"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, janeiro 30, 2005

Regresso às Memórias do Mané sobre a Musgueira


Dia 27 recebi pelo correio electrónico o texto que passo a transcrever, ao qual apenas fiz algumas correcções e que foi mais uma boa surpresa que não resisti a partilhar:
"Este bairro tinha melodia, pessoas simples, bonitas, lutadoras, inteligentes, pobres, com uma educação tenreira e ricas em solidariedade, luz, esperança e sabor de conquista. Desaguaram de todas as partes do pais à espera de uma vida melhor, mais equilibrada e próspera, nem sempre facilitada pela simples morada que tinham, mas não deixavam de lutar contra as marés de um rio que rodeia uma cidade escura e concentrada de desejos, com sons de tristeza, poesias e tradições que a definem com um brilho de emigrantes sonhadores, trovadores, artistas e conquistadores. Tentei sempre captar os sons, escutar os pedidos, os poemas, compreender as tristezas de uma música que acompanhava, dia e noite este bairro. Não se esperavam as noites de festa para fazer aclamar esta voz de pedido constante, de um amigo, familiar, amor ou mesmo saudade. Talvez seja por isso que este bairro foi escolhido como órfão do FADO. Não tenho a certeza, se alguma vez foi contemplado por um compositor, mas este bairro nunca deixou de contemplá-los, acreditando numa suavidade, apagando alguma tristeza e dificuldades. Enchia ruas, casas, pátios, festas, tascas e desgarradas enfeitadas pelas peixeiras e vendedoras da praça, sempre improvisada neste canto da cidade. Todos tentavam cantá-lo, como um alívio e grito à liberdade. Foi assim que aprendi a gostar mais deste bairro, desta gente, de Lisboa e do FADO."
Manuel José Graça da Silva (texto e foto)
Posted by Hello

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