro de 1935 e falecido ontem.
(fotografia de Vanda Oliveira) Posted by Hello